sábado, 12 de maio de 2012

O Pai dá Testemunho de Mim. (a palavra de João)



Meu Pai 
dá testemunho
de Mim    
        

5,31 “ -Se Eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o Meu testemunho.
5,32 Há outro que dá testemunho de Mim e sei que é digno de fé o testemunho que dá de Mim.
5,33  Vós enviastes mensageiros a João e ele deu testemunho da verdade.
5,34  Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas a fim de que sejais salvos.
5,35  João era uma lâmpada que arde  e ilumina: Vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz 
5,36 Mas tenho testemunho maior do que o de  João,  porque  as  obras  que  Meu Pai Me deu para executar - essas são as obras que faço - testemunham a meu  respeito que o Pai me enviou 
5,37  E o Pai que me enviou, Ele mesmo deu testemunho de Mim. Vós nunca ouvistes  a  Sua voz  nem vistes a Sua face...
5,38  e não tendes a Sua palavra permanente em vós, pois não credes Naquele que Ele enviou...

 Leiamos a  Roustaing:   

            Jo (5,31-33) -Testemunhos - Jamais deve o homem apresentar-se como modelo. Deve, sim, de modelo servir. Só as obras que pratique, os exemplos que dê podem e devem testificar a seu favor. Esses os únicos testemunhos verdadeiros que o homem pode dar de si mesmo. Os outros, não ele próprio, é que devem dar dele testemunho.

            Jo (5,34-36) -Meu Pai dá Testemunho de Mim.  No que disse aos Judeus que o foram interpelar, João deu testemunho da verdade, declarando não ser o Cristo, ser apenas seu precursor. De Deus é que Jesus recebe o testemunho da sua missão de enviado celeste.

            “Digo-vos, porém, estas coisas a fim de que sejais salvos.” Os que creram na sua missão foram postos em condições de se salvarem, isto é, de lhe ouvirem com confiança e fé a palavra, os ensinamentos, e de caminharem pela suas sendas.

            João era um espírito superior em missão. Os Judeus lhe escutaram a palavra como sendo a de um profeta, de um enviado de Deus. Mas a sua missão era preparatória e, como tal, pouco tempo devia durar. O precursor tinha que se apagar diante do Cristo, tinha que ver terminada a missão que trouxera, quando Jesus começasse a desempenhar publicamente a sua.

            Jo (5,37) -Nunca lhe ouvistes a voz, nem nada vistes que O representasse. Duplo sentido encerram essas palavras do Mestre e duplo sentido tinha ele em mente ao proferi-las: fazer notar aos Judeus, ali então presentes, que não haviam presenciado essas manifestações espíritas verificadas às margens do Jordão e no Tabor, assinalando assim a importância delas; e, além disso, comprovar, segundo o espírito que vivifica, dando um ensinamento, que Deus nunca se manifesta pessoalmente aos homens, como sabeis e nós temos dito.

            Jo (5,38) -E a Sua palavra em vós não permanece, porque não credes naquele que foi por Ele enviado.  Jesus, perante os homens, era o órgão de Deus, sua palavra era a palavra de Deus. Não crendo os Judeus na sua missão e, ainda mais, repelindo-lhe a moral, os ensinos, os exemplos, neles não ficava a palavra de Deus. Em seus corações só tinham guarida os preconceitos, os vícios e as paixões que os dominavam.

            Se, por ignorância ou escrúpulo, mas de boa-fé, houvessem renegado a missão de Jesus, crendo, entretanto, na moral que ele personificava e praticando-a, tal qual se cressem na sua missão, teriam sido, não de nome, porém de fato, seus discípulos, como o foram os profetas e os justos em Israel, antes da sua vinda à Terra.  Até aos vossos dias assim foi e ainda é. São de fato discípulos de Jesus todos aqueles que, sejam Judeus ou Gentios, sejam quais forem suas crenças, sejam quais forem as seitas a que pertençam, procedem como se cressem nele, praticando a moral que resume o mandamento divino em que se encerram toda a lei e os profetas, embora, na presente encarnação, lhe reneguem o nome.
           
Meu Pai dá testemunho de Mim...

5,39 “-Vós perscrutais as escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim.
5,40  E não quereis vir a Mim para terdes  vida...
5,41 Não espero a glória dos homens...
5,42 Mas, sei que não tendes em vós o amor de Deus.
5,43  Vim  em nome de Meu Pai, mas não Me recebeis. Se vier outro em  seu  próprio  nome,  haveis de recebê-lo...
5,44  Como podeis crer, vos  recebeis a glória uns dos outros e não buscais a glória que é só de Deus,
5,45  não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai;
5,46  pois, se crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim,  porque  ele  escreveu  a  Meu  respeito.
5,47  mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?”

          Para   Jo (5,39-47), -Meu Pai dá testemunho de Mim  -  tomemos  “Palavras do Infinito”, de Humberto de Campos por Chico Xavier:

              “Avizinhando-se o Natal, havia também no Céu um rebuliço de alegrias suaves.  Os Anjos acendiam estrelas nos cômoros de neblinas douradas e vibravam no ar as harmonias misteriosas que encheram um dia de encantadora suavidade a noite de Belém. Os pastores do paraíso cantavam e, enquanto as harpas divinas tangiam suas cordas sob o esforço caricioso dos zéfiros da imensidade, o Senhor chamou o discípulo Bem-Amado ao seu trono de jasmins matizados de estrelas.

               O vidente de Patmos não trazia o estigma da decrepitude como nos últimos dias entre as Espórades. Na sua fisionomia pairava aquela mesma candura adolescente que o caracterizava no princípio do seu apostolado.

            - João - disse-lhe o Mestre - lembras-te do meu aparecimento na Terra?

            - Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de frei Dionísios, que colocou erradamente o vosso natalício em 754, calculando no século VI da era cristã.

            -Não, meu João - retornou docemente o Senhor - não é a questão cronológica que me interessa em te arguüindo sobre o passado. É que nessas suaves comemorações vem até mim o murmúrio doce das lembranças!...

            - Ah! sim, Mestre Amado - retrucou pressuroso o Discípulo - compreendo-vos. Falais da significação moral do acontecimento. Oh!... se me lembro... a manjedoura, a estrela guiando os poderosos ao estábulo humilde, os cânticos harmoniosos dos pastores, a alegria ressonante dos inocentes, afigurando-se-nos que os animais vos compreendiam mais que os homens, aos quais ofertáveis a lição da humildade com o tesouro da fé e da esperança. Naquela noite divina, todas as potências angélicas do paraíso se inclinaram sobre a Terra cheia de gemidos e de amargura para exaltar a mansidão e a piedade do Cordeiro.  Uma promessa de paz desabrochava para todas as coisas com o vosso aparecimento sobre o mundo. Estabelecera-se um noivado meigo entre a Terra e o Céu e recordo-me do júbilo com que vossa Mãe vos recebeu nos seus braços feitos de amor e de misericórdia. Dir-se-ia, Mestre, que as estrelas de ouro do paraíso fabricaram, naquela noite de aromas e de radiosidades indefiníveis um mel divino no coração de Maria!...

            Retrocedendo no tempo, meu Senhor bem-amado, vejo o transcurso da vossa infância, sentindo o martírio de que fostes objeto; o extermínio das crianças de vossa idade, a fuga aos braços carinhosos de vossa progenitora, os trabalhos manuais em companhia de José, as vossas visões maravilhosas no Infinito, em comunhão constante com o vosso e nosso Pai, preparando-vos para o desempenho da missão única que vos fez abandonar por alguns momentos os palácios de sol da mansão celestial para descer sobre as lamas da Terra...

            - Sim, meu João, e, por falar nos meus deveres, como seguem no mundo as coisas atinentes à minha doutrina?

            - Vão mal, meu Senhor. Desde o concílio ecumênico da Nicéia, efetuado para combater o cisma de Ário em 325, as vossas verdades são deturpadas. Ao arianismo seguiu-se o movimento dos iconoclastas em 787 e tanto contrariaram os homens o vosso ensinamento de pureza e de simplicidade, que eles próprios nunca mais se entenderam na interpretação dos textos evangélicos.

            - Mas não te recordas, João, que a minha doutrina era sempre acessível a todos os entendimentos? Deixei aos homens a lição do caminho, da verdade e da vida sem lhes haver escrito uma só palavra.

            - Tudo isso é verdade, Senhor, mas logo que regressastes aos vossos impérios resplandecentes, reconhecemos a necessidade de legar à posteridade a vossa biografia na Terra; contudo, os homens não dispensam, em sua atividades, o véu da matéria e do símbolo.  A todas as coisas puras da espiritualidade adicionam a extravagância de suas concepções. Nem nós nem os evangelhos poderíamos escapar. Em diversas basílicas de Rávena e de Roma, Mateus é representado por um jovem, Marcos por um leão, Lucas por um touro e eu, Senhor, estou ali sob o símbolo estranho de uma águia.

            - E os meus representantes, João, que fazem eles?

            - Mestre, envergonho-me de o dizer. Andam quase todos mergulhados nos interesses da vida material. Em sua maioria, aproveitam-se das oportunidades para explorar o vosso nome e, quando se voltam para o campo religioso, é quase que apenas para se condenarem uns aos outros, esquecendo-se de que lhes ensinastes a se amarem como irmãos...

            - As discussões e os símbolos, meu querido - disse-lhe suavemente o Mestre - não me impressionam tanto. Tiveste, como eu, necessidade destes últimos, para as predicações e, sobre a luta de idéia, não te lembras quanta autoridade fui obrigado a despender, mesmo depois da minha volta da Terra, para que Pedro e Paulo não se tornassem inimigos?  Se entre os meus apóstolos prevaleciam semelhantes desuniões, como poderíamos eliminá-las do ambiente dos homens, que não me viram, sempre inquietos nas suas indagações?... O que me constrita é o apego dos meus missionários aos prazeres fugitivos do mundo!

            - É verdade, Senhor.

            - Qual o núcleo de minha doutrina que detém no momento maior força de expressão?

            - É o departamento dos bispos romanos, que se recolheram dentro de uma organização admirável pela sua disciplina, mas altamente perniciosa pelos seus desvios da verdade. O Vaticano, Senhor, que não conheceis, é um amontoado suntuoso das riquezas das traças e dos vermes da Terra. Dos seus palácios confortáveis e maravilhosos irradia-se todo um movimento de escravização das consciências. Enquanto vós não tínheis uma pedra onde repousar a cabeça, dolorida, os vossos representantes dormem a sua sesta sobre almofadas de veludo e de ouro; enquanto trazíeis os vossos pés macerados nas pedras do caminho escabroso, quem se inculca como vosso embaixador traz a vossa imagem nas sandálias matizadas de pérolas e de brilhantes. E  junto  de  semelhantes superfluidades e absurdos, surpreendemos os pobres chorando de cansaço e de fome; ao lado do luxo nababesco das basílicas suntuosas, erigidas no mundo como um insulto à glória da vossa humildade e do vosso amor, choram as crianças desamparadas, os mesmos pequeninos a quem estendíeis os vossos braços compassivos e misericordiosos. Enquanto sobram as lágrimas e os soluços entre os infortunados, nos templos, onde se cultua a vossa memória, transbordam moedas em mãos cheias, parecendo, com amarga ironia, que o dinheiro é uma defecação do demônio no chão acolhedor da vossa casa.

            - Então, meu Discípulo, não poderemos alimentar nenhuma esperança?

            - Infelizmente, Senhor, é preciso que nos desenganemos. Por um estranho contraste, há mais ateus benquistos no Céu do que aqueles religiosos que falavam em vosso nome na Terra.

            - Entretanto - sussurraram os lábios divinos docemente - consagro o mesmo amor à humanidade sofredora. Não obstante a negativa dos filósofos, as ousadias da ciência, o apodo dos ingratos, a minha piedade é inalterável... Que sugeres, meu João, para solucionar tão amargo problema?

            -Já não dissestes, um dia, Mestre, que cada qual tomasse a sua cruz e vos seguisse?

            - Mas prometi ao mundo um Consolador em tempo oportuno! ...

            E os olhos claros e límpidos, postos na visão piedosa do amor de seu Pai Celestial, Jesus exclamou:

            - Se os vivos nos traíram, meu Discípulo Bem-Amado, se traficam com o objeto sagrado de nossa casa, profligando a fraternidade e o amor, mandarei que os mortos falem na Terra em meu nome.

             Deste Natal em diante, meu João, descerrarás mais um fragmento dos véus misteriosos que cobrem a noite mais triste dos túmulos para que a verdade ressurja das mansões silenciosas da Morte. Os que já voltaram pelos caminhos ermos da sepultura retornarão à Terra para difundirem a minha mensagem, levando aos que sofrem, com a esperança posta no Céu, as claridades benditas do meu amor!...

            E, desde essa hora memorável, há mais de cinquenta anos, O Espiritismo veio, com as suas lições prestigiosas, felicitar e amparar na Terra a todas as criaturas.

Humberto de Campos
(Recebida em Pedro Leopoldo a 20 de dezembro de 1935)

            Para  Jo (5,40) -E não quereis vir a mim para terdes vida - leiamos  “Fonte Viva”  de Emmanuel por Chico Xavier:
           
            “Quantos procuram a sublimação da individualidade precisam entender o valor supremo da vontade no aprimoramento próprio.

            Os templos e as escolas do Cristianismo permanecem repletos de aprendizes que vislumbram os poderes divinos de Jesus e lhe reconhecem a magnanimidade, caminhando, porém, ao sabor de vacilações cruéis.

            Crêem e descrêem, ajudam e desajudam, organizam e perturbam, iluminando-se na fé e ensombrando-se na desconfiança...   É que esperam a proteção do Senhor para desfrutarem o contentamento imediato no corpo, mas não querem ir até ele para se apossarem da vida eterna. Pedem o milagre das mãos do Cristo, mas não lhe aceitam as diretrizes. Solicitam-lhe a presença consoladora, entretanto, não lhe acompanham os passos. Pretendem ouvi-Lo, à beira do lago sereno, em preleções de esperança e conforto, todavia, negam-se a partilhar com ele o serviço da estrada, através do sacrifício pela vitória do bem. Cortejam-no em Jerusalém, adornada de flores, mas fogem aos testemunhos de entendimento e bondade, à frente da multidão desvairada e enferma. Suplicam-lhe as bênçãos da ressurreição, no entanto, odeiam a cruz de espinhos que regenera e santifica. Podem ir na vanguarda edificante, mas não querem. Clamam por luz divina, entretanto, receiam abandonar a s sombras. Suspiram pela melhoria das condições em que se agitam, todavia, detestam a própria renovação.

            Vemos, pois, que é fácil comer o pão multiplicado pelo infinito amor do Mestre Divino ou regozijar-se alguém com a sua influência curativa, mas, para alcançar a Vida Abundante de que Ele se fez o embaixador sublime, não basta a faculdade de poder e o ato de crer, mas também a vontade perseverante de quem aprendeu a trabalhar e servir, aperfeiçoar e querer.”



            

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