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José de Anchieta
1553 – 13 de Julho – 1953
por Almerindo Martins de Castro
in ‘Reformador’ (FEB) Agosto 1953
Quando a Humanidade espiritualizada
do futuro estudar os grandes vultos do passado esses heróis que as ondas
revoltas das tempestades do mundo atiram às praias do esquecimento, há de
maravilhar-se ante as figuras imortais que trouxeram aos seus contemporâneos,
as provas do quanto pode o Espírito ao serviço das eternas leis da vida universal.
Em todos os períodos da História do
mundo, em todos os povos das suas regiões, têm descido, das insondáveis
oficinas do Infinito, desses operários da Luz, aprendizes I da sabedoria divina,
para instrução dos analfabetos dessas
letras da Verdade, que só nas
aulas da Virtude as almas aprendem a unir em sílabas e em palavras.
Nas areias dessas praias de silêncio,
têm os espíritas deixado, durante um século,
permanecer sepulto, olvidado, desconhecido, um grande, extraordinário médium
que se chamou - JOSÉ DE ANCHIETA,
portador de todos os dons mediúnicos, o qual deu, na Terra e no Espaço, provas
de profundas raízes espirituais, confirmando, nas suas realizações, aquela afirmativa
do Cristo segundo o 'Evangelho de João, cap. XIV, vers. 12-14:
“Em
verdade vos digo que aquele que aquele que crê em mim, esse fará também as
obras que eu faço, e fará ainda maiores,
porque eu vou para o Pai; e tudo que pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de o Pai seja glorificado no Filho; se
me pedirdes qualquer coisa em meu nome, eu a farei.”
Não podendo permanecer sempre ao alcance
da Terra, o Cristo credenciou os seus mensageiros futuros, dando-lhes por sinal
inconfundível o fazerem, eles, os mesmos prodígios que o Mestre realizara. E
José de Anchieta confirmou o mandato,
através dos chamados milagres que teceram a auréola da sua trajetória na vida terrena e espiritual.
Nasceu na velha capital das Ilhas Canárias,
possessão Espanhola, a 19 de Março de 1534. E, apesar de possuir o Reino de Castela afamadas universidades , inclusive a de
Salamanca, já duas vezes secular a esse tempo, mandaram-no para Portugal, onde na
de Coimbra, fez o seu curso. Com os prodígios
da mediunidade, assimilou grandes cabedais, e aos, 17 de idade se fazia noviço
da Companhia de Jesus, a então potente e notável Ordem dos Jesuítas.
Chegando ao Brasil, a 13 de Julho de
1553, pouco depois de adolescente, aonde viera para que o clima tropical
ajudasse a corrigir a franzina compleição, e aqui permanecendo durante mais de
quatro decênios, trabalhar incessantemente,
dia e noite, por assim, dizer, desde início sua cultura assombra, o seu saber
serve para dar lições a o s próprios componentes da Ordem, seus maiores, em
autoridade, sem que se encontre a fonte total de tantos conhecimentos, difíceis
de acumular no relativamente curto espaço do curso universitário - daquela
época. - e dada ai escassez quase
absoluta de livros onde pudesse aumentar e desenvolver a base do que estudara.
Mas, esses notabilíssimos dons de
intelecto deviam revelar-se, ainda e principalmente, na facilidade com que aprendeu
a língua tupi dos índios (que o padre Antônio Vieira disse ser impossível de aprender)
da qual fez uma gramática, e compôs hinos,
diálogos, catecismo e até pequenos entreatos, que fazia representar, para
diversão e ensinamento, difundindo preceitos morais aos silvícolas, a quem se
dedicou de todo o coração, trabalhando para eles, na instrução religiosa das almas
e nas aulas, de música inclusive, para o que o muitas vezes amanheceu escrevendo os cadernos que
substituíam a falta. de livros para o aprendizado.
E, paralelamente a tudo isso, cumpria
com os deveres que lhe cabiam na Comunidade, e dava assistência espiritual a quantos
dela necessitavam, andando léguas para confortar os últimos instantes de um
moribundo - no intuito de iniciá-Io nas verdades da vida eterna.
E a sua força mediúnica se exercia a
qualquer momento. Exauria o corpo sem minguar as forças da alma, plena sempre
de inesgotáveis energias, hauridas das fontes do Infinito.
Moço, na lídima quadra da juventude,
no áureo período em que as seduções do mundo açulam os
instintos adormecidos na criatura humana, José de Anchieta se consorcia com a missão
da catequese, se irmana com o sacrifício, faz doação de todas as suas horas de
repouso ao labor, crucifica no calvário
da abnegação todo futuro de prazeres e de glórias da Terra.
Deslumbrando, com as maravilhas da,
sua mediunidade, vivendo num ambiente de primitivos costumes
nudistas, onde, as lindas mulheres valiam por tentações ambulantes, José de
Anchieta pousava as mãos puras naqueles corpos para lhes aliviar, os
sofrimentos, com a mesma excelsa majestade com que o Cristo curava os enfermos
que lhe imploravam misericórdia e socorro.
A pobreza e humildade nele tinham
proporções absolutas, porque eram bem mais sublimes do que as dos ascetas do deserto: estes viviam na
ausência de tudo; a Anchieta todas possibilidades agradáveis lhe ,eram oferecidas.
Mas, dizia ele, "o uso das coisas de um religioso há de ser de modo de uma
estátua insensível que nem apetece o com que a cobrem, nem resiste quando é
despojada".
A casinha onde começou seu
apostolado, em Piratininga, era de torrão, teto de palha; a cama, uma tábua ou rede
de índio, sem lençol, coberta ou travesseiro; a mesa, o chão; as toalhas e
guardanapos, folhas de bananeira; o calçado, alpercatas feitas de cardos silvestres;
a comida, paupérrima, ganha de esmola ou com o labor em comum das próprias
mãos.
E aumentando mais ainda a antítese
com a formosura de sua alma e com a
gigantesca potência da sua mediunidade ímpar, era quase um aleijão: franzino, de
estatura meã, vítima de escoliose (curvatura da espinha dorsal, consequência – segundo alguns autores
– de lhe ver caído uma escada sobre as costas), caminhava meio corcunda e pendido
para um lado, dando-lhe aspecto de insanável insignificância, de apoucamento
quase risível. Dir-se-ia que seu espírito elegera um assim disforme físico,
para evitar que atrativo plástico, aliado ao fulgor da palavra, eloquente e aos
feitos da mediunidade, servir-se para despertar sentimentos mundanos. E a
deformidade não lhe impedia de, verdadeiro andarilho, percorrer, claudicando
com o corpo todo, vertiginosamente, léguas c léguas, sem a menor fadiga.
Anos e anos se sucederam, e o notável
missionário, por onde passava, sempre encontrava ocasião para pregar, aconselhar, moralizar e exemplificar.
Em 1582, chegou ao Rio de Janeiro a armada
do general Diogo Flores Valdez, de 16 veleiros, com a qual Filipe II mandava assegurar
o Estreito de Magalhães. Informado de que Anchieta realizava prodígios, inclusive
o que conseguira, orando, para salvamento de quatro dos navios recém-vindos, e
que haviam corrido grave perigo, o
general fez familiaridade com ele, visitando-o
assiduamente e aprendendo valiosos conhecimentos, tornando-se mesmo obediente aos
conselhos de Anchieta, sempre certos, superiormente inspirados."
São do general estas expressões,
ditadas pelo desfavorável físico do grande médium: “A primeira vez que o vi, nunca coisa mais desprezível se me apresentou;
mas, ouvindo-o e tornando a olhar para ele,
nunca. em presença de alguma Majestade me sento mais apoucado e reverente”.
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