Jesus aos 12 Anos
2,41 Seus pais iam, todos os anos, à Jerusalém, para a festa da Páscoa. 2,42 Tendo Ele atingido 12 anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. 2,43 Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os Seus pais O percebessem. 2,44 Pensando que Ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre parentes e conhecidos, 2,45 mas, não O encontrando, voltaram a Jerusalém, a procura Dele. 2,46 três dias depois O acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. 2,47 Todos os que O ouviam estavam maravilhados da sabedoria de Suas respostas. 2,48 Quando eles O viram, ficaram admirados e, sua mãe, disse-Lhe: - Meu Filho, que nos fizeste? Eis que teu pai e eu andávamos à Tua procura, cheios de aflição! 2,49 Respondeu-lhes Ele: “Por que me procuráveis? Não sabeis que devo ocupar-Me das coisas de Meu Pai? 2,50 Eles, porém, não compreenderam o que Ele lhes dissera. 2,51 Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. 2,52 E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.
De “Elucidações Evangélicas”, por Antônio Luiz Sayão, apresentamos o trecho abaixo para
Lc (2,41-52) -Jesus aos 12 Anos :
Com relação ao tempo decorrido desde que a sagrada Família regressou do Egito, até o momento em que Jesus reapareceu, entre os homens, período esse a cujo respeito guardam as Escrituras completo silêncio, não nos é dado saber o que fez, nem como viveu o Filho do Homem. Sabe-se tão somente que, após aquele regresso, Ele, já na idade de 12 anos, foi visto a discorrer no templo, entre os doutores da lei, assombrando os anciães de Israel com a inteligência esplendorosa e a madureza de juízo que revelava em tão tenros anos, segundo refere Lucas (V.47). Já era tal, com efeito, o seu saber, que Ele, sem jamais haver estudado (João 7,15). É que todos, em geral, o supunham aplicado ao ofício de carpinteiro, na oficina de seu pai.
Com um outro fato digno de reparo se depara nesta parte da narração de Lucas: o de haver Jesus passado três dias em Jerusalém, sem recurso de espécie alguma, sem seus pais e sem que estes, a princípio, lhe houvessem notado a falta.
E como se pode explicar que Jesus crescesse e se fortificasse em sabedoria, conforme diz o Evangelista (V.52), sem estudo e sem mestre, a ponto de confundir os doutores e causar admiração ao povo?
Para os católicos, a resposta é fácil e a que mais lhes convém, mesmo porque a Santa Madre Igreja, em favor de quem todos devemos abrir mão da nossa inteligência e de nossa razão, proíbe que seus fiéis se lancem a tais indagações. O Menino se mostrava cheio de sabedoria, a graça de Deus estava Nele (V. 14): o milagre explica tudo e faz descer o seu véu sobre a razão humana, que, desde então, nada mais tem que procurar saber. Por outro lado, se houvermos de seguir o cômodo exemplo dos materialistas, não temos que atentar nesse fato, porquanto não nos devemos impressionar senão com o que veem os olhos da matéria.
Entretanto, sem milagre, sem prodígio, sem mistério, e sem que tenhamos de rejeitar, por incompreensíveis, algumas partes da narração evangélica, a ocorrência se explica perfeitamente, de modo a podermos aceitar o que consta nos Evangelhos, não com os olhos fechados mas com eles bem abertos, como os devemos ter diante da verdade que emana dessa fonte de eterna sabedoria.
Para que tudo, no caso, se torne claro e perceptível, basta se atente em que era puramente espírita a origem de Jesus e de natureza perispirítica o seu corpo, embora com a aparência de humano, de material, no que nenhum milagre, nem mistério houve, porquanto é da Natureza a existência de corpos terrestres e de corpos celestes. Apenas, essa circunstância teve que ficar em segredo, até que, cumprida a sua missão, os homens se achassem nas condições de compreender e aceitar os múltiplos fenômenos que das combinações dos fluidos tiram a sua causalidade. O que fora anti natural, por contrário às sábias leis emanadas da onisciência divina, é que um Espírito de pureza absoluta, como o de Jesus, colocado em nível superior aos dos mais eminentes da hierarquia espiritual concernente ao nosso planeta, pairando em altitude ainda não atingida sequer pelos que, dentre estes, já tinham alcançado a perfeição sideral, houvesse, para se mostrar entre os homens como o verbo de Deus, de tomar um corpo grosseiramente carnal quais os nossos, isto é, de sofrer a encarnação humana, a que se acham sujeitos unicamente aqueles que ainda têm o que expiar, resgatar, ou reparar, aqueles que ainda se encontram mais ou menos distantes dos lindes extremos do progresso moral.
Acrescentem-se a essa circunstância os hábitos e costumes dos povos daquela época e o fato de que tratamos nada mesmo denotará de grandemente excepcional, apresentando-se, ao contrário, perfeitamente compreensível e aceitável, sem que se façam mister as imposições dos ortodoxos aferrados às tradições, ou ao dogmatismo.
Jesus chegara aos doze anos, entrara, pois, na adolescência, quando se celebrou a festa pascal, em comemoração da libertação dos judeus do cativeiro do Egito. Estando morto Herodes e destituído Arquelau das funções de preposto dos romanos, nenhum motivo de receios havia. Assim, a santa família compareceu à cerimônia da imolação do cordeiro e da consumação dos pães ázimos (não fermentados).
José e seu irmão Matias apresentaram Jesus no Templo, como descendente de Davi.
Terminada a festa, Maria e José trataram logo de regressar a Nazaré, pela estrada da Galileia, empreendendo uma viagem que durava quatro dias. A Virgem se pôs a caminho na companhia de outras donzelas e muitas matronas, indo José na de seus parentes e amigos íntimos. Como se sabe, há pais que trazem constantemente sob suas vistas os filhos, enquanto que outros, ou por compreenderem de modo diverso a vida, ou por saberem ajuizados seus filhos, lhes concedem maior liberdade. Era o que se dava com Maria e José, relativamente a Jesus, que, por isso, não saíra de Jerusalém na companhia deles. Aquela, não o vendo junto de si, o supunha com o pai, ocorrendo o mesmo da parte deste. Vê-se, assim, inverossímil que só ao cabo de algum tempo de viagem houvessem os dois dado por falta do menino.
Verificada essa falta, voltaram ambos imediatamente a Jerusalém, à procura do filho e, depois de terem viajado um dia, o foram encontrar no templo. E, nada mais natural do que, tendo-o encontrado, ela lhe dissesse magoada: “Meu filho, por que procedeste assim conosco? Aqui estamos teu pai e eu que aflitos te procurávamos”. Ao que Ele respondeu: “Por que Me procuráveis? Não sabeis ser preciso que Me ocupe com o que respeita ao serviço de Meu Pai?”
Nesta resposta de Jesus, que não foi compreendida por seus pais, é clara, evidente a alusão que ele fazia à missão altíssima de que se achava investido. E, a propósito dessa alusão, ocorre perguntar:
Poder-se-á crer, dado fosse Jesus um Espírito que estivesse sofrendo a encarnação humana, como a sofrem todos os que vêm habitar a Terra, tivesse ele, aos doze anos apenas de idade, não só a intuição, mas a consciência plena da missão que descera a desempenhar, de ser, portanto, o enviado de Deus, o Messias prometido à Humanidade?
Aquela alusão, pois, comprova que ele era, como o diz a Revelação da Revelação, um Espírito a quem Deus confiou o glorioso encargo de dirigir, governar e proteger a Humanidade terrena, revestido simplesmente de um envoltório especial, de um corpo celeste, ou seja: fluídico, de natureza perispirítica, mas visível e tangível.
Encontrado por seus pais, voltou Jesus com eles para Nazaré, falecendo José algum tempo depois. Seguiram-se dezoito anos, tempo esse de que nenhuma notícia temos, relativa a Jesus. É que os Evangelistas fecharam os livros de suas memórias, para só os reabrirem com a narrativa do belo episódio em que o Precursor anunciou a presença do Cristo entre os homens, derramando, para exemplo, as águas da penitência sobre a cabeça daquele que, nada tendo de que se penitenciar, trazia aos homens o batismo do Espírito Santo, na frase do Padre Ligny. Tendo vindo não somente pregar, mas também exemplificar, começou o desempenho da sua missão, por aquele exemplo de submissão, dando ensejo, ao mesmo tempo, à consagração ostensiva da sua altíssima investidura.
Não eram vulgares, como não podiam ser, transcorrendo como as nossas, dada sua natureza extra-humana, nem a sua vida íntima, nem a sua vida exterior. Ele gostava da solidão e a Virgem lhe favorecia esse gosto, visto que viera ao mundo nas condições espirituais precisas a auxiliar o filho em sua missão.
Jesus, pois, se ausentava frequentemente, desaparecia. É que volvia às regiões superiores, onde pairava e paira, na plenitude dos esplendores celestes, enviando continuamente à Terra, da qual é o Espírito protetor e governador, centelhas de luz purificadora e vivificante das almas, luz cujo brilho excede o dos raios do sol.
Oh! não nos é possível considerar em mente a figura sacrossanta do manso e divino Cordeiro imaculado, sem que das mais íntimas e melhores fibras da nossa alma se eleve a prece, como incenso odorífico, até aos seus sacratíssimos pés! Bendita seja a luz de Jesus!”
Ótimos esclarecimentos!
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