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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Passados dias, pensamos: se não
houve logro e as almas se serviram da mesa para respostas inteligentes, isso
não constitui privilégio de ninguém e, tomadas as necessárias cautelas, também
a nós nos atenderão. De fato, logo no primeiro ensaio, obtivemos, com surpresa,
fenômenos de levitação e satisfatórias respostas a quanto desejamos saber.
Com regularidade nos entregamos às
observações, até que um dia, perguntando á entidade que movimentava a mesa o
que pretendia, recebemos o seguinte: “Instruir-vos talvez ... “ Ao que
respondemos: o processo é moroso e fatalmente despenderíamos um
tempo demasiado longo para alcançar o objetivo. A esta objeção, a mesa,
movendo-se, por meio das pancadas convencionais, forma a palavra – “Escrevei”.
Emocionado e ao mesmo tempo
receoso, neófito que éramos, vacilamos.
À vacilação sobreveio uma vontade
grande de perscrutar o desconhecido e, resoluto, convidamos um amigo, que sabíamos
versado em coisas do espiritismo, para assistir á experiência.
Tomando um lápis e um bloco de
papel, sem perdermos a noção do que se passava em derredor de nós, calmo, em pleno
gozo das faculdades, sentimos deslizar a mão sobre o papel, imprimir com o lápis
um longo traço e, voltando sempre à origem das linhas, iniciar, lauda abaixo,
uma série de exercícios caligráficos, logo substituídos por um ditado que ocupou
12 paginas do bloco.
Importa acrescentar que, enquanto
isto se dava, a trechos conversávamos, o amigo e nós, sem que a mão estacasse
nem a mensagem sofresse.
Satisfeito com o resultado, procuramos
adquirir as obras de Allan Kardec, segundo foram aconselhadas para nossa
educação.
Dividido o tempo entre os afazeres e
o curso do sexto ano médico, líamos, contudo, sempre que se oferecia ensejo, o
Evangelho com a sua interpretação espirita.
Poucas semanas corridas, começamos a
ouvir vozes, distintas extremamente umas das outras, e não estranhas algumas a
nosso ouvido.
Sobressaltámo-nos (não era para
menos), e muito sofremos.
Não acabávamos de compreender como
aquilo era, se nenhum ser material, conforme dizemos, nos falava. Supusemo-nos
vítima de uma alucinação, pelo que não raro nos sondávamos com resolver
problemas de matemática elementar.
Redobramos os estudos sobre a
doutrina e os fenômenos intensificando igualmente as lucubrações no ramal da psiquiatria.
Frequentando assiduamente as aulas
da faculdade e dos hospitais, atento a qualquer observação da parte dos
colegas, era continua e torturante a expectativa de uma desilusão, que sentíamos
sobre a cabeça como a espada de Dâmocles.
As falações continuavam: a princípio
frívolas; depois, grosseiras; mais tarde, conselhos e insistentes convites para
deixarmos a terra, pois na morte encontraríamos a paz e o bem estar.
Tal estado de coisas durou semanas,
até que, certa noite, se fez entender uma voz toda carinho, inconfundivelmente
diversa das outras, anteriormente ouvidas.
Disse-nos: “Pediste, em uma prece, provas da nossa imortalidade. Não foi em pura
perda a rogativa. Aí tens a chave do problema da vida. É saber tirar dela todo
o proveito necessário à tua real felicidade. Passaste por uma provação, que
neste momento chega ao termo. Não ouvirás doravante.
Crê
em Deus e ama a teu próximo. O Pai te abençoe. Adeus”.
Satisfeito nosso pedido a Deus!
nossa prece ganhara os céus! deferida afinal!
Daí por diante refulgimos
comunicações e perseveramos na leitura de Kardec; em 17 de Março de 1910,
sentindo impulso para a escrita, recebemos o ditado seguinte:
“Em bem da verdade tudo deve ser
explicado, tudo deve ser devassado.
Não
tenhas receio do teu modo de pensar. Deus tudo vê. Deus tudo prevê e evita os
males quando desnecessários.
Na tua peregrinação sobre a Terra,
que já também me serviu de escola, terás que julgar muitas vezes o caráter dos
homens e por isso não ficarás valendo menos, nem odiado, porque só Deus e os
Espíritos superiores podem, com justiça, julgar.
Não tenhas excessivo medo de errar;
porque o homem é falível, como falível é o planeta, que constantemente muda na
sua textura e estrutura.
Olha as convulsões intestinas do
orbe, dando em resultado mortes em massa, a destruição de cidades inteiras.
Não vês as revoluções sobre a superfície
das águas, das terras, das cidades, dos povos?!
Tudo é ordenado por Deus, porque
nada disto é real, puro, definitivo.
Não prejudiques a marcha do mundo,
não contribuas para o desrespeito às leis divinas, ama não o ouro e o bem estar
individual, mas a Deus, aos homens, aos Espíritos, principalmente aos
infelizes, que são também nossos irmãos, filhos da mesma fonte de
Bondade.
Eu sou um desconhecido teu nesta
vida, sou um amigo da família humana e da verdade, e por isso venho
comunicar-me contigo, a quem de há muito sigo, animado pelo firme proposito de
guiar-te, não como um anjo, um pai, mas um colega, um feliz que encontra em ti
elementos para receber a semente que, por vontade divina, está em tempo de ser
lançada.
Agora, pelo que fica dito, adoptarei
sempre, em toda comunicação, o pseudônimo de
Amor
à verdade”
Estava dado o primeiro passo na
estrada nova.
Iam-se desenrolar aos nossos olhos
coisas assombrosas, com força de varrer, para sempre, da nossa imaginação, o
chamado mistério.
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