03/ 03 O Evangelho
ante os tempos novos
“Reformador” (FEB) Dezembro 1972
por Francisco Thiesen
Já sentimos que o Evangelho é o Código Supremo, o Cristianismo restaurado é a Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria, e Jesus é a Culminância Evolutiva, a Perfeição Sideral, para nós inabordável de 'dentro' dos limites dimensionais em que nos movemos. Dessarte, importa que nos habituemos, respeitosamente, com a infinitude da amplidão da Mensagem e com a invulgar Excelsitude do seu Autor que, há dois milênios, transpôs todos os abismos, para nós ainda inconcebíveis, a fim de pessoalmente no Ia entregar, como elo de puro amor à nossa religação com o Supremo Pai, fim único daquela Religião a que ele serve e nos convoca a servir com ele.
Irmão X[1], reproduzindo comentário de Instrutor desencarnado, diz:
"Meu amigo, pergunte a cada homem e a cada mulher do seu caminho o que pensam do Cristo de Deus, e, pelas afirmativas pessoais que lhe derem, você reconhecerá, de pronto, em que situação íntima se encontra cada um deles, porquanto a nossa opinião individual sobre Nosso Senhor Jesus Cristo denota imediatamente a posição em que nos achamos, no território infinito da Vida Eterna."
Estamos penetrando no limiar dos "tempos novos" exaustivamente anunciados. "São chegados os tempos ... " Da fronteira entre duas eras, da linha divisória da materialidade com a espiritualidade, do "homem velho" com o "homem novo", podemos contemplar duas realidades que se não substituem simplesmente, mas que, pouco a pouco, de unidade em unidade, evolutivamente se transfundem, demandando a Jerusalém Celeste, a Terra regenerada.
Com o auxílio da "visão espiritual" estudaremos o ensinamento do Cristo, em espírito e verdade, como foi dito. Poderemos estudá-lo, no Espiritismo, apoiados na sabedoria contida em "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec[2], que é obra vazada na interpretação de Espíritos Superiores e integrante da Codificação. A rigor, nenhuma outra deve ser lida antes desta. Mas, como diz o próprio Codificador, nela não se aborda a totalidade dos textos evangélicos.
Além dessa, muitas obras que estudam temas evangélicos existem editadas pela FEB.[3] São preciosas joias da Vida Maior, capazes de instruir e encantar a um só tempo, além daquelas de escritores encarnados dedicados à vivência com os sagrados textos.
"Na consecução da tarefa superior, congregam-se encarnados e desencarnados de boa vontade, construindo a ponte de luz, através da qual a Humanidade transporá o abismo da ignorância e da morte.[4]"
Todavia, para os que aspiram ao conhecimento da integralidade dos ensinos de Jesus, a abordagem completa de quanto ficou registrado para a posteridade, a obra indicada, estudada na FEB e por ela editada, integrante do seu próprio programa, na qualidade de Casa de Ismael, é a intitulada "Os Quatro Evangelhos", ditada mediunicamente pelos próprios evangelistas, assistidos pelos apóstolos e por Moisés. Ê conhecida como "obra de João Batista Roustaing", porque foi ele o incumbido de coordenar e publicar os trabalhos recebidos do Alto. O Espírito Humberto de Campos[5] (13) situa Roustaing como um dos integrantes do grupo missionário que veio cooperar na Codificação Kardequiana, cabendo-lhe a "organização do trabalho da fé".
Os Espíritos que ditaram a obra monumental informaram que ela constitui apenas o introito de trabalho de maior envergadura, que seria posteriormente revelado. No entanto, até hoje não tivemos notícias sobre a recepção, em algum lugar, do que viria a ser o trabalho propriamente dito. Mas, o "introito" está conosco, graças a Deus. Às vezes ficamos a pensar sobre a provável confusão que adviria com a recepção e publicação do trabalho ainda não transferido do Mundo Espiritual para a crosta terrena. É que o recebido tem causado apreensões em alguns, reservas em outros, conflitos e desolações em uns poucos, e, por espírito de imitação ou comodismo (trata-se de obra com mais de 2.000 páginas, em 4 volumes), omissão de muitos. Até hoje, escreveram-se artigos e livros, pronunciaram-se conferências, por vezes contundentes, contra essa obra. Porém, como "árvore que o Pai plantou", ela continua firme, orientando e consolando, ensinando e aprimorando corações.
A obra em questão contém teses interessantes, além de explicar todos os versículos evangélicos e os Mandamentos. Uma delas, justo a que tem causado estranheza e celeuma, é a que versa sobre o Cristo de Deus, precisamente no pertinente ao "corpo fluídico" ou corpo sideral que o Divino Mestre utilizou para humanizar-se na Terra. Não abriremos, aqui, nenhuma polêmica; nem responderemos a quaisquer argumentos dos que se dedicam ao combate. Nosso escopo é bem mais modesto: coligimos dados para os que desejam instruir-se, para os que aspiram conhecer as obras edificantes, que estudam e constroem. Indicamo Ias com prazer, transcrevendo-lhes pequenos tópicos elucidativos.
Infelizmente, há companheiros que recusam toda a obra de Roustaing, alegando:
1) que muitas coisas contidas nos Evangelhos não são válidas;
2) que não concordam com a tese "do corpo fluídico". Porém, outras teses, alias transcendentes, figuram na referida obra, sem que sofram contestação, inclusive quanto à da evolução em linha reta e dos Espíritos infalidos.
Aqueles que têm recusado mérito a "Os Quatro Evangelhos" apoiam, no entanto, toda a literatura mediúnica recebida nos últimos quatro decênios, literatura essa que confirma as mesmas teses contidas em Roustaing. "Evolução em Dois Mundos[6]", que esmiúça detalhes da linha evolucionista da obra em exame, é um exemplo. Como, de resto, a quase totalidade das recebidas dos Espíritos Emmanuel e André Luiz, Humberto de Campos e outros.
Importa, porém, oferecer aos leitores a palavra de Emmanuel, quanto à validade dos registros escriturísticos:
"As peças nas narrações evangélicas identificam-se naturalmente, entre si, como partes indispensáveis de um todo, mas somos compelidos a observar que, se Mateus, Marcos e Lucas receberam a tarefa de apresentar, nos textos sagrados, o Pastor de Israel na sua feição sublime, a João coube a tarefa de revelar o Cristo Divino, na sua sagrada missão universalista.[7]"
"Nos textos sagrados das fontes divinas do Cristianismo, as previsões e predições se efetuaram sob a ação direta do Senhor.[8] No referente à questão do "corpo fluídico", os que não o aceitam pretendem que Jesus viveu na Terra com um corpo carnal; gerado humanamente, não passando de Espírito encarnado, conquanto muito elevado. Teria estudado no Planeta (com ou sem os essênios), tornando-se mais tarde o Sublime Missionário. Já que aceitam as palavras de Emmanuel, deverão acolher a afirmativa da plena validade da Escritura, redigida sob a ação direta do Senhor. E, nesse caso, onde fica a virgindade de Maria? E a ressurreição?
"Desde os seus primeiros dias na Terra, (Jesus) mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o Planeta lhe conheceu desde os tempos longínquos do princípio.[9]"
"Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre o valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas.[10]"
"Que é a carne? Cada personalidade espiritual tem o seu corpo fluídico e ainda não percebestes, porventura, que a carne é um composto de fluidos condensados? Naturalmente, esses fluidos, em se reunindo, obedecerão aos imperativos da existência terrestre, no que designais por lei de hereditariedade; mas, esse conjunto é passivo e não determina por si. Podemos figura-lo como casa terrestre, dentro da qual o Espírito é dirigente, habitação essa que tomará as características boas ou más de seu possuidor[11]."
E perguntamos nós: que casa teria sido necessária para as características do Médium de Deus?
Na obra de Roustaing, os evangelistas, analisando o fato mediúnico do Tabor - a Transfiguração -, quando Jesus confabula com as personalidades de Elias e Moisés, revelam que ambos são um só, um único Espírito, o que é confirmado por André Luiz[12], quando escreve:
"E, além de surgir em colóquio com Moisés (já que Elias é o mesmo Moisés, o autor simplesmente suprime o nome de Elias) materializado no Tabor, Ele mesmo é o grande ressuscitado, legando aos homens o sepulcro vazio e acompanhando os discípulos com acendrado amor, para que lhe continuassem o apostolado de bênçãos."
E Emmanuel acentua, em página intitulada "Na Glória do Cristo"[13]: (21)
"Ê inútil que cristãos distintos, nesse ou naquele setor da fé, se reúnam para confundir respeitosamente a mediunidade em nome da metapsíquica ou da parapsicologia - que mais se assemelham a requintados processos de dúvida e negação -, porque ninguém consegue empanar os fatos mediúnicos da vida de Jesus, que, diante de todas as religiões da Terra, permanece por Sol indiscutível, a brilhar para sempre."
Em "Mecanismos da Mediunidade"[14], André Luiz nos apresenta estudos de rara beleza, em linguagem científica da atualidade, e entre muitas páginas que corroboram as assertivas da "Revelação da Revelação" figura esta:
"Médiuns preparadores - Para recepcionar o influxo mental de Jesus o Evangelho nos dá notícias de uma pequena congregação de médiuns, à feição de transformadores elétricos conjugados, para acolher-lhe a força e armazená-Ia, de princípio, antes que se lhe pudessem canalizar os recursos."
Logo adiante (págs. 169-170), ele nos revela os nomes de seus integrantes e prossegue:
"Nesse grupo de médiuns admiráveis, não apenas pelas percepções avançadas que os situavam em contato com os Emissários Celestes, mas também pela conduta irrepreensível de que forneciam testemunho, surpreendemos o circuito de forças a que se ajustou a onda mental do Cristo, para daí expandir-se na renovação do mundo."
Isso tudo ocorria com o Divino Mestre presente na crosta planetária. A realidade, se nos fosse descrita em suas minudências, seria de molde a causar-nos superlativo assombro, pois os recursos arregimentados e as técnicas utilizadas pelas Legiões do Infinito, para tornarem possível a estada do Governador Divino na Terra, ultrapassaram em grandiosidade, e complexidade, a mais fértil imaginação de que dispusesse a sabedoria terrena. Mais adiante, o autor acrescenta:
"Em cada acontecimento, sentimo-lo a governar a matéria, dissociando-lhe os agentes e reintegrando-os à vontade, com a colaboração dos servidores espirituais que lhe assessoram o ministério de luz."
No estudo de "Os Quatro Evangelhos", de igual modo que no das obras básicas da Codificação Kardequiana, não prescindiremos da "visão espiritual", mormente lembrando que foram escritos há mais de um século, com terminologia bastante pobre ao abordar assuntos científicos, se comparada à dos nossos dias. Aliás, André Luiz, em alguns de seus livros, deixa de reproduzir diálogos ou esclarecimentos por ele anotados, em seus contatos com Entidades Sublimes, por falta absoluta de palavras análogas nos vocabulários terrenos.
Façamos nós, porém, a substituição de certas expressões, nos estudos sinceros, nas nossas meditações humildes em torno da portentosa obra, e sentiremos as claridades espirituais a banharem nossos pobres olhos. Apliquemos, por exemplo, os conhecimentos mediúnicos transmitidos por André Luiz e por Emmanuel, em nossos estudos evangélicos, inclusive aqueles pertinentes aos problemas de voltagem e amperagem no intercâmbio com os invisíveis; e as dúvidas desaparecerão.
Querendo evitar distorções de interpretação no tocante às nossas palavras, devemos declarar que o fato de alguém não aceitar esta ou aquela tese da obra de Roustaing não constitui absolutamente nenhum desmerecimento, desde que realmente não sintonize com a respectiva onda de luz. E isto é válido em relação a qualquer obra ou ensino. Entre os que não aceitam Roustaing temos excelentes, valorosos companheiros, com meritórias realizações no campo doutrinário. Simplesmente, reclamamos para nós o direito de livremente estudar e divulgar o Evangelho Integral, em espírito e verdade. Vivemos, por determinação do Senhor, nesta época de profundas transformações, em ambiente social e mental do mais amplo pensamento livre e responsável, dentro do qual, à luz do Espiritismo, podemos trabalhar e lutar, sofrer e aprender, renovar e aprimorar, concordar e discordar, dentro do Mandamento Maior – "Amai-vos uns aos outros".
[1] (p.210) - “Antologia Mediúnica de Natal” , Diversos Espíritos, Francisco C Xavier, 1ª Ed..
[2] - “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, 57ª Ed..
[3] Sinopse de Livros Espíritas, 8ª Ed..
[4] p. 9 – prefácio de Emmanuel –“ Missionários da Luz” de André Luiz, por Francisco Cândido Xavier. 8ª Ed..
[5] (p.176) – “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco C Xavier, 9ª Ed..
[6] “Evolução em Dois Mundos”. de André Luiz por Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, 3ª Ed..
[7] p.158 – “O Consolador”, de Emmanuel, por Francisco C. Xavier. 5ª Ed..
[8] p.154 – “O Consolador”, de Emmanuel, por Francisco C. Xavier. 5ª Ed..
[9] (p.96) – “Caminho, Verdade e Vida”, de Emmanuel por Francisco C. Xavier, 5ª Ed..
[10] (p.158) – “O Consolador”, de Emmanuel, por Francisco C. Xavier. 5ª Ed..
[11] (p.34) – “Caminho, Verdade e Vida”, de Emmanuel por Francisco C. Xavier, 5ª Ed..
[12] (p.160) – Nos Domínios da Mediunidade”, de André Luiz,por Francisco C. Xavier, 7ª Ed..
[13] (p.199/200) - “Antologia Mediúnica de Natal” , Diversos Espíritos, Francisco C Xavier, 1ª Ed..
[14] (p.169) “Mecanismos da Mediunidade”, de André Luiz, por Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, 3ª Ed..
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