terça-feira, 27 de março de 2012

Mensagem da Ressurreição





MENSAGEM DA RESSURREIÇÃO

            De além do tempo e do espaço chega minha voz. É uma voz universal que fala ao mundo inteiro e verdadeira permanece através dos tempos. A verdade não pode sofrer mudanças se olhada por esta ou aquela nação, se observada por uma raça ou outra, porque a alma humana é sempre a mesma em toda parte, se examinada em sua profundeza.

            Venho a vós, hoje, na Páscoa, acima de tudo para iluminar e confortar, pois vos achais imersos numa vaga de dores. Crise a denominais e a imaginais crise econômica. Eu, porém, vos digo que se trata de uma crise universal, crise de todos os vossos valores morais, de todas as vossas grandezas. É o desmoronar-se de todo um mundo milenário. Digo-vos que a crise se encontra sobretudo em vossas almas: crise de fé, de orientação, de esperanças. É o vertiginoso momento de grandes maturações.

            Trago-vos esperança, orientação, paz. A cada um falo hoje a palavra da verdade e do amor, palavra que não mais conheceis. Quero reconduzir-vos às origens milenárias da fé com o intelecto novo, nascido de vossa ciência. No dia da Ressurreição, repito-vos a palavra da ressurreição, a fim de que possais compreender a dor e ultrapasseis as estreitas fronteiras de vossa vida. Comovido, falo a cada um no sagrado silêncio de sua consciência.

            Ó tu que lês, afasta-te, por um momento, dos inúteis ruídos do mundo e escuta!' Minha voz não te atingirá através dos sentidos, mas através desta leitura, senti-Ia-ás aflorar dentro de ti na linguagem de tua personalidade. Minha voz não chega, como todas as coisas, do exterior, contudo, surgirá em ti, por caminhos desconhecidos, como coisa tua, da divina profundeza que em ti existe e na qual também estou.

            O universo é infinito e de longe venho, atraído pela tua dor. Nada me atrai tanto corno a dor, porque somente nela o homem é grande, e se purifica e redime, dirigindo-se para destinos mais elevados. É triste serdes assim golpeados, mas, somente sofrendo, podeis compreender a realidade da vida. Exulta, porque este é o esforço da tua ressurreição!

            A quem sofre eu digo: "Coragem!I És um decaído que na sombra reconquista a grandeza perdida".

            É a justa reação da Lei que livremente transgredistes e que exige o retorno ao equilíbrio; instrumento de ascensão, a dor vos aponta o caminho de que fugistes; impõe-vos reabrirdes vossa alma, fechada pelas alegrias fáceis que infelizmente vos cegam, para que alcanceis júbilos mais altos e verdadeiros. A dor é uma força que vos constrange a refletir e a buscar em vós mesmos a verdade esquecida. É imposição de um novo progresso.

            Abraça com alegria esse grande trabalho que te chama a realizações mais amplas. Se não fosse a dor, quem te forçaria a evolver para formas de vida e de felicidade mais completas?

            Não te rebeles; pelo contrário, ama a dor. Ela não é uma vingança de Deus e sim o esforço que vos é imposto para mais uma conquista vossa.

            Não a amaldiçoes, mas apressa-te a pagar o débito contraído pelo abuso da liberdade que  Deus te deu para que fosses consciente. Abençoa essa força salutar que, superando as barreiras humanas, sem distinção transpõe todas as portas, penetra o que é secreto, e fere, e comanda, e dispõe, e por todos se faz compreender. Abraça a dor, ama-a, e ela perderá sua força. Aceita a indispensável escola das ascensões. Se te revoltares, tua força nada conseguirá contra um inimigo invisível e a violência, em retorno, mais impetuosamente cairá sobre ti.

            Coragem! Ama, perdoa e ressuscita! Não procures nos outros a origem de tua dor, mas, sim, em ti mesmo, e arrepende-te. Lembra-te de que a dor não é eterna, porém uma prova que dura até que se esgote a causa que a gerou. Tua dor é avaliada e não irá jamais além de tuas forças. O mundo foi criado para a alegria e a alegria lhe voltará. Da outra margem da vida, outras forças velam por ti e te estendem os braços, mais do que tu ansiosas pela tua felicidade.

            Falei com o coração ao homem de coração. Falarei agora à inteligência.

            Tendes, ó homens, a liberdade de vossas ações, nunca a de suas consequências, Sois senhores de semear alegria ou dor em vosso caminho, e não o sois de alterar a ordem da vida. Podeis abusar, porém, se abusardes, a dor reprimirá o abuso. De cada um de vossos males, fostes vós mesmos que semeastes as causas.

            O maior erro de vossos tempos é a ignorância da realidade moral, íntima orientação da personalidade, que é o fundamento da vida social.

            O homem moderno se aproxima de seu semelhante para tomar-lhe alguma coisa, nunca para beneficiá-lo. A vossa civilização, que é econômica, está baseada no princípio do "do ut des[1]", que é a psicologia do egoísmo. É a força econômica sempre a reger o mundo. A psicologia coletiva não é senão a soma orgânica dessas psicologias individuais. A riqueza se acumula onde a força a atrai, e não onde a necessidade ou superiores exigências a reclamam; não constitui instrumento de uma vida de justiça e de bem, mas, sim, máquina de poder, representando, em si mesma, um objetivo. A lei de equilíbrio é constantemente violada e impõe reações. Não dominais a riqueza, conduzindo-a a fins mais elevados: é a riqueza que vos domina.

            Trabalhai, mas que o escopo do vosso trabalho não se reduza apenas a proveitos isolados e egoístas, e sim a frutificar no organismo social; somente então se formará aquela psicologia coletiva, que é a única base estável da sociedade humana.

            Fazei o bem, todavia, lembrai-vos de que o pobre não deseja propriamente o supérfluo de vossas riquezas, mas que desçais até ele, que partilheis de sua dor e, até, que a tomeis para vós, em seu lugar.

            Venerai o pobre: ele será o rico de amanhã.  Apiedai-vos do rico, que amanhã será o pobre. Todas as posições tendem a inverter-se a fim de que o equilíbrio permaneça constante. A riqueza tende para a pobreza e a pobreza para a riqueza. Ai daqueles que gozam! Bem-aventurados os que sofrem! Esta é a Lei.

            Não confieis no mundo, que rirá convosco enquanto tiverdes força e bem-estar; confiai, antes, em mim, que venho quando sofreis e vos trago auxílio e conforto. Já vedes, hoje, que a dor realmente existe e que nem o ceticismo nem qualquer poder humano conseguem afastá-Ia.

            Uma radical mudança verificar-se-á na sociedade humana, a fim de que a vida não mais seja um ato de conquista, onde triunfe o mais forte ou o mais astuto, mas, sim, um ato de bondade e de sabedoria em que seja vitorioso o mais justo. Investigando-as com vossa ciência, achareis no íntimo das coisas essa suprema Lei de equilíbrio que vos governa; aprendereis que a bravura da vida não está em violar essa Lei, semeando para vós mesmos reações de dor, porém, em segui-Ia, se de dor, porém, em segui-la, semeando efeitos de bem. Deveis também aprender que o vencedor não é o mais forte - esse é um violador - e sim quem segue conscientemente o curso das leis e sem violência se equilibra no seio das forças da vida. As religiões já o revelaram, entretanto, não acreditastes ; a ciência o demonstrará, todavia não desejareis ver. O momento é decisivo. Ai de vós se, nesta vitória de civilização material em que viveis, desejardes ainda perseverar no nível do bruto.

            Está maduro o mundo, mas, ao mesmo tempo, cansado de tentativas e experiências, do irresolúvel emaranhado de vossos expedientes; cansado de viver do momento, em face de um amanhã repleno de incógnitas; e quer seriamente prever e resolver os grandes problemas da vida, quer francamente olhar o futuro, ainda que isso reclame uma grande coragem.

            O mundo tem necessidade da palavra simples  e forte da verdade e não de novas astúcias a rolarem por velhos caminhos. O mundo espera essa palavra com ansiedade, como também a aguarda o momento histórico.

            A psicologia coletiva tem o pressentimento, embora confuso, de uma grande mudança de direção; sente que o pensamento humano, não mais infantil, apresta-se para tomar as rédeas da vida planetária e que o homem vai substituir o equilíbrio instintivo e cego das leis biológicas por outro equilíbrio, consciente e desejado. Por isso está buscando a luz, para que seu poder não naufrague no caos.

            Não está longe de desaparecer vossa psicologia experimental, que será substituída pela psicologia intuitiva; esta, a muito longe, conduzirá vossa ciência. Novos homens divulgarão a verdade; não mais serão mártires cobertos de sangue, nem se assemelharão aos anacoretas de outrora, porém homens de inteligência e de fé, que difundirão seus pensamentos utilizando-se de moderníssimos recursos, homens que servirão de exemplo no meio do turbilhão de vossa vida.

            Despedaçai a férrea jaula que o passado para vós construiu, e onde já não vos resta espaço. Ousai abandonar os velhos caminhos, mas não ouseis loucamente, onde não há razão para ousadias; ousai na direção do alto e nunca ousareis demasiadamente. Do grande mar de forças latentes, que não percebeis, imensa vaga levantará o mundo.

            Até lá, guardai a fé! A vossa crise, se é profunda e dolorosa, fará, no entanto, nascer o homem novo do terceiro. milênio. (1). Para resolvê-Ia, recordai que ela é mal de substância, que não se debela corrigindo a forma, como procurais fazer. Para solucioná-Ia é necessário considereis o problema em sua substância; e sua substância é o homem, sua psicologia, sua alma, onde se encontra a motivação de suas ações, a fonte original dos acontecimentos humanos. Eis aí a chave do futuro.

            (1) O argumento do "homem novo do terceiro milênio", produto biológico da evolução e tipo normal da super-humanidade do futuro, é amplamente desenvolvido em " A NOVA CIVILIZAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO", 2ª Trilogia, volume 7º, das Obras Completas de Pietro Ubaldi, a ser publicado em vernáculo por esta Editora.
                "A GRANDE SÍNTESE", 1ª Trilogia, volume 2º, das Obras Completas, também se refere ao homem espiritual do próximo milênio, nos caps. 78, 83, 84, 85 etc. (Nota do Tradutor).

            Vosso multimilenário ciclo de civilização está a esgotar-se; deveis retomá-lo em nível mais elevado, vivê-lo mais profundamente, não somente crendo, mas, também, "vendo",

            Ai de vós se, depois de haverdes atingido  o domínio do planeta, não dominardes a máquina, a riqueza e as vossas paixões, com um espírito puro.

            Sois livres e podeis também retroceder (1). N o período que resta deste século se decidirá do terceiro milênio. Ou vencer, ou morrer: e a morte, desta vez, é a morte pior, porque é morte de espírito (2).  

            (1) Para evitar possíveis' mal-entendidos ("os mal-entendidos são detestáveis", pondera Pietro Ubaldi em "HISTÓRIA DE UM HOMEM", (5º volume, 2ª 'Trilogia, das Obras Completas), observemos que o "retroceder" de que fala a Mensagem não tem um sentido negativista, antibiológico ou anti-evolutivo, porém, exprime uma consequência natural da relativa liberdade humana: "Sois livres e podeis também retroceder". Esse abuso do livre-arbítrio conduz ao que EMMANUEL chama de "queda do espírito": "Conquistada a consciência e os valores racionais, todos os espíritos são investidos de uma responsabilidade, dentro das suas possibilidades de ação; porém, SÃO RAROS os que praticam seus legítimos deveres morais, aumentando seus direitos divinos no patrimônio universal. Colocada por Deus no caminho da vida, como discípulo que termina os estudos básicos, a ALMA nem sempre sabe agir em correlação com os bens recebidos do Criador, CAINDO pelo orgulho e pela vaidade, pela ambição ou pelo egoísmo ... "  ("O CONSOLADOR", de Francisco C. Xavier, F. E. B. 1941, pág. 248). Acrescenta ainda Emmanuel que a "queda do espírito" pode dar-se até fora da Terra: "A Terra é um plano de vida e evolução como outro qualquer, e nas esferas mais variadas, A ALMA PODE CAIR, em sua ROTA EVOLUTIVA ... " (Idem, pág. 249).
                Essa "queda do espírito" é, de algum modo, o leitmotiv de duas esplêndidas obras: "A Caminho da Luz", de Emmanuel, e "Os Exilados da Capela", de Edgard Armond.
                Não se trata de regressão substancial da psique humana e sim de uma falência moral, sempre temporária, porque a Evolução é a suprema lei da vida.
                Como ensina "A GRANDE SÍNTESE", "tudo é cíclico, vai-e-vem, AVANÇA E RETROCEDE; PARA MAIS PROGREDIR. E, se repete, resume e descansa, isto nada mais representa senão uma retomada de forças, uma pausa para SEMPRE MAlS ELEVADA EXPANSÃO. Esta é a evolução no seu mecanismo íntimo, a evolução que resume a mais profunda significação do universo. A verdade de minhas palavras está escrita no vosso mais potente instinto, na vossa aspiração que é SUBIR SEM LIMITE, SUBIR ETERNAMENTE." ("A Grande Síntese", Edição LAKE, cap. XXVI). Leiam-se ainda, para maior domínio do argumento, os caps. XXVII, XLIX e LXIV. (Nota do tradutor).

            (2) As observações da nota anterior também se estendem a esta. A expressão "morte de espírito" poderia, a quem menos avisado, causar estranheza. Não se trata, porém, absolutamente, como é fácil perceber, de "morte DO espírito", isto é, de destruição do ser espiritual, da alma humana, pois a individualidade psíquica é por natureza IMORTAL. O texto italiano diz: “ è la morte peggiore perchè è morte DI spirito", Trata-se de "morte de espírito", isto é, de valores espirituais e culturais do homem e da civilização do segundo milênio, como se lê na pág. 36.
                A palavra "espírito" está empregada não no sentido usual de "alma humana", mas, num caso de sinédoque, é aqui usada em sentido mais amplo, de "valores espirituais" do homem e do atual ciclo evolutivo, que podem sofrer um colapso, logicamente transitório, nunca definitivo, porque a Lei impõe evolução.
                Basta recordar o seguinte trecho de "A Grande Síntese", que, usando a palavra "espírito" com esse último sentido tropológico, afirma categoricamente: "Ai das religiões que não desempenharem a sua função de salvar OS VALORES ESPIRITUAIS do mundo! O ESPÍRITO não pode morrer e ressurgirá alhures, fora delas! ("A Grande Síntese", Edição LAKE, pág. 420).
                Homens e povos estão sujeitos a quedas com consequentes degredos espirituais, que são verdadeiras "mortes de espírito", contingentes, e não absolutas, transitórias, nunca definitivas. É delas que fala o Evangelho, tantas vezes; um só exemplo: "Em verdade, em verdade vos digo que se alguém guardar a minha palavra não verá A MORTE", disse Cristo (Jo., 8:51).
                A Mensagem adverte o homem da queda próxima da civilização materialista, tal como seis anos mais tarde, em 1938, nosso venerável Emmanuel se expressou: "Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a vertigem de um pesadelo... O SÉCULO QUE PASSA efetuará a divisão das ovelhas no imenso rebanho... Uma tempestade de amarguras envolverá toda a Terra. Os filhos da Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas de lágrimas e de sangue que rebentarão das NUVENS PESADAS DE SUAS CONSCIÊNCIAS ENEGRECIDAS. Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a Superioridade européia DESAPARECERÁ PARA SEMPRE, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à CIVILIZAÇÃO DO PORVIR". ("A Caminho da Luz", Francisco C. Xavier, 2ª ed., págs. 172, 173).
                Explana ainda Emmanuel: "Muitos Espíritos, de corpo em corpo, permanecem na Terra com as mesmas recapitulações durante milênios. A semeadura prejudicial condicionou-os à chamada "MORTE NO PECADO"... E homens e povos continuarão DESFAZENDO a obra falsa para recomeçar o esforço outra vez". ("Caminho, Verdade e Vida", de F. C. Xavier, 1949, págs. 65 e 68).
                Eis como devemos entender "morte de espírito". (Nota do tradutor).

            A todos eu digo: "Ressuscitai com a minha ressurreição."

assina ‘Sua Voz’                           Páscoa  de 1932
por Pietro Ubaldi
 inGrandes Mensagens
tradução e apresentação de
Clóvis Tavares (Ed. ‘LAKE’ - 1952)






[1] Do Blog: ‘Dou para que me des’. 


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