sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A Obra é de Deus



A Obra é de Deus
           

            Editorial de “Reformador” (FEB) Outubro 1975


            Já dizia Sêneca:  "Não há vento favorável para aquele que não sabe para onde vai." E, como as multidões desgovernadas buscam líderes, estes aparecem, gerados, muitas vezes, nas sombras, e, pelas sombras manipulados, revelam-se ardilosos profetas do caos.
             
            Assim, numa época em que o ser humano se acha aturdido, os mensageiros da aflição criam novas e tenebrosas filosofias, ou levantam dos arquivos velhas e superadas doutrinas que reapresentam sob roupagens novas que os sofisticados meios de comunicação se incumbem de disseminar por toda parte. Enquanto isso, a mensagem da esperança, o apelo à paz e à reconstrução de nós mesmos não conseguem elevar-se acima do alarido criado pela liberação das paixões. Tudo é permitido; só é proibido proibir.

            Até mesmo o campo das ideias religiosas contaminou-se com o vírus da filosofia da desagregação. Brotam cultos satanistas, organizações dedicadas à bruxaria, à magia, aos mais exóticos e desvairados rituais. Aparecem gurus messiânicos que pregam doutrinas esdrúxulas, pensadores sem rumo que formulam teorizações fantasiosas, enquanto instituições tradicionais, envolvidas no atordoamento generalizado, sem respostas às inquietações espirituais que lhes são endereçadas, derivam para atitudes meramente promocionais, empenhando-se em arregimentar adeptos, como se a quantidade pudesse dispensar a qualidade. Qualquer concessão serve. Qualquer ideologia paralela pode ser incorporada, desde que se ajuste à tônica do momento. É assim que assistimos à pregação da palavra arrancada ao Evangelho, mas não sentida no coração, embutida em posições incongruentes com a moral do Cristo, como a da violência.

            Por que tudo isso? Estaremos à míngua de projetos espirituais viáveis? Não haverá um plano, um modelo filosófico-religioso que seja válido? Claro que o temos na Doutrina dos Espíritos. O modelo proposto pelo grande missionário de Lyon aí está como projeto-síntese da sociedade do futuro, como portal de acesso do caos em que o mundo se precipita rapidamente para o cosmo ordenado com que sonhamos.

            Sim, é possível uma sociedade pacificada, integrada por homens e mulheres evangelizados, conscientes de sua natureza espiritual, da filiação divina e dos laços da fraternidade universal. Não apenas possível, é inevitável, é mesmo inexorável, porque assim o quer a Lei.

            Ao apreciar os primeiros impulsos do Cristianismo nascente, Gamaliel teve a intuição da sua força, a despeito de suas apagadas origens. Quando, mais tarde, abraçou a doutrina do amor, estava convencido, como nunca, da autenticidade da sua palavra inspirada diante do Sinédrio (Atos, 6: 38-39): a obra era de Deus.

            Depois de haver superado tantos testes e pressões, já não mais temos o direito de duvidar da natureza divina da mensagem que o Consolador endereçou ao futuro, um futuro que nos cabe construir com as próprias mãos.

            Allan Kardec, o incansável obreiro da Verdade, fez a sua parte, e, mesmo retornando à Pátria Espiritual, de onde provinha, não se abandonou ao repouso inoportuno. A obra não está concluída; ao contrário, apenas começa. E para que ele não sentisse, ainda no corpo físico, o desencanto do trabalhador responsável que vê chegar a noite antes de ultimada a tarefa do dia, seus amigos espirituais asseguraram--lhe que ele voltaria "em outro corpo" para prosseguir o labor da seara divina.

            Lembrando seu reingresso nas lutas humanas, nos idos de 1804, conscientizemo-nos da presença de Deus na História, do Cristo no Leme dos acontecimentos, e de seus mensageiros entre nós. Tudo está programado. Nada de desespero. Os emissários do Alto pedem-nos serenidade, agora mais do que nunca. Movimentam-se forças apocalípticas, que prenunciam tempestades renovadoras? Pois foi exatamente para esta hora difícil que Espíritos como Kardec trabalharam para nos preparar.

            Estejamos confiantes e tranquilos, embora vigilantes e em prece. A obra é de Deus, o Pastor do rebanho é Jesus, e o modelo do futuro está na Codificação Kardequiana.       



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