A
Grande
Crise
Todo mês de janeiro é ocasião de as
criaturas se reconhecer em seres em comunhão no seio da humanidade. O fogo de
palha da fraternidade convencional se alastra pelo mundo, e aluviões de
mensagens transportando os mais variegados votos de paz, de venturas e de
prosperidade cruzam os mares, os espaços, as fronteiras e as barreiras
linguísticas.
No fundo, é verdade, todo mundo
recebe a aproximação de um novo ano com renovadas esperanças de que seja ele o
materializador de velhos anseios destilados nas retortas dos inveterados
alquimistas, que continuam a sonhar com a transformação deste planeta numa
estância de ouro e prata rosada. Tal aspiração, difusa na alma humana, é bem o
sinete de sua origem divina. Mas, por não se dar conta desta verdade, o homem
inverte os
polos
do problema e, em vez de arquitetar sonhos em termos de perenidade, converte os
meios transitórios, que lhe são confiados para conquistas definitivas, em
instrumento de satisfação imediata, fugaz e ilusória. Daí a contradição
inexplicável: quanto mais persegue a paz, ou faz promessas e projetos de
concórdia universal, mais se espalham pela Terra a convulsão, a violência, a
guerra,
Os homens, subjugados pelas
comodidades obtidas com os avanços tecnológicos, se deixaram dominar pelo
epicurismo e o utilitarismo e, embriagados com as beberagens fornecidas por um
Cristianismo sem Evangelho, vivem segundo fórmula abstrusa, crentes, no
entanto, de que seguem o caminho da salvação: proclamam-se espiritualistas, mas
exibem padrões do mais requintado pragmatismo materialista.
Não é preciso ser dotado de dons
proféticos para pressentir que tais caminhos são impraticáveis. Há que mudar de
rumo, é imprescindível mudar. Mas, até agora, mesmo as consequências as mais
dolorosas já experimentadas por causa dessas ilusões não têm conseguido demover
ninguém.
Diante desse panorama, não resta
senão atentar para as predições contidas nos Evangelhos, referentes àqueles
«tempos em que, por abundar a iniquidade, a caridade de muitos esfriará».
Aqueles tempos - já chegados, conforme asseveram as vozes do Céu - em que se
dará a «separação dos bodes e das ovelhas» e os quais, nas palavras do próprio
Cristo, só serão abreviados por causa dos eleitos.
A grande crise, portanto, é inevitável. Ela é, na verdade, o grande
remédio contra os males que infestam a humanidade. E os espíritas, por tudo o
que já compreendem, e pelo muito que já receberam, devem se preparar, sem
pânico e sem se deixarem impressionar com os arroubos dos presságios catastróficos,
para serem os focos de sustentação do equilíbrio emocional da humanidade,
diante da profunda transição que se aproxima.
Editorial do Reformador (FEB) em Jan 1974
Nenhum comentário:
Postar um comentário