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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Sursum
corda! (corações
ao alto!)
Repetidas mensagens vêm, como sinal
claro de que os tempos chegaram, concitar-nos ao cumprimento do dever.
Contínuos apelos, particularmente
aos que no estudo e prática dos Evangelhos buscam a elevação, parece quererem fazer
deveras caminhar as criaturas sinceras, para que estas façam, de seu turno,
avançar os que nada pensam ou só com a vida material se ocupam.
Realmente, ocasião é já de
alargarmos passo na via infinita do Progresso. Releva aquecermo-nos ao sol
vivificante da Verdade, tão imprescindível à alma, como ao corpo o são estes sois
que dardejam nas alturas.
Por muito esforçados, trabalhadores
e devotados que sejamos, não temos o direito de parar; corre-nos, ao contrario,
obrigação de uma atividade cada vez maior, de forma que nos tornemos verdadeira
escola, onde se instruam quantos, voejando pelo espaço, de nós se abeirarem.
Sus! é o grito que neste sentido nos
traz o ditado a seguir:
“A luz e o amor à verdade sejam contigo.
“O frequente desacato ao direito tem
dado lugar a fraudes muita vez perigosas, sementeira de obsessões medonhas, que
arrastam homens bem intencionados às maiores misérias morais.
“Conquanto não se verifique ainda no
teu país uma classe de falanges afeitas a bárbaros crimes; existe, entretanto,
um sem número de almas infelizes, que procuram, por todos os meios, o bem estar
próprio, custe ele muito embora alheias lagrimas.
“Temos particularmente feito a
conversão de tais espíritos; porém, para que o nosso serviço seja ampliado e,
sobretudo, possa refletir no povo, muito e muito nos resta ainda por fazer.
“A experiência e observação tem
visto que, neste mundinho, não são os capazes os aproveitados para certos
misteres, senão sim os que dispõem de empenhos ou fortuna. Tudo
isto prova claramente o atraso e infelicidade de um povo que poderia ser
grande, se fosse pelo menos dedicado servidor.
“Dentro da lei, empregamos todas as
nossas forças para chamar tais imponderados à razão; porém o raro elemento em
forma sobre a terra mal nos permite ir além.
“Assim, é preciso aumentar esse
contingente, recrutando-o em toda parte, atento como, à semelhança do que
passou no sabido festim bíblico, os convidados não compareceram.
“A luz e a verdade aí se acham; mas
os cegos, que vivem nas trevas do próprio orgulho e pretensão, escusam-se.
Necessário se faz renovar os chamados.
“Os trabalhos a realizar agora são
os de esclarecimento da humanidade. É para isso indispensável um esforço da
parte de todos os elucidados, no sentido de ensinarem a uns, a outros
desmascararem mesmo. Só então ficará livre a passagem aos que de fato queiram
elevar-se.
“Bastante já teríamos alcançado, se
os que dizem crêr em Deus buscassem a lógica que lhes proporcionasse uma fé
raciocinada. O estacionamento é maior mal do que se pode imaginar
“Não dá o Pai provas exuberantes da
ação contínua de todas as coisas? Não marulham as águas? Não crescem as árvores?
Não fecundam os animais? Tudo Isto não mostra a vida em todo o esplendor, por
toda a parte? Porque há de ser assim tão endurecido o homem, a extremo de não
reconhecer a necessidade de evolucionar também?
“Alguém neste orbe haverá senhor da
ciência absoluta, com motivo portanto para entender que não mais lhe importa
andar? Ou haverá quem julgue ser a indolência cousa meritoria? Acaso os espíritas
que mais se aproximam da verdade, podem negar o sem limite da evolução? Só se
acompanham os que marcham. Os que, mui repousados, ficam impassíveis,
tornando-se inúteis, não vêm que assim, dentro de suas casas, os maus e ignaros
acham guarida?
“Urge despertar para a luz e o amor.
“Espíritas, depositários de inestimáveis
tesouros! porque imitais aqueles outros depositários dos talentos, que, segundo
reza a parábola, sob pretexto de bem guardá-los, o que fizeram foi enterrá-los,
em vez de multiplicá-los?
“A vós, espíritas, a vós, que vos
pretendeis tocados da divina luz, a vós, repito, eu me dirijo neste momento,
apontando a situação dos habitantes da Terra, para que desperteis do marasmo em
que vos achais, dando crédito a um fatalismo mal compreendido e de que resulta
não cuidardes nem de vós mesmos. Perigo é e crime, a um tempo, cruzardes desta
maneira os braços.
“Empregar mal as faculdades, ou não
desenvolvê-las - o que tanto monta como fugir ao resgate do passado - constitui falta grave, a cuja reparação ninguém se isentará.
Em verdade vos digo: muito vos será
pedido, porque muito vos foi dado e oferecido.
“Eis aqui está como lutamos nós, a
quem chamais Protetores: quais milionários cercados de famintos e sem lhes
podermos mitigar a fome, por não terem a coragem de vir buscar o sustento.
E assim é que, neste planeta,
Império do Erro, ainda jaz o Direito preterido e conculcado; e cobre-se de luxo o mau; e morre de fome o
justo.
“A uma só coisa tudo isto se deve, à
maior de todas as desgraças, a mais deplorável de todas as misérias - a indigência
moral!
“Adeus, meu filho; a luz e o amor à
verdade fiquem contigo. – José.”
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