Problema insolúvel
sem Roustaing
Já nos brindou com três excelentes
volumes a nossa jovem colega "Estudos Psíquicos Editora",
enriquecendo e embelezando a biblioteca espírita na "última flor do Lácio
inculta e bela"; "Resumo da Doutrina Espírita", de Gustavo
Geley, traduzida pelo nosso confrade Isidoro Duarte Santos; "Nos Umbrais
do Além" de' Sir William Barrett, traduzido pelo mesmo confrade, e
"Luz no Caminho", ainda desse operoso e culto homem de letras.
Este último volume, de 346 páginas,
lindamente impresso, é uma série de estudos evangélicos em oitenta e dois capítulos
que merecem atenta meditação de todo cristão. Não pretendemos tratar aqui de
todos os ensinos que colhemos dessa obra, o que seria tarefa demasiado longa e
acima das nossas forças e do espaço de que podemos dispor. Vamos somente
analisar uma dificuldade que o ilustre Autor teve que enfrentar e que o lançou
fora da Escola Kardeciana, nos braços de Emmanuel Swedenborg.
No capítulo 73º o Autor trata da
Ressurreição e diz: “J. B. Roustaing
resolve o caso com a hipótese do
corpo fluídico, tão amplamente apresentada no seu livro "Os Quatro
Evangelhos" e que nos abstemos de analisar, para não lançar confusão e
dúvida no ânimo do leitor".
A fim de evitar a confusão no leitor
ignorante que não possa decidir por si mesmo se os ensinos
de Roustaing estão certos ou errados o nosso brilhante doutrinador foge dessa
obra monumental e refugia-se em Du Ciel
et de l'Enfer de Emmanuel Swedenborg, dizendo textualmente;
“Quanto
ao resto, a ressurreição de Jesus foi igual à ressurreição de todos os espíritos
que têm vindo à Terra. A morte é a
ressurreição. O corpo baixa à sepultura para alimento de vermes e de plantas e
se transforma em pó. O espírito evola-se no espaço infinito, sua verdadeira
morada, onde continua seu progresso individual.
“Ressuscitar é volver à vida. Jesus volveu
à vida espiritual, abandonando o mundo físico, aonde baixou para
dar exemplos de fraternidade e bondade, de amor e renúncia".
Depois conclui o capítulo:
“Acreditamos
na ressurreição dos mortos segundo o ponto de vista aqui apresentado isto é, na
ressurreição do espírito. Os mortos somos
nós, enquanto estivermos neste planeta de provação e expiação, em que as
virtudes cristãs são a única bagagem que nos acompanhará na eternidade".
Receando confusão, o Autor fugiu da
única explicação lógica e nos lançou contra a Doutrina espírita de Kardec e
Roustaing, na mais terrível confusão, pois que a Doutrina-de Swedenborg, que
ele nos apresenta, já está refutada pelos Espíritos e por todos os escritores
espíritas.
Kardec ensina que ressurreição é a
reencarnação, o reaparecimento num corpo de carne e ossos:
“A
reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome doe ressurreição...
" Designavam pelo termo ressurreição
o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. (“O Evangelho
segundo o Espiritismo", cap. VI, § 4)
Para conhecimento da Doutrina
espírita sobre o sentido da palavra ressurreição,
convém ler-se todo o capítulo quarto de "O Evangelho segundo o
Espiritismo". É justamente o contrário da doutrina de Swedenborg esposada
no livro do nosso confrade Isidoro Duarte Santos: para Kardec ressurreição é reencarnação; para Swedenborg e Isidoro Duarte Santos ressurreição é desencarnação. '
Querendo evitar confusão para o
leitor, o nosso brilhante confrade lusitano lançou-o na mais
tremenda das confusões, negando um princípio de Doutrina ensinado por Allan
Kardec e
aceito por todos os estudiosos e fazendo-nos voltar à nevoenta doutrina de
Emmanuel Swedenborg, já abandonada por obscura, há mais de cem anos.
O velho dogma da ressurreição,
ensinado pelos judeus, aceito pelos católicos romanos, pelos gregos ortodoxos e
pelos protestantes, é explicado pelos espíritas como sinônimo de reencarnação e
não de desencarnação, como pretendeu Swedenborg e agora nos diz o ilustre Autor
lisboeta.
Quanto ao caso especial da
ressurreição de Jesus, com o mesmo corpo, comendo e bebendo depois da morte,
existe perfeita concordância entre os relatos dos evangelistas e as explicações
dadas pelos Espíritos a Roustaing e não temos outra explicação satisfatória:
temos necessidade de aceitar a
explicação de Revelação da Revelação por falta de outra. Esta
"revelação", de que Jesus foi um agênere e não um Espírito encarnado,
projeta luz em muitos textos evangélicos que não podem ser compreendidos sem
essa "hipótese": nascimento sem união sexual, desaparecimentos inexplicáveis
de Jesus, desaparecimento do "cadáver" no túmulo; reaparecimento em
corpo de aparência inteiramente material. Portanto, não há meios de evitar a
obra de Roustaing, desde que se queira realmente estudar o Evangelho. Ao
espírita "científico" que se contenta com os fenômenos, não interessa
o estudo do Evangelho; mas ao "religioso" que queira ensinar
Evangelho, como é o caso no livro Luz no
Caminho, a aceitação da obra de Roustaing se impõe, sob pena de lançar o
leitor na mais tremenda confusão.
Não se depreenda do que vimos dizendo
que o livro seja um repositório de erros doutrinários. Muito ao contrário: é um
livro excelente, projeta muita luz sobre o caminho, está redigido com apuro,
revisão perfeita, apresentação elegante. É obra que deve figurar em todas as
bibliotecas de estudiosos da Doutrina. Nossa finalidade, ao apresentarmos esse
desvio é muito diferente de depreciar uma obra que faz honra ao Autor; queremos
somente defender a obra de Roustaing, demonstrar que sem a Revelação da
Revelação o espírita não pode estudar o Evangelho, porque há pontos que só em
Roustaing ficaram explicados.
O livro do nosso confrade de além
mar é de muita edificação moral e devemos aconselhar-lhe o estudo a todos os
nossos irmãos de Doutrina. Isidoro Duarte Santos é Autor de pulso, sobejamente
conhecido e apreciado não só no mundo de fala lusitana, mas também entre os
castelhanos, porque colabora nas revistas espíritas do mundo espanhol. Antigo
Diretor da Revista de Espiritismo e
depois Diretor de Estudos Psíquicos, fundador e Diretor da Estudos Psíquicos Editora, Isidoro Duarte Santos é um dos nomes
mais conhecidos e apreciados nas letras espíritas, cujos escritos merecem nosso
máximo respeito.
por LINO TELES / Ismael gomes Braga
Reformador
(FEB) Fev 1948
Muito interessante essa observação sobre ressurreição e reencarnação e não ressurreição e desencarnação.
ResponderExcluirAproveito para divulgar meu livro "Estudo comparativo entre a obra de Roustaing e as obras de Allan Kardec". O endereço eletrônico é:
https://www.clubedeautores.com.br/book/201900--Estudo_comparativo_entre_a_obra_de_Roustaing_e_as_obras_de_Allan_Kardec?topic=religiao#.Wam4zWe5dhg