sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Apologia do Egoísmo

Constantino I -afresco


Apologia
do Egoísmo
           
            Durante séculos, após o advento do Cristo, os homens têm sido aconselhados a seguirem com devoção as lições evangélicas. Entretanto, os que se haviam inculcado herdeiros dos primitivos cristãos, falharam, acomodando-se a exigências materiais, transigindo com os poderosos, a eles se juntando, até se "constantinizarem[1]".

            Data daí, isto é, de sua "constantinização", o início de sua queda como orientadores do pensamento cristão. Depois, outras renúncias, o estabelecimento da simonia, as perseguições aos não-cristãos, os tremendos crimes da Idade Média, responsável pelo rápido desenvolvimento das ideias materialistas que irromperam no século XIX, gerando o ateísmo que empobreceu gerações e gerações, na Europa e na América.

            Os grandes ataques sofridos pela religião, da parte de destacados líderes do pensamento humano, provam que esta perdera seu prestígio espiritual. Antes, temida por causa das violências que seus representantes praticavam em nome de Deus, passou a ser motejada sem reservas. Os frades negros da Inquisição haviam sido, afinal, substituídos por manipanços[2] aparentemente inofensivos, porque, se respeitavam a claridade, sabiam agir na sombra, à socapa... Então, a "água tofana[3]" e a "cadaverina[4]" faziam prodígios. Os clarões das fogueiras inquisitoriais não serviram para iluminar o caminho da Humanidade: apenas lhe emprestavam aspectos sombrios, pois que o fumo dos corpos calcinados enegreceram os céus, como já sucedera quando do sacrifício de Jesus: "e, escurecendo-se o Sol, houve trevas sobre toda a Terra" ...

            O individualismo que corrói a sociedade moderna é fruto da irreligiosidade do homem. Descrente dos dogmas, não mais acreditando nas ameaças de purgatórios e infernos, o homem tendeu para o cepticismo, preferindo as atitudes artificiais, que lhe permitiam dar de ombros às parlendas[5] papalinas, à verdadeira compreensão do Cristianismo do Cristo. Nesse comenos, Allan Kardec recebia o sinal da missão que haveria de realizar, para felicidade dos povos da Terra.

            E, codificado o Espiritismo, que é o Cristianismo puro redivivo, a Humanidade nele está reencontrando a trilha da felicidade, porque não tem de prestar obediência a sacerdotes, não tem de se curvar diante de imagens, não tem de aceitar a obscuridade de dogmas inexplicáveis perante a razão. Sabe que "o moderno espiritualismo não vem revogar as leis diretoras da evolução coletiva", conforme explica Emmanuel, e que "as suas concepções avançadas representam um surto evolutivo da Humanidade, uma época de mais compreensão dos problemas da vida, sem oferecer talismãs ou artes mágicas, com a pretensão de derrogar os estatutos da Natureza. Desvenda ao homem um fragmento dos véus que encobrem o destino do ser imortal e ensina-lhe que a luta é o veículo do seu progresso e da sua redenção."

    
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Fev 1950


[1] Refere-se a Constantino I - (272 - 337), que tornou o catolicismo a religião do estado romano.
[2] Feitiço, mandinga.
[3] Agua Tofana é um veneno, provavelmente contendo arsênico. Tem seu nome derivado de Teofanía d'Adamo que viveu na Sicília nos idos de 1630.
[4] É uma molécula produzida pela hidrólise proteica durante a putrefação de tecidos orgânicos de corpos em decomposição. A cadaverina é um dos principais elementos responsáveis pelo odor nauseabundo dos cadáveres.
[5] Parlendas são versinhos com temática infantil que são recitados em brincadeiras de crianças. Observações do Blog.
            

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