06 e final Ana
Prado
e os Fígner
Nogueira de Faria
in ‘O Trabalho dos
Mortos’ (FEB)
5ª Ed.
1990
”Os
Sensacionais Fenômenos Espíritas”
Duas horas e 40 minutos materializada! - Pais
que reveem a filha falecida –
Muitos
Espíritos materializados na mesma sessão - O que nos disse o Sr. Fred Fígner
Em uma das vezes em que veio a
público, pela imprensa, o Sr. Fred Fígner, chefe da Casa Edison, do Rio de
Janeiro, afirmou ter visto sua filha, falecida há muitos meses, completamente
materializada, por virtude da medi unidade da Sra. Eurípedes Prado, nesta
Capital.
Depois desta declaração, e, aliás,
antes dela, começaram a circular na cidade diversas narrativas dos sensacionais
acontecimentos. Resolvemo-nos, pois, obter do Sr. Fred Fígner, hospedado no
Grande Hotel, uma entrevista, na qual pudéssemos informar aos nossos leitores,
com absoluta segurança, o que de verdade havia naquelas narrativas.
Dirigimo-nos, assim, àquele hotel,
onde fomos recebidos cavalheirosamente pelo Sr. Fígner.
Formulado nosso desejo, S. Sª.
falou:
- Deseja o senhor que lhe relate os
fenômenos por mim presenciados e produzidos com a privilegiada mediunidade da
Sra. Eurípedes Prado? Pois não, Sr. Redator, com muito prazer. Vou dar-lhe
alguns pormenores que presenciamos, eu e minha família, em três sessões
riquíssimas de fenômenos.
Começarei por lhe dizer que aqui
vim, não por curiosidade minha, visto que sabia ser a materialização um fato
comprovado por Crookes, em primeiro
lugar, em Londres, desde o ano de 1871,
quando começou, então, a hoje célebre materialização de Katie King, servindo de
médium a Srta. Florence Cook, e,
seguidamente, experiências idênticas relatadas por tantas outras sumidades
científicas.
Vim com o fito único de minorar a
tristeza e a dor que acabrunhavam minha esposa, por haver desencarnado uma
filha nossa muito amada.
Aqui chegando, tive a desilusão de
não encontrar a família Prado. Recebido pelos meus confrades, prontificaram-se
eles a telegrafar ao Sr. Prado, participando-lhe minha chegada com a família, e
pediram, se fosse possível, viesse até aqui. A despeito de adoentada sua
esposa, resolveu ele aceder ao apelo, aqui chegando no “Pais de Carvalho”, no
dia 28 de Abril, depois de uma penosa viagem de 7 dias.
No dia 1º de Maio, fez-se uma sessão
preliminar, a que estiveram presentes, além da família Prado, a família Manoel
Tavares, a família Bosio e o Dr. Mata Bacelar.
Materializaram-se João e um Espírito
denominado Evangelista. Havia bastante
luz e distinguiam-se os Espíritos perfeitamente, como se fossem homens com
vestes brancas que andassem de um lado para outro. Demorou-se João bastante
tempo conosco, de forma que bem o pudemos ver e sentir. Minha esposa,
dirigindo-se a João, contou-lhe seu sofrimento, o que atento ele ouvia. Recebeu
de minha senhora umas flores que ela levara, as quais João passou para a mão
esquerda. Em seguida estendeu João a mão direita à minha senhora, fazendo ela o
mesmo; João passou sua mão sobre a dela,
fazendo-lhe sentir que estava perfeitamente materializado.
Por fim, João, sacudindo um lenço em
sinal de despedida, entrou na câmara, começou a desmaterializar-se às nossas
vistas, como o fizera quando se materializou. Daí a pouco, ouvíamos umas
pequenas pancadas que ele dava no rosto da médium para a despertar.
Esta primeira sessão me deixou
completamente frio, visto que eu vira tão somente aquilo que esperava.
Tudo aquilo era coisa muito natural
para mim, quanto à sua realidade.
Minha esposa, porém, apesar de
também conhecer, de leitura, os fenômenos, ficou muito satisfeita, começando a
nutrir esperanças de ver nossa filha, moça de 21 anos, desencarnada
a 30 de Março de 1920.
A segunda sessão, realizada a 2 de
Maio, foi, realmente, muito mais importante.
Havia nessa ocasião pessoas que não
conheciam os fenômenos, bem como a Doutrina Espírita, entre elas o Dr. Remígio Fernandez, o Sr. Barbosa e a Sra.
Pernambuco.
Materializaram-se muitos Espíritos
de diversas estaturas, entre eles a nossa cara filha RacheI.
Mas, devido talvez ao excessivo
número de materializações, que absorveram muitos fluidos, e entre os Espíritos
materializados um de nome Diana que, creio, se apresentou com um brilhante
diadema na cabeça, a materialização da nossa RacheI não era tão perfeita como
esperávamos; no entanto, era bastante para ser reconhecida por todos nós. Nessa
sessão, ela perguntou, à sua mãe, “porque aquele vestuário preto, visto que ela
se sentia muito feliz”.
No dia 4 de Maio fizemos outra
sessão, e nesta a materialização de
nossa filha foi a mais perfeita possível. Rachel apresentou-se com tanta perfeição, com tanta graça e tão ela
mesma, com os mesmos gestos e modos, que não pudemos conter nossa emoção e
todos, chorando, de joelhos, rendemos graças a Deus, por tamanha esmola.
Era RacheI viva, pronta para ir a
uma festa. A sua cabeça erguida, os seus braços redondos, o seu sorriso
habitual, as suas bonitas mãos e até a posição destas, toda sua exatamente como
era na Terra. Falou à mãe, pedindo-lhe exatamente que na próxima sessão viesse
toda de branco como desejava e aí estava materializada.
Rachel tocou todos nós com sua mão;
sentimos todos o seu calor natural e, à observação de minha esposa: “Rachelzinha,
tu tinhas os cabelos tão bonitos, mostra-nos os teus cabelos”, ela entrou no
gabinete e, voltando instantes depois, virou-se duas vezes, mostrando-nos seus
cabelos compridos e ondulados. Aceitando as flores que lhe oferecemos, fez sua
mãe sentar-se em uma cadeira junto ao gabinete e de costas para este.
Abraçou-a e beijou-a muito carinhosamente, depois lhe colocou uma rosa na blusa
branca, que minha esposa vestira para ser agradável à filha, que na véspera não
gostara de vê-Ia de preto. Na ocasião em que lhe colocou a rosa, falou-lhe de
seus próprios lábios, dizendo-lhe: “Não quero que ande de preto, ouviu? Quero
que venha toda de branco, assim como eu estou.”
Toda essa frase minha filha a
pronunciou tão clara e distintamente que todos, além de minha esposa, a
ouvimos.
Depois, sentando-me eu na mesma
cadeira por ordem sua, acariciou-me como fizera à sua mãe, colocou uma angélica
na lapela de meu paletó, apoiando-se com
todo o peso de seu corpo sobre meus ombros. Por fim, sacudindo um lenço em sinal
de despedida, entrou no gabinete e desapareceu.
Puxei o relógio, Rachel tinha estado aí 40 minutos. Depois
saiu o João e cantou, muito satisfeito com a materialização de sua discípula.
A 6 de Maio fizemos a última sessão,
O resultado foi o mesmo da anterior,
com acréscimo de RacheI fazer diante de nós uma luva em parafina de sua mão
esquerda, consultando muitas vezes João, que se achava no gabinete, porém à
nossa vista, durante todo o tempo em que ela trabalhava com a parafina. Logo ao
se materializar, RacheI, saltando e batendo palmas, demonstrou sua satisfação
por ver sua mãe toda de branco; e ao despedir-se, pediu-lhe que levasse sua
irmã Leontina às festas e ao teatro, como fazia com ela. RacheI esteve conosco, nessa ocasião, durante duas horas.
Por fim, pedi a RacheI que me permitisse beijar-lhe a mão.
O mesmo pedido foi feito por minha esposa e mais duas filhas aí presentes, além
de umas 10 pessoas. Ela deu a mão a beijar à sua mãe e à menor das suas irmãs;
e, aproximando-se de mim, num gesto rápido, todo seu; pegou minha mão com bastante força e beijou-a. E, sacudindo um
lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete. Não sentimos sua partida, pois
estamos certos de que não será esta a última vez que a veremos. Rachel vive!
disto estava certo antes de aqui vir e continuo na mesma certeza.
Tenho entretanto de confessar que
estas duas horas e 40 minutos foram para todos nós o tempo mais feliz de nossa existência.
E permita-me que, por seu
intermédio, uma vez mais agradeça ao Sr. e à Sra. Prado o sacrifício que
fizeram de vir aqui, e ao maestro Bosio e senhora as gentilezas de que nos
cumularam, assim como a todos os confrades e amigos o acolhimento que nos
fizeram. Agradeço também à “Folha do Norte” pela cessão de suas colunas, Que
Deus lhes pague!”
Nota
Oficial
Eis finda a nossa tarefa. De bom
grado reuniríamos em apêndice tudo quanto se escreveu na imprensa de Belém
sobre os fenômenos espíritas observados pelo Sr. Eurípedes Prado, desde os
artigos do reverendo padre Florêncio Dubois às notícias mais simples. Isso,
porém, daria a este volume proporções que ele não comporta.
Parece-nos ter colhido o que houve
de mais útil e mais esclarecedor sobre o caso.
Resta-nos um conforto: sentimos bem
que não nos afastamos da linha de absoluta imparcialidade e justiça.
Isso nos basta.
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