Fora da Caridade não há Salvação!
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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Amor à
verdade
Como
abraçamos o espiritismo
Antes de entrarmos em matéria de
doutrina propriamente dita, parece conveniente fazer ver ao leitor como abraçamos
o Espiritismo.
Com intuição vaga de que um Ser
Supremo presidia aos nossos destinos, tornou-se nos constante e viva a
preocupação de o pesquisar através de sua gloriosa obra.
Nossa alma, então pobre de fé,
vacilava entre a continuação da vida no Além e o seu ponto final com a matéria.
Estudávamos medicina.
Dissecando, no anfiteatro, os cadáveres
da mísera gente que nos hospitais morria, meditávamos sobre a desigualdade do
viver terreno e repugnava-nos então a ideia de Deus, que, a existir, não
poderia deixar de ser bom, justo e misericordioso.
Ao passo que entrávamos pela fisiologia,
que esquadrinhávamos o sistema nervoso bem como as localizações cerebrais, só a
matéria aos nossos olhos se impunha, exclusiva e dominadora.
Tudo é matéria, entendíamos, que se
transforma de corpo em corpo, de estado em estado, circulando perpetuamente.
Sentíamo-nos, por momentos,
satisfeito.
Entregue aos estudos, olvidávamos a ideia
da existência de Deus, para levar a vida comum, vulgar, isto é, cheia de prazer
e futilidades.
Era, porém, fatal para nós a
indagação do problema do ser e do destino.
Recapitulávamos transatas leituras,
onde se deparava o celebre aforisma de Virchow: Omne cellula a cellula; e em linguagem repetíamos: toda célula
provém de outra célula. Porém, donde veio a primeira? Sim; conhecemos os seus
processos de reprodução, mas qual a sua origem? Donde veio?
Líamos e relíamos a fisiologia do sistema
nervoso, meditávamos sobre sua organização, localizações, forma complicada do cérebro,
cheio de dobras ou circunvoluções; verificávamos que se conheciam localizações
para tudo, porém que se desconhecia a localização da inteligência, do
pensamento. Ao mesmo tempo, notávamos que certo número de circunvoluções não
tinha funções conhecidas.
De novo voltávamos às deixadas
cogitações, víamos que faltava alguma coisa para completar a obra e que, se
pudesse descobrir-se a alma, estaria resolvida em parte a questão da existência
de Deus.
Dobaram alguns anos; já nas
proximidades de concluirmos o curso médico, lutando, como sempre lutamos, sem
atinarmos com a razão de ser das nossas contrariedades, uma tarde, só,
meditando sobre as dores amargadas, fomos dar conosco a fazer um apelo ao Criador.
Partia de nosso peito, sem nos apercebermos, uma prece, quase fervorosa,
pedindo
que nos fizesse entrever a existência de Deus e convencer-nos da sobrevivência
da alma.
Valeu-nos o expediente; e pouco
tempo depois convidaram-nos alguns amigos a tentar uma experiência com as
chamadas “mesas girantes”. Acedemos.
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