quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

02 / 04 Anchieta


02/04
 José de Anchieta
1553 – 13 de Julho – 1953

por Almerindo Martins de Castro
inReformador’ (FEB) Agosto 1953


            Quanto ao domínio do Espírito sobre a fragilidade do corpo: Em começo de 1595, quando as forças  já se lhe esgotavam rapidamente, à distância de vinte e poucos meses do túmulo, partiu para repousar na sua predileta aldeia de Reritiba (Iriritiba, hoje Anchieta). Saindo da casas do Espírito Santo  (hoje Estado desse nome), aquiesceu com os padres dali  em ser conduzido em rede. aos ombros de 4 índios, por ser esse o veículo de transporte naquele tempo. Mas, logo ao sair da então vila, lembrando-se de que a rede servia de esquife para os mortos, e parecendo-lhe que o levavam a enterrar vivo, desceu para o chão e andou a pé, deixando para trás os mais velozes dos seus condutores, confirmando mais uma vez o nome que os indígenas lhe haviam dado – caraibebe – homem de asas.

            O traço impressionante da mediunidade de Anchieta foi a ininterrupta manifestação em todos os setores, como se estivesse em permanente contato com o mundo dos Espíritos, captando ou recebendo a notícia, a revelação dos fatos, das coisas que a mente comum não pode saber ou adivinhar. Era o milagre do Céu passeando pela Terra.

            Profecia ou Premonição – Muitas e muitas vezes, transitando na rua,  ouvia prantos e lamentos. Entrava na casa de onde provinham e chegando junto do enfermo, tido por desenganado, ou quase agonizante, acalmava a desolação, afirmando que o doente teria cura, ou, então, exercendo a mediunidade curativa, o fazia erguer-se do leito, liberto do mal.

            Mas, essas profecias ou premonições se estendiam a circunstâncias de maior vulto e mais  distantes. Sobem a muitas dezenas tais vaticínios.

            Estavam de saída, da então vila de Santos, dois navios que se destinavam a aprisionar e fazer cativos índios, no chamado porto dos Patos, Indígenas que viviam em paz e amizade com os padres e os portugueses. José de Anchieta estava no púlpito, na sua pregação prognosticou que os barcos afundariam com os inumanos tripulantes. E assim foi, salvando-se apenas dois homens, que vieram,  contritos, confessar depois o arrependimento por não haverem aceitado a advertência de Anchieta.

            Com o mesmo intuito, Manuel Veloso de Espinha preparava-se - secretamente - para rumar ao dito porto, e por esse motivo não se animava a despedir-se de Anchieta, de quem era amigo. 

            Mas, este, mediunicamente, apreendeu a intenção de Manuel Veloso, e foi procurá-lo, dizendo-lhe:  "Sr. amigo, não convém fazer a viagem que andais traçando, porque não há de ter bom êxito.”

            Sentiu-se o cobiçoso ver-se descoberto; mas, comprometido nos aprestos e trabalhado pela ambição dos lucros, partiu às escondidas. A potente força mediúnica de Anchieta foi encontrar a bordo o cego amigo, e lhe provocou um sono súbito e o fez entressonhar com uma temerosa récua de Espíritos infernais; que se atiravam a ele, pretendendo arrastá-lo a ígneos tormentos. Despertando apavorado, quis regressar, sem embargo de todas as ponderações quanto ao absurdo de anular a viagem e aos prejuízos subsequentes. Mas, o aterrorizado homem abriu   mão de tudo quanto empregara no barco, para que o reconduzissem a praia firme. Tentados pelo valor do que lhes era deixado, concordaram os tripulantes, e, depois de desembarcar o Manuel Veloso, prosseguiram a viagem, e - .para sempre - porque do navio nunca mais houve notícia.   

            Essas premonições, numerosíssimas aliás, eram infalíveis em Anchieta.

            A muitas mulheres aflitas; que não tinham notícias do esposo, ausente a negócios ou em  expedições  perigosas da época, Anchieta segurança de regresso, quase sempre marcando dia e local em que o ausente devia voltar.

            A Frutuoso da Costa, de S. Paulo, e bem assim a muitos outros, em ocasiões diferentes, avisou para que não empreendesse viagem para Santos, pois seria morto. O prevenido desprezou profecia, e foi efetivamente assassinado, e com crueldade.

            E a premonição em Anchieta era verdadeiramente mediúnica, porque abrangia acontecimentos impossíveis de apreender por outra fonte.  
           
            Antônio de Saavedra, muito dedicado a José de Anchieta, pretendia seguir de Santos para o Paraguai, e foi por isso despedir-se. Anchieta desaprovou a viagem, aconselhando o amigo a permanecer e mesmo constituir família ali.  Saavedra, conformou-se mas disse que, a casar-se só aceitaria uma das filhas de Jorge Moreira.  "Assim será, disse Anchieta, de haverdes desposado Beatriz Gonçalves, porque esta morrerá, e só então casareis com uma filha de Jorge Moreira, não com a que tiver mais idade, e sim com a mais jovem."
           
            Tudo se confirmou, a seu tempo: houve os casamentos previstos no vaticínio de Anchieta, sendo que o navio, da pretendida viagem de Saavedra ao Paraguai, naufragou. A esse mesmo amigo salvou a vida, por mais quatro vezes: duas, impedindo, de viajar para a Bahia, pois as embarcações foram a pique; a terceira, evitando que o vitimassem numa aventura pecaminosa; a quarta, livrando-o de ser morto pelos cunhados, quando Saavedra se dirigia para o jogo da bola, sendo que coroou o grande bem, e conciliando os parentes com o amigo.

            Mas, o cimo de desdobramento da sua potência espiritual se comprova talvez com o fato de haver ele tido conhecimento mediúnico da desastrada peleja de Alcácer-Quibir, onde pereceu D. Sebastião, o rei de Portugal, isso: na própria data de 4 de Agosto de 1578.

            Essa força indefinível que os grandes médiuns exercitam nos passes, na fluidificação da água, no alivio e cura dos males, na materialização de coisas, e em outras demonstrações dos poderes do Espírito, José de Anchieta a possuía em grau que o tornou verdadeiramente célebre no seu tempo, mesmo para além das fronteiras do então incipiente Brasil.

            Certa vez (e não foi a única), em a carreira de acreditado estaleiro, estava um navio para ser lançado ao mar. Por motivo não descoberto, o barco permanecia emperrado, não havendo forças, nem acessórios adequados que o fizessem descer para a água. Esgotados todos os esforços, falhadas as tentativas, desiludidos e convictos de que não conseguiriam mover a nau, os interessados recorreram a Anchieta. Este, que jamais negou socorro a quem quer que fosse -, mesmo com enorme sacrifício do corpo -, avizinhou-se da embarcação, e, encostando a extremidade do seu cajado à quilha, fez, o movimento de empurrar o navio, e este deslizou imediatamente para o mar.

            Miguel de Azeredo, senhor de Engenho; no distrito de Espírito Santo, desejava ter nele uma enorme lágea, para servir de mesa de sua oficina; mas, dado o exagerado do tamanho, não dispunha de braços suficientes para o transporte do megalito. Sabedor do caso, falado em sua presença, Anchieta foi, em companhia de Azeredo, ao local, onde: lhe disse: "Mande V. Mercê vir a gente que eu ajudarei, e espero em Deus que lhe há de cumprir o desejo."

            Vieram os do Engenho e pondo Anchieta a mão na pedra, esta começou a mover-se, e a foram levando até à casa, onde parou. Poe segunda vez, Anchieta colocou a mão sobre o imenso bloco e moveram-no de novo e assentaram-no precisamente no lugar desejado. Celebrando o que para todos era milagre, batizaram o bloco "Pedra de José".

            As potências insondáveis de tais energias do Espírito mais e mais maravilham, porque se irradiam e até imantam, objetos que estiveram em contato com, o médium, os quais recebem e retém, polarizados, os fluidos desprendidos e concentrados na aura do médium. Assim, um barrete de uso de Anchieta curou muitas cefaleias, bastando que o padecente o mantivesse, por instantes, enfiado na cabeça.

            Casos indubitáveis, pelo copioso, e idôneo dos testemunhos; atestam que até com os ossos de Anchieta (repartidos quando da exumação, em 1609, doze anos depois do sepultamento) foram obtidas maravilhosas curas e outros prodígios, inclusive com águas benzidas (fluidificadas) com pedaços desses ossos.  







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