Doutrina Espírita
A expressão merece considerada.
Com efeito, no torvelinho do mundo atual, em que as mais tradicionais concepções sofrem convulsões basilares e imprevisíveis, o Espiritismo é uma das poucas doutrinas que apresentam realmente uma ','Doutrina".
Definida, clara, racional.
Da Codificação Kardequiana pode depreender-se que a Doutrina revelada pelos Espíritos se firma nos quatro esteios fundamentais seguintes:
1º Existência do mundo espiritual e seu intercâmbio com o corpóreo. Mediunidade. Entrosamento natural e constante das duas humanidades, que é uma só em dois planos, material e espiritual. Pois que é intuitivo conceber o "mundo do lado de lá", que absurdo há em surpreendê-lo em mútua interferência com o "de cá"? Esse intercâmbio, aliás, não se repete diariamente aos nossos olhos com as legiões que de lá chegam e para lá partem através dos nascimentos desenlaces?
2º - Lei 'de Causa e Efeito, ou a Justiça Divina retamente interpretada. A mesma lei física tão precisa e admirada que preside o mundo material vigorando também para o moral: "a cada ação corresponde uma reação
de intensidade igual e sentido contrário.” Isso porque, sendo o mesmo o Autor de ambas essas lei, não é lícito supô-lo mais previdente numa que em outra.
3.° - Reencarnação, ou Lei das Vidas Sucessivas. Um dos meios de que se vale a anterior para corrigir o mal e fomentar o bem, renovando experiências e determinando a "colheita obrigatória da livre semeadura". Até as escolas humanas têm os recursos de segundas épocas e repetições, porque não os teriam os excelsos educandários planetários do Pai?
4.° - Pluralidade dos mundos habitados. O Espiritismo mostra-nos a fieira dos mundos distendidos na vastidão do Infinito 'não apenas corno "as muitas moradas da casa do Pai", no dizer de seu próprio Filho, mas também a interdependência entre eles, como diferentes degraus da mesma escala evolutiva.
Enfim, com o Espiritismo o homem deixa de ser um ente sem eira nem beira, produto de uma casualidade cega ou de um capricho despótico; um bibelô que tanto pode ser de um momento para outro precipitado numa perdição irremissível como num paraíso acabado.
Com a Terceira Revelação, passamos a compreender-nos viajores da eternidade, originados simples e ignorantes do Divino Amor, para ele regressando com a própria perfeição amealhada no curso de vidas, mundos e milênios sucessivos.
Desaparece o sobrenatural. Esclarece-se a superstição. Desvanece-se o formalismo religioso no clima de verdadeira e irrenunciável espiritualidade.
Mas avoluma-se a responsabilidade. "A cada um segundo as suas obras”. O homem é o artífice do próprio destino, sob o olhar justo e misericordioso do Todo-Poderoso.
Expressões usadas e abusadas perdem ou mudam seu sentido, dando lugar a novas e arejadas concepções: pecado, perdição, salvação, demônio, anjo, Juízo Final, ressurreição, perdão, pena eterna, etc. e uma verdade básica ressalta para todos no binômio iniludível: mal-sofrimento, bem-felicidade.
Lauro F. Carvalho
in Reformador (FEB) Março 1970
Nenhum comentário:
Postar um comentário