segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Espiritismo: Religião de Liberdade


EspiritismoReligião de liberdade


            O Espiritismo Cristão é uma religião de homens livres, uma religião de verídica liberdade, porque o espírita legítimo aprende, na Doutrina codificada por Allan Kardec, que o homem somente é verdadeiramente livre quando consegue libertar-se dos preconceitos, do egoísmo, da ambição malsã, do espírito de revolta, da maledicência, da mentira, do fanatismo, etc. É livre quando exerce a bondade, a tolerância, o amor ao próximo, mostrando-se solidário com todas as criaturas, predisposto sempre à prática da caridade indistinta, a servir sem esperar compensação, seguindo a trilha traçada por Jesus e tão bem sintetizada no “Sermão do Monte”. Quando adquirimos a convicção de que podemos, por exemplo, suportar impertinências e até insultos, sem perder a serenidade, compreendendo que o mal não está em quem é agredido e insultado sem motivo, mas naquele que, movido ainda por instintos inferiores, age sem reflexão, pronto a destruir, como javali furioso que investe contra a árvore que encontra em sua corrida alucinada e feroz.

            Não se pense que o Espiritismo seja uma escola de múmias, capaz de transformar o homem num ser apático e passivo diante da vida, porque nele incute a necessidade de exemplificar a humildade. Nem se considere também a humildade cristã como um rebaixamento da espécie humana, porque, na realidade, quando bem compreendida, ela constitui um meio de educação da vontade, dá ao homem o domínio de si mesmo, capaz de considerar sem qualquer valor as expressões de ira de adversários mais dignos de piedade do que de raiva. O exercício da humildade fortalece o homem, porque o torna invulnerável a certos conceitos errados de honra, pois a verdadeira honra é inatingível por aqueles que possuem a alma enodoada de ideias falsas e traiçoeiras.

           Nossa Doutrina prepara o homem e a mulher para a vida terrena e também para a vida espiritual. No tocante à humildade, ensina-nos a ser comedidos, discretos, modestos, sem vaidade nem orgulho, mas, em contrapartida, prestativos, assíduos no bem, permanentes na caridade e no amor. Aliás, Jesus entendia a caridade como “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”. E em “O Livro dos Espíritos” lê-se esta lição prodigiosamente bela: “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Armai-vos uns aos outros como irmãos.”

            O Espiritismo educa o homem, não para o temor a Deus, mas para o amor a Deus. Erige a fraternidade com a condição imprescindível ao bem -estar doméstico e social, repudiando a violência por incompatível com o bem. Considera o egoísmo como um dos grandes males da Terra, apontando o Evangelho em Espírito e Verdade como a luz que tirará as trevas da alma e fará este planeta redimir-se dos erros dos homens. Mostra ainda, através dos ensinos dos Espíritos, que a pessoa humana deve ser preservada da corrupção ideológica que a anula, desconhecendo o indivíduo para somente levar em conta a massa, dirigível e sem vontade, subordinada à influência negativa e homicida de líderes divorciados de Deus, que mistificam as massas, destruindo a personalidade humana. Mas as coletividades humanas não foram criadas para figurarem extensos rebanhos tangidos por indivíduos audaciosos e maus. Se cada criatura humana não consegue conservar sua personalidade, mesmo quando partilha de qualquer grupo, então sofre a mutilação da sua vontade, perde a sua legítima liberdade pessoal, deixando de pensar por sua cabeça, deixando de tomar decisões por si mesma, porque há sempre alguém que pensa e age por ela.

            Se abdica da sua personalidade para escravizar-se a uma ideia sedutora, mas falsa e traiçoeira, renuncia à sua condição humana, transmudando-se em mero integrante anônimo e abúlico de um rebanho automatizado.

            O Espiritismo valoriza o homem, consolida-lhe a personalidade, dele faz uma força individual atuante nas coletividades humanas, porque lhe dá o conhecimento do verdadeiro papel que veio desempenhar na Terra, como Espírito exilado, em busca de reabilitação.

            Exalta o valor da família, célula social de inestimável valor. Prova que a ordem não pode subsistir sem a disciplina e que esta é indispensável ao trabalho ordeiro e fecundo. Esclarece o verdadeiro sentido da liberdade, demonstrando que ninguém é livre se não sabe respeitar o seu próximo. Não há liberdade quando se age contra alguém. A falsa liberdade leva ao erro e ao crime. A verdadeira liberdade edifica e ilumina o homem, exaltando-lhe a personalidade, sem conspurcá-la nem aviltá-Ia. O Espiritismo esclarece o Espírito humano, apontando-lhe o caminho certo, talvez não o mais fácil, mas, sem dúvida, o mais aconselhável, porque é o que nos levará ao Cristo de Deus.

            O homem sem Evangelho será sempre um atormentado, um insatisfeito, um cego a tatear numa estrada perigosa em noite tempestuosa. Não façamos, porém, em nenhum caso, o culto da personalidade. Aprimoremo-Ia para que melhor possa servir os altos interesses da Humanidade, mas não o elejamos instrumento do egoísmo, porque este tem sido demasiado nocivo. “Somente o trabalho e o sacrifício, a dificuldade e o obstáculo, como elementos de progresso e auto-superação, podem dar ao homem a verdadeira notícia de sua grandeza” esclarece Emmanuel.


Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)

in Reformador (FEB) Fevereiro 1970

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