05 Ana
Prado
e os Fígner
in “O Trabalho dos Mortos (o livro do
João)” (FEB)
de Nogueira de Faria (FEB) 5ª Ed.
1990
Quarta sessão a 6 de maio de 1921
Na noite de 5 para 6, D. Nicota, a
médium, sonhou que João lhe dizia que no dia seguinte, 6, haveria sessão de
materialização e que Rachel faria sua mão em parafina líquida, à vista de
todos; imergiria duas vezes a mão na parafina e em seguida iria tocar em seus
pais para lhes mostrar e fazer sentir o calor da parafina.
Ao amanhecer, D. Nicota referiu ao
Sr. Eurípedes, seu marido, o que sonhara. Depois, dirigindo-se a João,
pediu-lhe que confirmasse o sonho. Imediatamente, um álbum, pelo qual dá ele
sinal da sua presença, se moveu saindo da posição em que estava. Colocaram-no
de novo no lugar donde saíra e D. Nicota disse: “Move-o outra vez para termos
confirmação.” Logo o álbum se moveu à vista dos presentes. Estava, portanto,
confirmada a veracidade do sonho.
À noite houve a sessão de que João
falara à sua médium. Foi, porém, muito íntima, pois João desejava que os
fenômenos se produzissem muito perfeitos e, na sua opinião, a presença de
incrédulos na assistência poderia prejudicá-los .
Marcou a sessão para as 8 horas da
noite. Mas, como algumas pessoas só poderiam chegar depois das 8 horas, o Sr.
Eurípedes procurou convencê-Io de que melhor seria começar um pouco mais tarde.
Ele respondeu: “Não; deve ser às 8 horas em ponto. Depois verás justificada a
minha insistência por principiar a essa hora.” E tinha razão, pois que a sessão
só terminou quase à meia-noite.
Às 8 horas em ponto, portanto, foi
ela aberta, estando presentes o Sr. Eurípedes e senhora (a médium), Dr. Mata
Bacelar, senhor e senhora Manoel Tavares, maestro Bosio e senhora, Fígner,
senhora e filhas Leontina e Helena.
Satisfazendo aos desejos
manifestados por minha filha na sessão anterior, apresentei-me toda de branco.
Apagaram-se as luzes e instantes
depois observamos que a materialização começava. Logo que esta tomou forma,
reconhecemos a nossa adorada Rachel , Assim saiu da câmara, o seu primeiro
gesto foi, como sempre, o de se ajoelhar e orar, no que a acompanhamos. Apenas
viu que eu me achava de branco, manifestou grande satisfação. Falava, batia palmas e pulava de alegria,
como costumava fazer na Terra, quando
experimentava um vivo contentamento , Dizia: “Que bom! Estou muito contente!
Mamãe está toda de branco! Está tão bonitinha!!”
Dizer da minha felicidade, por poder
uma vez mais ver minha filha, perfeita
como era e dando mostras de alegria, tal qual fazia aqui na Terra, é coisa
impossível. À criatura faltam palavras para definir o que sente nesses momentos
de suprema ventura. Prossigamos.
Depois dessa demonstração de
alegria, a minha Rachel começou o trabalho da moldagem da sua mãozinha em
parafina líquida e quente. Cumpre notar que João me mandara dizer pela médium o
seguinte: “Diga-lhe que, quando a filha puser a mão na parafina, não deve
exclamar - coitadinha! -- pois que Rachel não sente dor alguma.”
Conforme ele havia anunciado, RacheI
começou o trabalho imergindo duas vezes a mão na parafina e em água fria. Em
seguida, veio a mim e colocou a sua mãozinha enluvada de parafina dentro da
minha. Depois, retirando-a, colocou a outra que estava com luva de parafina, a
fim de eu sentisse e notasse a diferença da temperatura. O mesmo fez com o pai.
Ao colocar a sua na minha mão, ela estava bem defronte de mim e muito
perto, de sorte que, não só eu lhe sentia e via a mão, como via perfeitamente o
rosto. Era a minha RacheI, tal qual eu a tivera na Terra. O rosto, o pescoço, o
colo eram os seus. Não havia para mim possibilidade de ter a menor
dúvida de que fosse a minha muito querida filha. Aproveitei assim as duas
sensações ao mesmo tempo: via e sentia a
minha filha. Só Deus me poderia dar tamanha felicidade, treze meses
após a desencarnação dela.
Depois de se mostrar bem a todos,
Rachel voltou aos baldes de parafina e água fria e quente, continuando o
trabalho durante umas duas horas. Víamos minuciosamente esse trabalho,
porquanto a luz era bastante forte e nos permitia distinguir tudo. Metia a mão
na parafina fervendo, depois na água fria, examinava o molde e de quando em quando
ia à câmara consultar o João que se conservava dentro desta e que, ao que
suponho, lhe dava instruções. Durou tanto tempo esse trabalho que a água e a
parafina esfriaram. Verificado isso, Rachel entrou na câmara e João, pela
médium, deu ordem para que novamente aquecessem a água e a parafina. Como
demorassem para apanhar as vasilhas,
disse ele pela médium: ”Deixem,
vou materializar-me para entregar as vasilhas. ”Em seguida saiu da câmara,
tomou a panela de água e a colocou defronte dos assistentes. Pegou depois do
balde de parafina, que é bastante pesado e, suspendendo-o com o braço estendido
e firme, o foi colocar junto da panela. Provou assim a sua completa
materialização, exibindo a força da sua musculatura perfeitamente humana.
Enquanto aqueciam a água e a parafina, pôs-se ele a brincar conosco.
Em dado momento, esbarrou na tampa
da panela, que ficara no chão. A Sra. Tavares disse: “O João não viu a tampa,
coitado!” Ele imediatamente se abaixou, apanhou a tampa e a entregou àquela
senhora, como que a lhe dizer: Vejo muito bem.
Os
Espíritos se materializam tão perfeitamente, ficam tão humanizados que, como
nos acontece a nós, esbarram nos objetos que se acham em seu caminho. Não se
tem a menor impressão de um fantasma.
Doutra vez, ele esbarrou numa
garrafa de aguarrás que também estava no chão e fê-Ia cair. Ato contínuo, abaixou-se,
apanhou a garrafa e foi colocá-Ia num lugar afastado de seu caminho. É
simplesmente assombroso! Não há palavras que o descrevam.
Enquanto esperávamos as vasilhas,
João pediu lápis e papel. Frederico foi buscar o que ele pedia e entregou à
Sra. Tavares para que lhe passasse uma folha de papel e dois lápis, um deles
numa lapiseira de metal. João experimentou no papel qual dos dois lhe convinha
mais e preferiu o da lapiseira. Disse então alguém: “Vamos ver que surpresa
João nos vai fazer.” Ao que ele respondeu pela médium: “Não é agora. Só depois
de concluído o trabalho da parafina.”
A Sra. Tavares, pilheriando, disse: “Ganhei
do João um presente” - referindo-se à tampa da panela que ele lhe dera para
segurar. João, a gracejar, respondeu pela médium: “Isto não é sério.” Depois,
ainda pela médium, pediu trouxessem as vasilhas que estavam demorando muito.
Daí a pouco desceram as vasilhas e foram colocadas sobre os bancos que lhes
eram destinados. Ele, a conversar conosco enquanto as arrumava, disse com seus
próprios lábios: “Agora virei cozinheiro.”
Em seguida, entrou na câmara e logo
surgiu a nossa querida Rachel, que ainda por muito tempo continuou o trabalho que
começara. Ouvia-se o mergulhar da sua mãozinha na parafina e na água fria. De
vez em quando derramava água e parafina no chão. Isso acontecia sempre que
retirava bruscamente a mão de dentro da vasilha. De espaço a espaço pegava uma
ponta do vestido e passava no molde, como que para secar ou alisar. Por mais de
uma vez no curso do trabalho, João, pela médium, pedia que tivéssemos
paciência, por isso que aqueles trabalhos são demorados.
Era
ela, sempre ela, que ali estava diante dos nossos olhos. Já durava tanto a sua
materialização, que tive a ilusão de se achar minha filha aqui na Terra sem
haver desencarnado. Depois de muito trabalhar, a minha Rachel deixou o
molde dentro do balde de água fria e entrou na câmara.
Disse então, João, pela médium, que
a nossa irmã Anita viria fazer umas flores de parafina em a nossa presença.
Veio Anita, tirou a vasilha de água quente, que estava em cima do banco,
colocou-a no chão, e, puxando o banco, sentou-se junto à vasilha e começou o
seu rápido trabalho. Esteve uns dez ou quinze minutos a fazer a flor, Uma vez
pronta, imergiu-a no balde de água onde estava o molde e João disse, pela
médium, que Anita havia feito a flor, para que a irmã Rachei a entregasse
juntamente com o molde.
Efetivamente, logo apareceu Rachei e
tirou com muito cuidado o molde e a flor de dentro de água. Trouxe o primeiro e
o depositou em minha mão, Recebi-o com todo o respeito e cheia da mais viva
satisfação, Entregou a flor a Frederico. Emocionadíssimos, agradecemos, pedindo-lhe nos desse suas mãozinhas para
beijar. Deu-me a mão, que beijei com
muito amor e carinho, Helena pediu que também lhe deixasse beijar a mão e ela deixou. Frederico fez o mesmo pedido, Ela
lhe estendeu a mão, mas não consentiu que ele beijasse, até que, em certo momento,
rapidamente se ajoelhou e, puxando fortemente a mão do pai, deu-lhe um beijo
estalado, que toda a assistência ouviu.
Leontina igualmente lhe pediu que a
deixasse beijar-lhe a mão, ao que ela não acedeu. Mas, voltando-se para mim,
como se tivesse a intenção de provar à irmã que não se esquecia dela, disse-me
pelos seus próprios lábios: “Mamãe, leva
minha irmã às festas e ao teatro, como fazias comigo. Leontina, tão bonitinha!”
Leontina, chorando, muito comovida, agradecia.
RacheI
conservava-se bem defronte de nós,
mostrando--nos completamente o semblante, de acordo com o que já nos havia
dito anteriormente numa sessão de tiptologia, antes de partirmos para o Pará. A
todas as pessoas presentes mostrou nitidamente o seu rosto, seu colo, seus
braços. Mostrou-se, enfim, perfeitamente
materializada, como se estivesse viva na Terra.
Certa vez em que ela estava diante
de mim, perguntei-lhe: “Minha filha, foi Aluízio ou Gabriel que aqui veio na
última sessão?» Ela me respondeu de seus próprios lábios: “Bilé”. Prova
magnífica foi essa da sua identidade, pois ali só ela e nós conhecíamos o
apelido do nosso Gabriel. Rachel disse isso numa ocasião em que desfolhava
rosas sobre as nossas cabeças.
Tendo tirado o lenço que trazia no
decote do vestido e depois de se ter
mostrado muito claramente, sob o
máximo de luz que os aparelhos preparados podiam dar, ela se retirou para a
câmara e, saindo de novo, ia, com aquele mesmo lenço, começar os acenos de
despedida, quando lhe pedi: “Minha filha, espera um pouco. Temos aqui umas
flores que trouxemos para te dar.” (As flores não tinham sido entregues antes,
por haver João dito que só o fizéssemos depois do trabalho de parafina.)
RacheI voltou-se para o interior da
câmara, como que a pedir instruções, ou a transmitir o pedido, penso que a
João. Logo, porém, voltou, recebeu de nossas mãos os flores, distribuiu-as
conosco e com os demais assistentes. Conforme
costumava fazer aqui na Terra, nos dias de aniversário meu e do pai, desfolhou algumas rosas e espargiu sobre as
nossas cabeças e sobre as das irmãs, dando-nos uma impressão viva à sua personalidade terrena. Foi uma cena emocionante. Todos
choravam!!! Depois, erguendo as mãos para o céu, disse, de sua própria boca: “Graças
a Deus. Sinto-me contente por ter vencido a dor de mamãe. Vou subir muito
alto!!!” Tomou de novo o lenço e acenou com ele durante muito tempo, a
despedir-se.
Comovidíssímos, nós lhe diziamos: “Adeus,
adeus, filha adorada. Deus te abençoe, Deus te pague.” Eu não me podia conformar
com a ideia de que a minha filha partisse de junto de mim, pois que a sua presença não foi uma simples
materialização; foi uma perfeita ressurreição. Todos os que hão assistido
aos fenômenos, inclusive o Sr. Prado, marido da médium, ficaram maravilhados, dizendo nunca terem visto tanta perfeição.
Os espíritas do Pará sentem-se felizes por essa grande graça de Deus.
Tornamo-nos todos membros de uma só família.
Deus de bondade, Deus de
misericórdia, perdoa os momentos de desespero que tive e dá que eu possa
praticar atos dignos da grande esmola que do teu infinito amor recebi.
Após a despedida de RacheI, veio João, como sempre perfeitamente materializado, e, puxando um dos bancos em que
estiveram os baldes, pôs-se a escrever, dando-nos portanto a surpresa que nos
prometera para depois do trabalho de parafina.
Quando começou a escrever, debruçado
sobre o banquinho, a ponta do lápis quebrou. Então, ele se levantou e pediu um
outro lápis, dizendo que o primeiro se havia quebrado. Frederico passou-lhe um
outro, como o faria a uma criatura da Terra, João o tomou e, virando o papel do
outro lado, escreveu à nossa vista o seguinte, que se acha reproduzido na
gravura 46.
“Saudades
vou assistir a fotografia no girar.”
Depois, acenando com o lenço em
sinal de despedida, entrou no gabinete e se desmaterializou, como o fizera das
outras vezes.
Esther Fígner
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