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José de Anchieta
1553 – 13 de Julho – 1953
por Almerindo Martins de Castro
in ‘Reformador’ (FEB) Agosto 1953
Mediunidade
curativa - Desse dom, os casos enchem - centenas de páginas, entre os quais
dois ou três são testemunho do traço inconfundível que o Cristo estabeleceu
para credencial dos seus Mensageiros.
Numa leva de índios, trazidos da
selva para Reritiba pelo padre Diogo. Fernandes, um deles era aleijado de
nascença, de modo que só podia locomover-se engatinhando, à maneira de quadrúpede. José de
Anchieta foi recebê-los, conforme costumava, e lhes falou, na linguagem deles;
dizendo da alegria de trazê-los para o conhecimento de Deus, Mas, notou que
entre todos, de pé, um havia de cócoras, e a isso se referiu. Os bugres riram,
e explicaram a deformidade do companheiro. Anchieta, condoído daquele pobre
ente, que, de rastos, andara centos de léguas, em ásperas sendas, chamou-o a
si, e, estendendo-lhe o seu bordão, disse: "Anda de pé, direito, porque
Deus quer teus olhos para o céu, homem que és e não voltados chão, iguais aos
dos Bichos."
O índio, arrimando-se ao cajado, e
depois sem ele, ficou ereto, e andou, e correu feito gamo pelo campo fora.'
Num dia de S. João, em aldeia desse
nome, entre outras recreações oferecidas durante as
festividades
de arraial, havia uma de uso época: corrida ao pato, disputada por destros cavaleiros
. Mas, no apanhar afinal a ave, surgiu dúvida entre dois concorrentes, e
Anchieta, presente ali, foi solicitado para dar decisão, na qualidade de juiz
da contenda. Chamou ele um menino, - mudo – conhecido de todos nessa condição.
A surpresa foi geral, principalmente quando Anchieta disse ao menor, criança de
5 de idade e mudo de nascença, que pronunciasse a sentença, porque seria
respeitada. E então o pasmo se tornou maior, pois o infante falou:
‘O pato é meu, a mim se há de dar,
para que o leve à minha mãe.” E foi para casa, sob aplausos, levando o
palmípede, e a voz que Deus lhe dera por intervenção do grande médium.
Uma senhora estava embaraçada. havia
quinze dias, sem poder dar a luz um filho, e, já em perigo de morte, por isso
que a Medicina, desde remotos 4 séculos estava ausente. Recorreram a José de
Anchieta, que, com os passes das suas
mãos puras sobre o ventre da mulher, fez nascer a criança.
A
crônica do tempo registrou centenas de curas relevantes, dos mais variados matizes
e circunstâncias, que atestavam o grande
poder espiritual do médium taumaturgo, citando os nomes dos beneficiados, com,
indicação da residência.
Levitação
– Este raro dom mediúnico José de Anchieta o possuía em notável extensão.
Bastava concentrar-se nas suas orações de fervor e efeitos admiráveis, para que
o corpo se levitasse, sendo necessário, algumas vezes, despertá-lo, nem sempre facilmente.
De uma vez, esse fenômeno se operou em
plena missa, e a ele assistiram, com o natural espanto, todos os presentes. Em
outra ocasião, José de Anchieta foi visto levitado em seu cubículo, à noite, estando
o pequeno recinto iluminado com a luz irradiada de Espíritos.
Transporte
ubíquo - Mais rara, ainda é a faculdade transportar-se o médium e tornar-se
visível, com o duplo materializado, em local diferente daquele onde está seu
corpo, Inúmeras vezes foi avistado simultaneamente
em S. Vicente e em S. Paulo, segundo testemunhos de leigos e sacerdotes, e em
outros sítios, para acudir a necessitados de socorro espiritual. Registrou-se
mesmo o sensacional caso de haver celebrado, na mesma hora de uma noite de Natal,
missa em S. Vicente e em Santos.
Efeitos
físicos - Da série imensa de maravilhas de toda espécie que produziu, José
de Anchieta se agrandou naquelas que mais de perto o aproximam de Jesus,
confirmando sempre aquela promessa solene de que os verdadeiros seguidores
fariam as mesmas e maiores coisas do que o Mestre Divino.
Pelas serranias aspérrimas de Paranapiacaba,
rumo de S. Paulo, viajavam, a pé, Anchieta e mais cinco seculares. Na matalotagem
levavam um moringue cheio de vinho que, por esmola, Anchieta recebera de um devoto,
Nicolau Grilo, Durou três dias a viagem, e durante ela, bebiam do vinho, ao
jantar e à ceia. E, quando o moringue esvaziava, Anchieta mandava enchê-lo com
água e esta em vinho se transformava, cada vez melhor , Era o mesmo milagre
das bodas do Caná, quando
Jesus, num festim de matrimônio, mudou água em vinho. (João, cap. II, 3-10).
Na casa dos padres, em Santos, José
de Anchieta, já consagrado sacerdote, tendo terminado a sua missa de Natal,
outro padre quis celebrar também; mas, o sacristão avisou ter acabado o vinho
próprio. Anchieta, que, era então o então o Superior da Casa, ouviu isso, e
disse: “Ide irmão, e trazei o vinho
que está na botija." O outro, porém, respondeu que havia escorropichado a
vasilha, e verificara não restar mais nada. "Ide, e achareis vinho",
insistiu Anchieta. O sacristão obedeceu, e voltou, quase sem poder falar, do
espanto, trazendo a botija bem cheia de vinho.
Jesus multiplicou pão e peixes; Anchieta
multiplicou azeite.
Certa vez, no Colégio da Ordem, em
São Vicente, e bem assim em toda a Capitania, houve falta de azeite. O
Irmão-despenseiro comunicou que o
respectivo barril para consumo da Casa estava esgotado, isso, porque o Colégio
supria as Casas subordinadas, a Igreja, e o pobres.
Disse Anchieta: "Irmão, nas
necessidades, não deixeis de acudir ao vosso barril, porque Deus é Pai, e fará
que não falte azeite," Replicou
o despenseiro tê-lo erguido sobre o torno e verificado estar seco, podendo ser
usado para outro fim até. "Fazei, irmão, o que vos tenho dito",
recomendou de novo Anchieta. O outro acatou a determinação, e, em todas as
ocasiões, o barril deixava escorrer um fio de azeite suficiente para a
necessidade do movimento.
E isso se prolongou por 24 meses que
foi o tempo decorrido para que chegasse de Portugal novo suprimento do precioso
óleo.
Achava-se José de Anchieta na Igreja
da Conceição, em Itanhaém, e ouviu dos mordomos queixa de não haver azeite para
iluminar a imagem no altar. Disse: "Irmãos, façam mais diligência, e
talvez encontrem azeite." Responderam haverem virado a respectiva botija
de boca para baixo, e dela não mais saía coisa alguma. Replicou, cheio de fé:
"Não tomem por demasiado trabalho verificar mais uma vez, e quiçá
encontrem azeite." Foram à botija, .e - oh! maravilha! - acharam azeite,
e, apregoado o prodígio, de toda a parte acudiu gente para adquirir o milagroso
óleo, com o intuito de usá-Io feito remédio para curar enfermidade.
À vibração fluídica da sua voz
obedeciam coisas e animais, inexplicavelmente
para os embasbacados assistentes desses insólitos fenômenos, quase incríveis,
provindos que eram de um homem mirrado, meio disforme, paupérrimo, andrajoso,
humilde, cujas mãos, se escreviam erudições, também se chafurdavam no amassar
do barro e se calejavam na ajuda das construções que os da sua Ordem erguiam
para os serviços religiosos e para instalação e abrigo dos índios
cristianizados.
Pássaros e aves pousavam-lhe nos ombros, nos
braços, acompanhavam-no inequívocas demonstrações da influência fluídica,
exercida sobre eles; mas, quando as testemunhas desse privilégio espiritual
lhe. atribuíam isso à santidade personalíssima, Anchieta respondia, sempre
humílimo: "Lembrai-vos de que os pássaros e as aves também pousam em
monturos e imundícies.”
Tal humildade, porém; não alterava o
quase culto que lhe era tributado, tendo em conta as maravilhas que realizava,
à vista de todos, e ainda as do dom de dupla vista, pois via, a distância revelando
o local onde estavam coisas consideradas perdidas, e referindo acontecimentos que
estariam ocorrendo bem longe dos seus olhos materiais. Mais ainda: em ocasiões prementes,
transportava para junto. de si objetos que, por circunstâncias várias, eram.
necessários, Indispensáveis no momento.
Por isso, a deformidade do corpo, a
pobreza extrema da sua aparência venciam os óbices
preconceitualistas
das convenções sociais. Mem de Sá, Governador expedido pelo trono Português,
lhe ouviu e acatou as informações e conselhos, e Estácio de Sá, Capitão-mor,
escolhido. pela rainha D. Catarina para combater contra os que pretendiam
assenhorear-se do Rio de Janeiro, teve Anchieta a seu lado, e, nos momentos da peleja, enquanto Estácio de Sá falava, em
português, à sua gente, José de Anchieta, com a linguagem
dos guaranis, eletrizava a alma dos índios, seus queridos filhos espirituais,
E ainda por esse fulgor do seu
Espírito, ao lado de todas as figuras de projeção nos pródromos do Brasil, foi
o co-fundador da hoje opulenta capital de S. Paulo e da nossa bela Cidade
Maravilhosa.
Quando vencidos pelo valor da sua
obra - cada dia mais e mais engrandecida pelos chamados milagres - e pelos
tesouros do seu saber, os maiorais da Ordem quiseram elevá-Io a postos de
mando, não faltou quem - moderadamente, é certo - chamasse a atenção para a
chocante antítese da poderosa Companhia de Jesus apresentar, no cargo de chefe
providencial, um homem de aspecto quase ridículo, de batina remendada e pés
totalmente calosos.
Mas, a seu tempo, José de Anchieta
devia galgar esses postos supremos, tornando-se a principal figura da Ordem dos
Jesuítas no Brasil.
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