sábado, 19 de novembro de 2011

O Grupo Ismael



“O Grupo Ismael”
por Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Agosto 1973)

                Armando de Oliveira Assis (Presidente da Federação Espírita Brasileira), Joaquim da Costa Villaça, Luís de Oliveira Sousa, Francisco Thiesen, Manuel Joaquim Pereira Júnior, Olímpio Giffoni, Getúlio Soares de Araújo, Lauro S. Thiago, Abelardo Idalgo Magalhães e este colunista somos os componentes do Grupo Ismael, que já marcha para o seu centenário. Trata-se do grupo de trabalhos práticos da Federação Espírita Brasileira que, como se sabe, é o órgão central do Espiritismo no mundo. O Grupo Ismael reúne-se às quintas-feiras, a partir das 19 horas, na própria sede da FEB, na Avenida Passos, 30. É tido e havido como grupo modelar, tanto na opinião dos que o integraram no passado, como na dos superiores Espíritos que lhe ditam as normas de orientação.

                Não são poucos os espíritas que projetam organizar sessões de Espiritismo prático. Buscam conhecer o melhor caminho e às vezes não o encontram. Outros, já têm suas sessões em desenvolvimento e se ressentem de pequenas falhas, pequenos percalços que gostariam de contornar.             

                Nem sempre os livros sobre a matéria são muito claros, ou a todos acessíveis. Os mentores espirituais desses grupos - como, de resto, de todos os grupos - são muito cuidadosos, muito comedidos e, se insinuam quase sempre esta ou aquela maneira de consertar um equívoco, jamais entretanto determinam, ordenam, impõem regras de conduta. A característica do verdadeiro Espírito Superior está na reserva, na bonança, na cautela com que nos puxa as orelhas. Importante é entender-lhes a linguagem indireta e subjetiva. Só vão com objetividade aos assuntos quando as criaturas já têm sobeja responsabilidade e entendimento para receber a lição com grandeza e humildade. Ou, ainda, quando têm certeza de que, dada a lição - que irá certamente dirimir alguma dúvida e, em consequência, dar razão a uns e retirá-la de outros -, não irá ela magoar nenhum dos componentes do grupo. Eis por que, não raro, os mentores espirituais se calam e toleram magnanimamente nossas discordâncias ou nossos erros. Procuram ganhar tempo, salpicando aqui e ali um exemplo, uma estória, uma mensagem, mediante o que esperam que, pouco a pouco, por nós mesmos, vamos sabendo encontrar as verdades e proceder de forma ideal. Respeitam profundamente nosso livre arbítrio, que não nos foi legado por eles, mas pelo próprio Deus. Não invadem a nossa consciência. Não afrontam a nossa razão. Levam em conta, antes de tudo, a boa vontade dos que, unirias em prece, estão procurando auxiliar e acertar. Diante disso - eis onde quero chegar -, não tem sentido a asserção de muitos companheiros que identificam falhas nos grupos que frequentam, ou que o vizinho frequenta, e então estranham: "Mas como é que o guia espiritual daquele centro não diz que não se faz assim?!"
               
                Levantada essa preliminar, desejo agora oferecer ao leitor, para seu conhecimento, a rotina do Grupo Ismael, pretendendo com isso que lhe sirva de orientação e contribua para o encaminhamento de eventuais duvidas.

                As 19 horas em ponto, o dirigente do Grupo, no caso o companheiro Armando de Oliveira Assis, dá por iniciados os trabalhos, abrindo e lendo uma página de qualquer obra sobre assuntos evangélicos. Convém que seja curta e, de preferência, psicografada. O objetivo aqui é provocar nos presentes uma espécie de "limpeza" cerebral. Chegados da rua, das atividades profissionais, guardamos sempre, por mais que não queiramos, algum problema na mente. A atenção voltada para a leitura da página funcionará como excelente borracha ...

                Em seguida, ainda o dirigente, profere à meia luz a prece de abertura. Não deve, também, ser muito extensa. Faz-se depois silêncio e os médiuns psicógrafos põem-se a trabalhar.

                Temos então as primeiras palavras dos nossos mentores espirituais. Um conselho aqui, um poema ali, um apólogo mais adiante. Às vezes, uma sutil advertência tendo em vista a entidade que será trazida naquela noite para receber socorro. As mensagens são lidas a fim de que todos delas tomem conhecimento. Depois passa-se ao estudo da lição programada. São lidos sucessivamente, reunião após reunião, os capítulos de "Os Quatro Evangelhos", de J.-B. Roustaing, cabendo a cada companheiro, em cada reunião, comentá-Ia. Desses comentários, com frequência, os demais acabam também participando com um lembrete, uma opinião, etc. Tem início, então, a segunda parte da reunião. Apagam-se as luzes, com exceção da vermelha. Todos se concentram para o trabalho prático de desobsessão. O Espírito programado chega e o dirigente lança-se ao seu dever de doutrina-lo, convencê-lo, socorrê-Io, beneficiá-lo enfim. Ninguém deve interferir sob nenhum pretexto. O diálogo será travado exclusivamente entre o dirigente e a entidade manifestada. Esta, depois que desincorpora dá lugar a que, pelo mesmo médium ou outro qualquer, se manifeste algum mentor espiritual. Tece considerações sobre os trabalhos e, antes de retirar-se, deixa a todos a sua bênção. Um dos presentes é convidado a proferir a prece de encerramento. O dirigente dá a última palavra, considerando terminada a sessão.

                Agora, alguns registros muito importantes: eliminem-se leituras de atas, relatórios, etc., que não cabem nessas reuniões e só impacientam; não se permitam de forma alguma manifestações simultâneas, que tumultuariam os trabalhos e com o que ninguém se beneficiará (seria o mesmo se um professor quisesse convencer, a um tempo só, diferentes alunos em aflição, sobre as verdades da matemática e as da sociologia); preocupar-se mais com a ideia das mensagens promanadas do Alto do que com a forma propriamente dita, que por vezes é do próprio médium (somente o médium mecânico tem condições, em geral, de transmitir também a forma dada pelo comunicante); enfim, convencer-se de que nós, daqui de baixo não estamos dando nada, mas tão-somente, unicamente, e exclusivamente, recebendo.  

                Eis, leitor, a mecânica do Grupo Ismael, e as sugestões que, decorrentes do seu funcionamento e das suas tradições, me parecem oportunas oferecer-lhe.  

(Extraído do "Diário de Notícias" de 1°/6/1969, 3ª seção, pág. 6. Texto revisto e atualizado pelo autor.)




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