Constantino I -afresco
Apologia
do Egoísmo
Durante séculos, após o advento do
Cristo, os homens têm sido aconselhados a seguirem com devoção as lições
evangélicas. Entretanto, os que se haviam inculcado herdeiros dos primitivos
cristãos, falharam, acomodando-se a exigências materiais, transigindo com os
poderosos, a eles se juntando, até se "constantinizarem[1]".
Data daí, isto é, de sua
"constantinização", o início de sua queda como orientadores do
pensamento cristão. Depois, outras renúncias, o estabelecimento da simonia, as
perseguições aos não-cristãos, os tremendos crimes da Idade Média, responsável
pelo rápido desenvolvimento das ideias materialistas que irromperam no século
XIX, gerando o ateísmo que empobreceu gerações e gerações, na Europa e na
América.
Os grandes ataques sofridos pela
religião, da parte de destacados líderes do pensamento humano, provam que esta
perdera seu prestígio espiritual. Antes, temida por causa das violências que
seus representantes praticavam em nome de Deus, passou a ser motejada sem reservas.
Os frades negros da Inquisição haviam sido, afinal, substituídos por manipanços[2]
aparentemente inofensivos, porque, se respeitavam a claridade, sabiam agir na
sombra, à socapa... Então, a "água tofana[3]"
e a "cadaverina[4]"
faziam prodígios. Os clarões das fogueiras inquisitoriais não serviram para
iluminar o caminho da Humanidade: apenas lhe emprestavam aspectos sombrios,
pois que o fumo dos corpos calcinados enegreceram os céus, como já sucedera
quando do sacrifício de Jesus: "e, escurecendo-se o Sol, houve trevas sobre
toda a Terra" ...
O individualismo que corrói a
sociedade moderna é fruto da irreligiosidade do homem. Descrente dos dogmas,
não mais acreditando nas ameaças de purgatórios e infernos, o homem tendeu para
o cepticismo, preferindo as atitudes artificiais, que lhe permitiam dar de
ombros às parlendas[5]
papalinas, à verdadeira compreensão do Cristianismo do Cristo. Nesse comenos,
Allan Kardec recebia o sinal da missão que haveria de realizar, para felicidade
dos povos da Terra.
E, codificado o Espiritismo, que é o
Cristianismo puro redivivo, a Humanidade nele está reencontrando a trilha da
felicidade, porque não tem de prestar obediência a sacerdotes, não tem de se
curvar diante de imagens, não tem de aceitar a obscuridade de dogmas inexplicáveis
perante a razão. Sabe que "o moderno espiritualismo não vem revogar as
leis diretoras da evolução coletiva", conforme explica Emmanuel, e que
"as suas concepções avançadas representam um surto evolutivo da
Humanidade, uma época de mais compreensão
dos problemas da vida, sem oferecer talismãs ou artes mágicas, com a pretensão
de derrogar os estatutos da Natureza. Desvenda ao homem um fragmento dos véus
que encobrem o destino do ser imortal e ensina-lhe que a luta é o veículo do
seu progresso e da sua redenção."
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Fev 1950
[1]
Refere-se a Constantino I - (272 - 337), que tornou o catolicismo a religião do
estado romano.
[2] Feitiço,
mandinga.
[3] Agua
Tofana é um veneno, provavelmente contendo arsênico. Tem seu nome derivado de Teofanía
d'Adamo que viveu na Sicília nos idos de 1630.
[4] É uma
molécula produzida pela hidrólise proteica durante a putrefação de tecidos
orgânicos de corpos em decomposição. A cadaverina é um dos principais elementos
responsáveis pelo odor nauseabundo dos cadáveres.
[5] Parlendas
são versinhos com temática infantil que são recitados em brincadeiras de
crianças. Observações do Blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário