domingo, 2 de setembro de 2012

Tic Tac



Excertos do livro...

‘Contribuições para o Espiritismo’

Eu não Creio...

            O analfabeto, ouvindo dizer que a terra é redonda e que os nossos antípodas andam de cabeça para baixo, sorri desconfiado e declara: Eu não Creio!'

            O cego de nascença, se lhe falam das maravilhas da televisão, retrai-se indiferente e murmura: Eu não creio!

            O surdo-mudo, que nunca pode aprender a distinguir um som de um ruído, ao afirmar se lhe que o aparelho de rádio ouve um cochicho à distância de centenas de léguas, dá uma gargalhada e sentencia: Eu não creio!

            "Eu não creio" é expressão ingênua e defensável na boca do ignorante, do surdo e do cego para os fenômenos que só podem estar ao alcance da inteligência e dos órgãos dos sentidos perfeitos.

            Ilustres sabichões - o Espiritismo possui uma ciência que está desafiando a vossa curiosidade. Estudai lhe os fenômenos, pois, enquanto não o fizerdes, se continuais a dizer simplesmente "- eu não creio!",  a vossa negação tem para nós outros o mesmo valor do sorriso do analfabeto, da indiferença do cego, da gargalhada do surdo-mudo.

Meditações...

            Enquanto não tive conhecimento da alma despreocupava-me do destino a que os impulsos de minha índole me conduzissem. Agora, porém, que o Espiritismo me revelou a sua existência e, o que é mais, a sua sobrevivência, apavora-me a visão do futuro, quando me sinto ainda incapaz de refrear inteiramente esses mesmos impulsos.

*

            Mais de uma vez me tem falado algum amigo ateísta:

            - Como deve você se sentir feliz no Espiritismo. Crente de que os seus mortos continuam a viver, e contando também você com a sua própria ressurreição em outro mundo, isso lhe há de assegurar um conforto e uma tranquilidade invejáveis.

            Não deixo nunca, porém, de contraditar essas razões, replicando:

            - Ao contrário, agora, com a certeza da sobrevivência e da reencarnação, inquieto-me muito mais do que ao tempo em que era eu também ateísta. Então, estava eu convicto de que, num dia não muito remoto, ainda que esse dia marcasse a idade do octogenário, tudo estaria acabado. E esse "tudo" é bem a vida de desenganos e desilusões que conhecemos. Mas, sabendo, como sei, sem a menor sombra de dúvida, que um milênio nada mais é do que um segundo na trajetória eterna do espírito, quanto me preocupa o andamento dos ponteiros desse relógio!

            Morrer-viver, viver-morrer, morrer-viver". Eis o ’tic tac’ que não me sai dos ouvidos.

  
por
Alexandre Dias
in  ‘O Mistério das Sombras’ ( Ed. FEB - 1942)






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