domingo, 4 de dezembro de 2011

Berlinda


Berlinda

.. , E na roda, em voz baixa, alguém dizia assim:
- Vocês viram, de fato?
Nunca vi companheiro tão mesquinho
E nenhum tão ingrato! ...
Obsessão ali, domina em cheio,
Homem que não entende, nem perdoa,
Sobretudo, é sovina inveterado,
Uma pedra em pessoa ...

E, noutra roda, alguém asseverava:
- Ela, coitada, em tudo é doida e cega,
Intrigante, orgulhosa, sem juízo,
Um poço de vaidade que trafega ...
Onde aparece é flor que não se cheira,
Brasa que a gente vê mas não atiça,
E, além dos desmantelos que provoca,
E' um retrato acabado da preguiça.

Quantas vezes entramos no barulho
De coração simplório e desatento,
Tão-só comprando o peso do remorso
E a sombra triste do arrependimento! ...
Ante as rodas que falam sem proveito,
Guarda em silêncio e prece a própria voz...
Hoje, os outros padecem na berlinda,
Cuidado! que amanhã seremos nós.


Manoel Monteiro

por Chico Xavier
CEC, Uberaba em de 12/7/69.
in “Reformador” (FEB ) Jan 1970


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