Perdão
“Bem aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia.”
“Não te digo que perdoe sete vezes, mas setenta vezes sete.”
Como entender essas luminosas palavras do Mestre de todos os
mestres? Então, devo perdoar sempre, incondicionalmente?
Sim. Perdoar sempre, incondicionalmente, ilimitadamente. Pois se
estou certo de que Deus perdoará as minhas
ofensas, porque sou filho de seu
Amor, fruto de sua Sabedoria, como poderei negar perdão ao meu próximo que é
também filho de Deus, como eu, por conseguinte ― meu irmão?
Penso, às vezes, que sou maior pecador do que aquele que me fez
mal... Ele pecou contra mim, mas eu pequei mais: pequei contra Deus, senão meu
ofensor não teria podido levantar ofensa contra mim.
Este princípio me parece verdadeiro: ― não podemos negar perdão
aos nossos adversários porque carecemos todos, antes de tudo, do perdão de
Deus. Como esperar de Deus perdão para as nossas enormes transgressões às suas
Leis, se não aprendemos ainda a desculpar os pequenos deslizes de nossos irmãos
para com o nosso exagerado amor próprio?
Deus! Deus é misericordioso, compreende e se compadece de nossas
fraquezas de Espíritos ainda atrasados, tratando-nos mesmo com piedade. Nós!
Nós é que somos iníquos. Custa-nos relevar as faltas do nosso próximo, e, por
cima, tratamo-lo ainda com rudeza.
Entretanto, dando profundidade a estes raciocínios, quero crer não
haja propriamente maldade dentro do mundo: Há IGNORÂNCIA. Os homens não querem
compreender que aquilo que impropriamente chamamos mal, nada mais é que uma linha desviada de sua correta direção, na geometria do Existir. A régua imperfeita da conduta do homem sem luz interior, sob o lápis da livre vontade, deu origem às linhas tortuosas dos destinos!...
Deus, naturalmente, deixa guardado no íntimo do Espírito, que
parte de suas mãos para a grande marcha através dos evos, esse sentimento
sublime de elevação espiritual que se chama ― Amor.
Entrando na posse do livre arbítrio, negligenciamos, sufocamos a
chama interior, afastamo-nos do caminho para penetrarmos como as aves noturnas,
no imenso abismo de trevas, até o terrível momento em que nos vamos reconhecer perdidos
no pântano infecto de todos os males, de todos os crimes, de todos os pecados,
onde choramos a ranger os dentes.
Todavia, levados pela agudez da dor, considerando a nossa
incapacidade espiritual de suportá-la eternamente, já sem ousar levantar os
olhos para os Céus em sinal de desafio, lembramo-nos do Pai todo amor e todo misericórdia, rogamos, arrependidos, o perdão necessário.
No íntimo profundo de nossas almas, sabemos que um perdão foi
concedido porque Deus é bom!
Mas, quantas vezes perdoamos a alguém que por uma questão de
ignorância nos fere e, constantemente, ficamos a relembrar a ofensa recebida!
Terá havido realmente perdão? Perdoar não será esquecer a ofensa recebida, já
que não nos sentiríamos perdoados por Deus se soubéssemos estar Ele sempre a
recordar-nos o pecado cometido?
*
Amo o Evangelho porque o propósito de tudo me esclarece. Jesus
prega o perdão incondicional e o exemplifica.
Ah! Se os homens lessem o Evangelho com os olhos do Espírito! Mas
o Evangelho de Jesus, não esses livrinhos enfeitados, cavilosos, repletos de
quadrinhos e figurinhas!...
Inaldo
de Lacerda Lima
in “Solilóquios do Espírito Liberto” (Ed. do Autor -
1958)
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