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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
A humildade
Já tivemos ocasião de nos referir à
grande matadura da humanidade, que é o orgulho.
De fato, se rememorarmos nossos
dissabores e fizermos de juiz sereno, meticuloso, imparcial, dificilmente
surgirá outra coisa a explicá-los.
Um estudo retrospectivo dos povos,
assaz elucida o ponto; e, se havemos ser humildes quanto o foi Jesus, importa -
que o trabalho é vasto! - nos esforcemos desde o presente instante. Com a
lapidação, fica menor o diamante; mas é quando mais preço tem.
Havendo nossa primeira queda por
semente o orgulho, em encarnações subsequentes sofremos reveses de toda sorte,
até quitarmos toda a infelicidade, maior ou menor, que motivamos. Daí a
diversidade de posições, tão mal compreendida geralmente. Que
faz o cretino, por exemplo? Expia o mau uso da inteligência. Que faz o mendigo?
Expia o mau uso de passada riqueza. O perseguido? Paga as violências de
outrora. Outros casos, entretanto, de humilhação ou miséria preparo são as
provas de mais alta responsabilidade. Assim, ninguém neste mundo é senão aquilo
que mereceu ou pediu. Não podemos saber,
através da carne, qual de nós é maior. “A nobreza do sangue é pó; a da alma... luz”. Cego, pois, o que se lamenta e revolta; miserando, miserando o que
desdenha e humilha.
A seguinte comunicação, embora toda
particular, muito orienta o leitor, principalmente o que sabe das vicissitudes
e dores por que temos passado.
“Paz
de Maria seja com o meu filho.
“A doutrina espirita, precisa mais
de estudiosos que de espectadores.
“Aos primeiros cabem grandes
deveres, sérios deveres; dos segundos é anódino o papel.
“Vejo
bem claro, o teu desejo de aprender; observo atentamente o teu anelo, por uma
vida em que possas dar-te à conquista do conhecimento das coisas e dos seres.
Tudo isso vejo melhor que o meu filho, que sente não poder estudar à saciedade
este ou aquele assunto, por causa das provações mal chegadas ainda a termo.
Porém, as mais das vezes noto que é o meu filho quem o retarda, a profundo
pesar de inúmeros trabalhadores que ansiosos querem pagar uma dívida de gratidão.
“O
meu bom e carinhoso amigo tem vacilações e dá entrada ainda a infelizes,
mostrando, nas melhores ocasiões, seus restinhos de altivez. É prejudicial.
“Ora, classifico-te entre os
estudiosos; e venho dizer-te porque te falece tempo para os estudos, que tanta
felicidade proporcionarão a ti mais aos teus amigos, confrades e discípulos.
“Meu
querido filho; não te incomodes por enquanto com os teus adversários, visto
como os inimigos da doutrina sempre viveram da ignorância e atraso da
humanidade, usando em todo reencontro armas condenadas pelo Pai.
“Diferente aparelhamento, porém,
pedem os fins de tão grande prélio.
“Quando dois povos se empenham em
luta, vence aquele que melhor tática e melhores armas possui. Não vencerá o
mais compacto exército, senão o melhor armado e de mais luz servido.
“O
espírita, portanto, não deve empregar as mesmas armas que os seus
hostilizadores, uma vez que as possui melhores.
“A tudo isto deve acrescentar que,
no combate, muitos sucumbirão; outros perderão terreno: porém, aquele que
perseverar, esse cantará vitória.
“Nos desígnios do Criador, o sol
nasce para todos; cumpre então que os investigadores não hesitem e somente
empreguem os meios aconselhados.
“Os pequenos serão elevados, e os
orgulhosos rebaixados.
“O
que já alcançaste com as tuas provas e a paulatina humildade, podia bastar para
que fosseis um dos encarregados dessa obra; mas o pouco de altivez que ainda te
resta poderá fazer-te ver nessa incumbência o que não verias humilde.
“Creio
em ti como no dia de amanhã; porém, mais do que tu, eu tenho a experiência
adquirida através de acerbos transes, que muitas vezes me fizeram sucumbir, até
que pudesse tomar a responsabilidade da missão que me foi confiada.
“Eras
o meu filho desventurado, referto de soberba; hoje, és meu filho muito amado,
modesto, mas nutante alguma coisa para te empenhares na grande peleja em prol
da verdade .
“Meu desejo é ver-te forte, firme e
pronto a executar as ordens baixadas do Alto, como recebes as inspirações e os
conselhos; porém, às vezes, falta-te a mansidão imprescindível, o que sentimos
em nosso meio como se fora uma repulsa aos nossos ensinos, às lições a ti
confiadas.
“Quero,
desta feita, trazer-te muita luz e com ela o remanso para os teus estudos. Para
que isto se dê, mister se faz - aconteça o que acontecer, falem o que falarem,
insultem mesmo as tuas crença!!-que não balances, não crimines, não repilas
fora do amor e da lei.
“Se ainda quiserem levar tua camisa,
além do pão que dás - que a levem; mas, por amor de mim, por amor de Deus, sofre
com paciência e serenidade. Sê digno em tua fé.
“Trabalha em tua profissão, palestra
com os teus amigos, e espera ainda a calma conveniente às cogitações; mas
recebe em teu coração todo o meu ser, porque assim fazendo uma vez, farás
sempre, serás sempre humilde e elevar-te-ás tanto quanto precisamos para
fazer de ti um bom espírita, apto a favorecer-nos grandemente na tarefa de
altearmos a luz para ser de todos vista.
“Terás a conversão de um inimigo, a
que poderias ter-te furtado, se não abrisses para ele caminho até junto de ti
pela porta da altivez.
“Quero
ser bem clara e sobretudo bem compreendida, pois, muito mais do que desejas,
temos necessidade de te ver tranquilo.
“Demonstro assim quanto temos que
fazer e quanto te pedimos, se bem que às mancheias te será retribuído.
“Dentre os teus defeitos o mais
nocivo é a citada altivez. Por isso, a reiteradas provanças tens sido
submetido. Hão frutificado bastante, não há negar; mas queremos absoluta
certeza de ter-te tão rasteiro como esclarecido.
“A tua humildade determinará
extraordinária assistência em todos os teus atos, de modo que tuas palavras
repercutam proficuamente em todos os corações.
“Vais melhorar um pouco, a fim de
que possas converter o teu inimigo. Espero não ser preciso procrastinar, ou
substituí-la.
“Agradeço
o teu delicado acolhimento e as tuas preces ungidas de sentimento. Amando-te em
extremo, quero fazer-te progredir tanto quanto permitir o Pai, para que, ao
voltares a nosso seio, só tenhas de regressar em missão e nunca mais por
expiação.”
**
Bom ensinamento sobre duração de
provas esse ditado nos traz. Como se viu, prometendo nosso celeste Mentor a
conversão de um infeliz, que ao nosso lado agia, observa-nos que o nosso entorno
era o seu ponto de apoio; depois, que desejava não viesse
a ser preciso substitui-lo, isto é, que nos tornássemos humilde bastante para
evitar a repetição da prova.
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