domingo, 18 de março de 2012

05 / 05 Antônio Wantuil de Freitas


05 / 05  Antônio
Wantuil de Freitas

inReformador’ (FEB) Abril 1974


Soneto Inédito de Cruz e Souza


            Quando da única ida de Wantuil de Freitas a Pedro Leopoldo, em 1956, passeando com Chico Xavier pelas ruas da cidade, à noitinha do dia 15 de abril, após visitarem o Centro Espírita Luiz Gonzaga, foram igualmente ao Grupo Espírita Meimei, no qual, antes de se retirarem, atenderam à lembrança de um dos presentes para que fosse proferida uma prece. Sentaram-se em torno duma mesa e, após a prece, dois velhos amigos desencarnados e que lhe foram companheiros na Diretoria da Casa de Ismael mandaram-lhe mensagens fraternas, sobre assuntos pessoais, e o Espírito Cruz e Souza lhe dedicou um soneto.

            Se grande fora o conforto pelas comunicações espontâneas dos seus dois companheiros da FEB, não menor foi a sua alegria com  a presença do grande poeta, do qual era admirador desde a mocidade, lendo-lhe os sonetos, em 1915, numa excelente revista literária então existente, denominada "Revista Souza Cruz", editada pela fábrica de cigarros do mesmo nome.

            Comovido, muito comovido, ele agradeceu ao médium por haver servido como instrumento para tantas manifestações de bondade, e pediu-lhe que nada publicasse, principalmente o belo soneto que passamos a transcrever:


Na Senda da Luz

(Ao companheiro A. Wantuil de Freitas)

Alça nas mãos o facho resplendente
Da lição de Jesus pura e sublime,
E, sustentando a luta que te oprime,
Vara o trilho escabroso para a frente.

Não te fira a pedrada contundente,
Agradece a aflição que te redime
E, na selva de sombra, angústia e crime,
Estende a luz, servindo alegremente ...

Abraça, sem revolta, as próprias dores,
Transformando-as em bênçãos onde fores,
No santo regozijo de vencê-lasl. ..

Faze brilhar teu sonho, além das trevas,
E ascenderás da cruz, em que te elevas,
Ao reino luminoso das estrelas.

Cruz e Souza

            No original, seu filho Zêus Wantuil escreveu de próprio punho a seguinte nota, a lápis, ao pé do soneto: "Recebido espontaneamente, na presença do Presidente da Federação Espírita Brasileira, que fora a Minas para participar das solenidades de inauguração da nova sede da "União Espírita Mineira", em Belo Horizonte."

            Na margem, uma outra anotação, também a lápis: "Nunca foi publicado, nem no "Reformador". Z."

            Vê-se o escrúpulo de Wantuil de Freitas, evitando sempre que algo fosse feito para se pôr em relevo a sua pessoa.

Uma carta de Ismael Gomes Braga

            Outro companheiro amado, de quem todos se recordam com carinho, Ismael Gomes Braga, que precedeu Wantuil no regresso à Pátria Espiritual, lembrou-se, quando ainda encarnado, de enviar uma carta ao amigo, que completava 68 anos, ressaltando a importância do Esperanto na vida humana.

            Eis a carta, que tem sabor muito particular, principalmente quando alude a outro digno confrade, o capitão Alfredo Félix da Silva, cujo comportamento evangélico o elevava a uma posição merecedora do respeito dos que estavam a par das suas dívidas cármicas.

            Ismael fala da grande obra do livro, frisa o papel importante do Esperanto no mundo de hoje e no do futuro, num estilo referto da jovialidade tão característica do seu temperamento.

            Rio de Janeiro, GB, 23 de Outubro de 1963.

      Meu caro Wantuil,

      Perdoe-me lembrar-lhe que V. hoje completa 68 anos. Sei que para os velhos é sempre penoso o saber que o tempo está passando sem crescimento... Se nós mesmos não podemos crescer, lançamos sementes para que outros cresçam cm nosso lugar.

      A sua missão na FEB foi a do Livro, além de outras.

      Parece que o trabalho mais eficiente, o de mais futuro, realizado por V. na FEB é o do livro. Vamos refletir um pouco sobre isso.

      O instrumento de ação principal da FEB tem sido o livro, Nesse domínio o Brasil ocupa posição inconfundível porque:
     
      1) Só ele manteve em vigor a obra de Roustaing , esquecida no mundo todo;

      2)    Só ele tem recebido obras mediúnicas do alto nível de "Parnaso de Além-Túmulo", "Antologia dos Imortais;  "Há dois mil anos.. ", "Paulo c Estêvão", "Memórias de um suicida”;

      3)    Só ele tem publicado obras de Doutrina em Esperanto.

      Parece, pois, que tudo concorre para confirmar aquela missão do Brasil e para nos demonstrar que o principal instrumento de trabalho que os nossos Guias escolheram é o livro.

      Se assim é, sua principal missão é mesmo essa de fortalecer a obra do livro espírita e para isso lhe foi dado, dentro do próprio lar, um grande colaborador como é o Zêus.

      Parece, portanto, que a sua vida está certa, vai sendo bem aproveitada e poderá ser repetida: sem mudar de programa.

      Em sua próxima edição, porém, Você já aprenderá o Esperanto na escola e o livro em Esperanto a pouco e pouco irá tomando o lugar do livro em português, porque o Esperanto estará amplamente divulgado e surgirão os grandes médiuns esperantistas para ampliar o trabalho do Lorenz e do Porto Carrero.  

      lmagine Victor Huqo , Guerra Junqueiro, Dante, lermontov, Pushkin, Sakespeare, Tolstoi, Petrarca, Rolan, Racine e mil outros escrevendo suas obras-primas em Esperanto pelas mãos de muitos médiunIs do gabarito do Chico e do Waldo.  

      V. me disse pelo teletone, que diante do heroísmo do Félix que deixou a direção de "Almas Irmãs" para vir numa encarnação sacrificial salvar a mulher que ele mesmo desencaminhara 150 anos antes, nós nos sentimos arrasados, como pó da estrada. V. tem razão, mas procura consolar-me pensando que se estivéssemos desencarnados e considerando a vida de um ponto de vista mais alto, também nós teríamos mais coragem de enfrentar responsabilidades. Quando encarnados, nossa visão fica muito limitada.

      Não digo que alcançaríamos a altura do Félix, isso não, mas poderíamos ser um pouco mais corajosos do que somos hoje.

      Só uma coisa me entristece um pouco: o Esperanto deixará de ser ideal na mão de idealistas e será propriedade de todos, como o jornal, o livro, o rádio, de modo que os maus hão de servir-se dele para pregar a desunião e a guerra. As mais belas coisas, quando entregues a todos passam a ser empregados para o mal. Veja a aviação,  a imprensa, o rádio, a televisão.

      Esperemos, porém, que nesse tempo a difusão do Espiritismo já tenha melhorado um pouco o homem e ele não empregue tudo para o mal.

      Se não podemos ser como o Félix, sejamos mesmo como o Wantuil e o Ismael, apenas um pouco melhorados.

      Um cordial abraço do irmão muito amigo e admirador,

(a) Ismael


Suas Últimas  Vontades


            No ano de 1962, seu estado de saúde não andava muito bom. Mesmo assim, não largava o  trabalho, cumprindo abnegadamente seus deveres. Sentia, porém, que o organismo falhava, dificultava-lhe as ações.

            Foi quando, por via das dúvidas, passou para o papel as suas vontades, caso lhe sobreviesse a passagem para o mundo dos Espíritos:

            Aos cá de casa:

        Tudo indica que não tardo a retornar à choupana em que eu habitava no outro plano da vida. Tenho esperança de que não me demorarei muito por lá, pois, ao que me parece, o meu trabalho deve ser realizado aqui na Terra.

        Confiado em que ninguém terá o desejo de me contrariar, peço:

        a)     que tudo façam para que a minha velha carcaça seja levada para a “capela” do Caju;
        b)     que o caixão e o enterro sejam bem modestos;
        c)     que só deem aviso do meu decesso, após o enterro. Com isso, evitaremos que os amigos abandonem o trabalho para uma cerimônia de nenhum valor;
        d)     que avisem a hora do enterro a um ou dois diretores da Federação, a fim de que não sejam eles acusados por não terem comparecido ao meu sepultamento;
        e)     que não compareçam a qualquer sessão que alguém se lembre de realizar em minha homenagem. Não mereço homenagens e sou contrário a tais cerimônias ;
        f)     que digam, aos que falarem em mim, que peço e agradeço, de todo o coração, as preces individuais que façam a meu favor;
        g)    que todos fiquem sabendo que eu mesmo reconheço ter feito pouco em benefício da coletividade, mas também reconheço que dei tudo quanto me foi permitido pelas minhas fracas forças físicas, espirituais e intelectuais.
        Aqui ficam, também. os meus agradecimentos a quantos me ajudaram a caminhar para Deus e o meu até breve a todos vocês.

                        23/X/1962    -    67' aniversário
                                        (a) A. Wantuil.

P.S. - Não se esqueçam: o carneiro tem o número 1.535 c fica na Quadra 38 do Caju.
                                                                  (a) A. W.

            Ao seu sepultamento, ocorrido no Cemitério de S. Francisco Xavier (Caju), às 14 horas de 12 de março, compareceu grande número de velhos companheiros de lutas e trabalhos espíritas, aí incluída toda a Diretoria da Federação Espírita Brasileira, tendo feito a prece de despedida, com muita emoção, o seu grande amigo de labutas febianas e atual Presidente da Casa de Ismael, Dr. Armando de Oliveira Assis.

            Telegramas de todos os cantos do país complementaram as homenagens devidas ao laborioso obreiro do Espiritismo em terras de Santa Cruz.


Mensagem de Bezerra de Menezes

            Na reunião pública realizada na sede da FEB, terça-feira, 12, dia imediato ao da desencarnação de Wantuil de Freitas, foi, pela médium Maria Cecília Paiva, recebida esta comunicação de Bezerra de Menezes:


A Chegada do Justo
           
            Aproveitando o ensejo da lição grandiosa sobre a imortalidade, renovamos aqui nossas saudações aos companheiros em lides espirituais no orbe terrestre, que se esforçam para renovar a face do mundo, implantando os princípios duma era nova para que novos céus acobertem a Terra.
            Como deixar de trazer aos corações amigos a auspiciosa notícia, não da partida do justo, mas de sua chegada no Mundo Espiritual? Tentaremos traduzir a alegria, o júbilo que cerca o Espírito que se desvelou pelo constante trabalho enobrecedor, castigou--se sob o férreo punho da calúnia, da perversidade, e ergueu-se pleno de perdão, abençoando os que o maldisseram e caluniaram. Como descrever o júbilo daquele que vê sua humilde túnica transformar-se em esplêndida veste, o traje adequado para o banquete que o Senhor lhe preparou? Nosso companheiro está regiamente acomodado nos planos mais altos, sob as bênçãos amoráveis do Senhor, recebendo dos amigos os sinceros abraços e felicitações.
            A alegria é uma flor perene no coração do justo. Não perde o brilho nem o perfume; ornamenta-lhe a alma, coroa-lhe a fronte, rejuvenesce-lhe os tecidos sutis, modifica-a para os júbilos do reencontro. A saudade dos que ficam transforma-se em preces de humilde louvor, em súplicas de paz e bênçãos de trabalho para os entes queridos. Por isto, o Espírito do justo reveste-se de brilho intenso, orna-se de luzes e abençoa os trabalhos e sofrimentos que a existência lhe impôs.
            Deixando um rastilho de luz, pelos exemplos de perseverança, de paciência e principalmente de esquecimento aos que o ofenderam, o justo esplende na glória do Senhor, porque o trabalhador é sempre digno de seu salário, e o salário do justo é a glória da vida imortal, nos reinos do Infinito.
            Não estamos fazendo aqui os elogios desnecessários, mas escrevendo uma páqina "post-mortem" para os que ficam na labuta do mundo, O exemplo de trabalho e perseverança, paciência e tolerância, humildade e amor de nosso confrade, é digno de ser imitado por quantos seguem as pegadas do Mestre e desejam transformar os corações em focos de luz para o terceiro milênio, Saudamos com intenso júbilo a chegada de nosso irmão no plano mais alto e desejamos àqueles que o substituem nas lides terrestres a mesma perseverança e fé nos trabalhos de lsmael.  Saibamos aproveitar todos os seus bons exemplos, em benefício de nossas existências, de nosso progresso e evolução. Possa o nosso irmão Wantuil ser lembrado como o discípulo fiel do Senhor, abençoado por suas mãos generosas e divinas.
            Que o Mestre nos alente para prosseguirmos em nossas labutas em benefício de todos.
                                                                               Bezerra






Palavras de Guillon Ribeiro

            Também se manifestou, através do médium Olímpio Giffoni, na sessão do Grupo Ismael, efetuada no dia 14 de março, o Espírito Guillon Ribeiro, ditando esta mensagem pertinente ao companheiro que vinha de transpor a fronteira da Espiritualidade:

            Companheiros.
               
                Deus seja louvado,

                Graças ao infinito amor com que somos envolvidos, aqui estamos com muita alegria recepcionando um servo de Jesus que retorna ao repouso merecido, após uma longa jornada de trabalho sem temores da inclemência do tempo, do sol, como das tempestades que teve de enfrentar para que a tarefa a ele confiada
fosse executada de acordo com o programa emitido pela Espiritualidade Maior.
                Como não poderia deixar de ser, o local escolhido foi a nossa oficina, a forja onde todos nós que por aí passamos direta ou indiretamente temperamos o aço com que nos armamos para o combate nas fileiras de N. S. Jesus-Cristo.
                O nosso salão de conferências, o daqui, o que tem dimensões infindáveis, o que abrange toda a área confiada a Ismael, tem suas portas abertas a imensas multidões de Espíritos, de certa forma motivados em suas condições evolutivas pela ação de além-túmulo, posta em prática dentro das repercussões do movimento espírita das Terras de Santa Cruz. Aqui se encontram confrades e adversários da Doutrina, uns ansiosos por conhecê-lo, outros por revê-lo. Não diremos que os anjos tocam harpas nem que melodias entoadas por coros celestes estão presentes, mas que estamos todos alegres e que, por divina misericórdia, festejamos o regresso do nosso Wantuil.
                Esperemos que ele possa dizer-vos algo, ainda hoje, se as emoções naturais do momento puderem ser superadas, Ele está presente, assim um tanto assombrado, meio alegre, meio triste.
                Deus nos abençoe, irmãos, e possa a Virgem Maria nos assistir,

                                                                                                              Guillon


            A multifária atividade desse saudoso e grande Presidente da Federação Espírita Brasileira - em todos os setores que dizem respeito ao movimento espírita, com sua interferência, direta ou indireta, nos mais delicados problemas que exigem alto tirocínio administrativo e profundos conhecimentos doutrinários - tornou-o admirado, respeitado e mesmo querido, entre os correligionários de todo o Brasil e do estrangeiro, firmando-Ihe a reputação de verdadeiro líder.

            Seu nome, acompanhado de pequena biografia, acha-se registrado na página 2925 da "Grande Enciclopédia Delta Larousse" (5º volume), impressa em 1970 pela Editora Delta S.A." do Rio de Janeiro.







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