‘Os adeptos de Roustaing’
(1ª Ed. AEEV - 1993)
Autor: Luciano dos Anjos
“Apresentação
Ao receber de Luciano dos Anjos o convite para prefaciar “Os Adeptos de Roustaing””, aceitei-o, com alegria, por me incluir entre eles e também pela amizade que me une ao autor, além da natural admiração pela sua inteligência e capacidade de pesquisa. Dele, pouco se poderia destacar, no terreno das qualidades conquistadas à Evolução, sem correr o risco de repetir-se o que seu imenso público leitor e admirador já sabe. Sobre Roustaing, infelizmente, o que se falar e escrever será sempre insuficiente quanto à substância e beleza, transbordantes de “Os Quatro Evangelhos”.
Disse, certa vez, com muita propriedade, o Professor Pietro Ubaldi, que a raiz maior dos males humanos reside na IGNORÂNCIA, que leva ao ERRO e este, à DOR. Ubaldi situa aqui a IGNORÂNCIA não no seu sentido pejorativo, mas significando desconhecimento. E é exatamente o desconhecimento que tem conduzido muitas pessoas a rejeitarem “a priori” a Obra de Roustaing. Muitos, pouco afeitos à leitura, não se sentem fortalecidos a consultar os quatro tomos da Obra, optando pelo comodismo de negá-la; outros, envenenados por idéias preconcebidas, inoculadas por adversários gratuitos, acham mais cômodo criticarem o que não leram engrossando passivamente as fileiras dos críticos negativistas... Raros, após lerem e estudarem suas páginas, conseguem apresentar objeções lógicas e substanciosas às principais teses ali expostas. É que muitos espíritas, mesmo se dizendo estudiosos da Doutrina, esquecem a admoestação de Paulo: “Examinai tudo, retende o bom”; ou as palavras de Kardec, em “A Gênese”, capítulo I, parágrafo 13: “... enfim, a doutrina não foi ditada completa nem imposta à crença cega; porque ela é deduzida do trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhes põem sob os olhos pelas instruções que eles dão, instruções estas que o homem estuda, compara e das quais tira ele mesmo as suas conclusões e aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é que sua origem é divina, que a iniciativa pertence aos Espíritos, e que a sua elaboração é o resultado do trabalho do homem”. No momento de opinar sobre “Os Quatro Evangelhos”, muitos “esqueceram” dessas sábias recomendações. Outros, de maneira diferente, cultivam impulso íntimo, cego, incontrolável envolvendo-os numa repulsa irracional e inconsciente ao simples exame da Obra, fato esse só explicável pelas experiências em vidas pretéritas, sabe-se lá quais...
A grande verdade é que o exame cuidadoso de “Os Quatro Evangelhos” resulta na descoberta de ensinamentos e teses de excepcional profundidade espiritual, não tendo passado despercebido, como era de se esperar, de grandes nomes que se incluem entre os “Adeptos”, tais como Bezerra, Bittencourt Sampaio, Sayão, Emmanuel e tanto mais.
Para os que “ignoram” a Obra, é interessante que se chame a atenção para aspectos que julgamos marcantes no trabalho de Roustaing:
1º) A interpretação, lógica e em concordância com a revelação espírita, dos evangelhos segundo Mateus, Lucas e João. Os extraordinários fenômenos que cercaram o nascimento, vida e morte de Jesus são esclarecidos com base nas leis magnéticas, de atração e repulsão de fluidos ou energias e destacando a intervenção mediúnica que é notável em diversos trechos.
2º) A famosa questão da “queda espiritual”. Em “Os Quatro Evangelhos” encontramos o motivo da encarnação e das dores e sofrimentos experimentados pelas criaturas encarnadas. O afastamento da harmonia Divina levou-nos ao mergulho periódico na carne até que venha a ocorrer a recuperação do estado inicial, antes da “queda”. Sem a “teoria da queda”, fica-se a duvidar da Bondade e Justiça Divinas que obrigariam a um ser, sem culpa, iniciar uma evolução a partir de dificuldades e sofrimentos não merecidos. A “queda”, por outro lado, está em toda a parte do universo, como um símbolo, compondo, como diz Jung, o “inconsciente coletivo” de todas as criaturas. A queda está na Bíblia, no simbolismo do afastamento de Adão e Eva do paraíso; na mitologia grega, romana, germana e eslava, com as lendas de seres decaídos e desterrados, buscando sofregamente a recomposição e a harmonia; e até na Medicina, no corpo teórico da Homeopatia, dada ao mundo por Samuel Hahnemann. Na obra “Filosofia Homeopática”, de autoria de James Tyler Kent, um dos mais notáveis discípulos de Hahnemann, escreve o autor sobre a “psora”: “A Psora é o princípio de toda enfermidade física. Se a Psora não houvesse se estabelecido como um miasma sobre a raça humana, as outras enfermidades crônicas não teriam oportunidade de existir e a suscetibilidade às doenças agudas inexistiria. Todas as doenças do homem se fundamentam na Psora; por isso, é ela o fundamento da Doença; todas as demais vieram depois. A PSORA É A CAUSA FUNDAMENTAL, E É A DESORDEM PRIMITIVA OU PRIMÁRIA DA RAÇA HUMANA. É o estado desordenado da economia interior da raça humana. Se a raça humana houvesse permanecido em um estado de ordem perfeito, a psora não teria podido existir. A suscetibilidade à Psora abre uma questão demasiadamente ampla para ser estudada numa Escola de Medicina. É muito extensa, pois vai desde o mal primitivo da raça humana, sua primeira enfermidade verdadeira...” Como se não bastasse, várias religiões e filosofias orientais citam a “queda” sob roupagens diferentes: “dia e noite de Brahma”, etc... No século XX, destacamos a filosofia de Pietro Ubaldi, explicada na sua monumental obra de 24 volumes, toda ela centrada na “Queda Espiritual”, argumento muito bem apresentado em todos os volumes da Obra e estudado em minúcias em “Deus e Universo”, “O Sistema” e “Queda e Salvação”. Modernamente, portanto, coube a Roustaing a primazia de destacar este grande pilar, sem o qual não se consegue conciliar Deus e seus Atributos com a encarnação e as dificuldades, dores e provas enfrentadas pelas criaturas em evolução.
3º) O problema do chamado corpo “fluídico” de Jesus. Fluídico encontra-se aspeado, aliás como o próprio Luciano já chamou a atenção num artigo muito a propósito na revista “Reformador”, da Federação Espírita Brasileira, porque, aos mais afoitos, significaria algo etéreo, nebuloso e, portanto, pouco denso, o que não é verdadeiro. O termo fluídico foi infeliz, quando adotado inicialmente, porque trouxe consigo tais conotações, fazendo supor que o corpo de Jesus não teria consistência sólida, sendo algo intangível e pouco palpável, o que é falso. O termo fluídico, adjetivando o corpo do Cristo, empregado pelos Espíritos e citado por Roustaing em toda a Obra, significa que o mesmo foi formado por aglutinação de fluidos retirados da Natureza (vinhedos e trigais, segundo a revelação espiritual, principalmente). Ora, fluido, moderadamente, equivale à energia, e não é novidade, desde a Relatividade e a investigação da estrutura da matéria, a equivalência entre matéria e energia, prevista pela célebre equação einsteiniana, E = mc². A fusão e fissão atômicas mostraram tal realidade e o inverso, pelo menos em teoria, é aceito como possível pelos físicos, que perseguem o fenômeno através de múltiplas experimentações. Por isso, o “corpo fluídico” significa que o corpo do Cristo não teria sido formado pelo método biológico convencional, ou seja, fusão de espermatozóide e óvulo, com posterior desenvolvimento embrionário. Admitindo-se a pureza crística e a desnecessidade de sua encarnação, por não haver falido, por não ter sofrido a “queda”, é lógico que o imaginemos não sujeito às leis biológicas habituais. Teria Jesus, então, sido capaz de aglutinar as energias necessárias à formação de seu corpo, não elaborado pelo processo biológico comum, mas em tudo semelhante aos corpos humanos, com a mesma consistência, anatomia, histologia e fisiologia. Se assim não fosse, como explicar o sangue proveniente das feridas do suplício? O corpo de Jesus, portanto, é “fluídico” por ter sido formado pela reunião de fluidos, energias, tomados à Natureza, assim como as “materializações” são corpos oriundos de elementos doados pelo médium de efeitos físicos, pelos participantes das reuniões e por setores naturais. Os espíritos materializados, não obstante, têm corpos visíveis e tangíveis; pode-se-lhes auscultar batimentos cardíacos e tomar-se-lhes o pulso. Entretanto, seus corpos não são oriundos de ligação de espermatozóide e óvulo. Se espíritos evolutivamente mais atrasados podem se materializar em corpos densos e a Bíblia se refere a vários desses chamados “agêneres”, por que o Cristo, governador do planeta, não poderia?
Eis, leitor amigo,uma acanhada e limitada síntese da transbordante sabedoria de “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing, que Luciano dos Anjos tão eficientemente defende, embasado em substanciosas investigações, chegando ao requinte de ir buscar, alicerçado em copiosa documentação, os “Adeptos de Roustaing”. Precisamos deles e, a prevalecer a lógica, a coerência, a imparcialidade e a ausência de radicalismo, as futuras edições deverão ser engrossadas por muito mais páginas...
Caro Aron, a razão, realmente, sempre me fez acreditar que Jesus, Espírito da mais alta esfera, não tivesse tomado um corpo carnal formado pelo método biológico convencional. Porém, uma dúvida ainda persiste: em razão desse corpo "fuídico", os sofrimentos pelos quais Jesus passou foram reais, ou apenas aparentes?
ResponderExcluirEm quais passagens a Bíblia se refere aos "agêneres"?
Tenho, já há algum tempo, Os Quatro Evangelhos, e gostaria de receber subsídios em relação ao seu conteúdo, para poder, se não firmar convicção, ao menos adquirir livre convencimento.
Obrigada pela atenção e boa-vontade.
Prezado (a) companheiro (a) de jornada,
ResponderExcluirNão posso ter a pretensão de formular uma resposta mais abrangente numa postagem. Posso sim recomendar que caminhe através do marcador 'Roustaing' onde encontramos já acumulados um número significativo de artigos sobre o tema.
O mais recente livro que me caiu em mãos para estudo foi o do Inaldo Lacerda Lima: "À Luz da Verdade". Muito bem desenvolvido. Falarei dele em breve. O 'Livro de Tobias', edição FEB, relata a existência de um agênere na Bíblia. Existem outros... O (a) companheiro (a) já vivenciou trabalhos de rua do tipo 'entrega de quentinhas'? Já se imaginou não mais 'passar por eles' mas 'ficar entre eles', os assistidos, por, digamos, 3 anos? Maus hábitos, sujeira, maus pensamentos (vibrações pesadas), vícios de toda natureza, desamor, ingratidão...etc Será que vale a imagem que tento construir? Fraternalmente, Aron
Obrigada pela pronta resposta. Providenciarei o citado livro. Realmente, não se pode formular resposta abrangente numa postagem, nem mesmo em diversas postagens de um blog. E esse é justamente um dos motivos pelos quais busco um local apropriados para trocar informações, obter esclarecimentos, enfim, debater sobre esse e outros temas. Mas não tenho logrado êxito. Já venho caminhando através do marcador Rousteing há algum tempo, mas diversas dúvidas ainda persistem, apesar do número significativo de artigos sobre o tema.
ResponderExcluirO companheiro me perdoe a ingenuidade, talvez a ignorância, mas não entendi a colocação da segunda parte da sua resposta. Não, eu nunca vivenciei trabalhos de rua do tipo "entregas de quentinhas"; nunca me imaginei "ficar entre eles" os assistidos (?), pelo tempo que for. Cordialmente, Angela
A menção ao trabalho de rua com assistência material e espiritual aos senhores das calçadas buscou fazer uma analogia com a missão do Mestre convivendo conosco durante um largo período sofrendo com as afirmações e vibrações nossas, dos fariseus, dos hipócritas,dos sacerdotes, dos de César. Sua caminhada reta em direção à luz teve que ser como que interrompida para trazer a nós a Mensagem do Amor. Não poderia fazê-lo gravando mandamentos em pedra como contam as alegorias que envolvem Moisés. O invólucro carnal também não lhe resistiria às vibrações.
ResponderExcluirA Mensagem do Cristo teve registros deturpados - leiamos o capítulo 'Estranha Moral' no ESE. O melhor que conseguimos reproduzir foi o amor de uma mãe muito especial por um filho daí o destaque do personagem Maria junto à corrente católica. Jesus não veio lavar a multidão de nossos pecados. Jesus não veio morrer por nós e livrar-nos do 'pecado original'. Jesus veio passar-nos a lição do amor irrestrito - seja ao próximo seja aos nossos inimigos. Retornarei...
As vivências de Kardec com as materializações de espíritos não nos pareceram extensas o suficiente para que o Mestre formasse uma opinião mais definitiva como o fez Crookes com Katie King. Daí sua posição digamos, conservadora, em 'A Gênese'. Não nos esqueçamos que a Revelação é progressiva e não se cristalizou com Kardec. Se a admitirmos diferente, correremos o risco de estacionar como os irmãos judeus com Moisés e os cristãos com o Cristo.
ResponderExcluirOutro livro que recomendo para que você construa suas próprias conclusões é o 'Livro do João', Ed FEB, que relata as materializações obtidas pela médium Ana Prado lá pelos anos 20 do século passado. Ao seu final, registram-se detalhes da viagem do estimadíssimo Fred Fígner por aquelas bandas (Belém do Pará) na tentativa de um reencontro com sua querida Rachel, falecida em tenra idade. Fred a teve nos braços como se 'viva' estivesse. Retornarei....
Retornando...
ResponderExcluirGuerra Junqueiro (espírito) comenta, em versos, que doutores da ciência, escravos do envoltório, afirmam que se o Cristo não possuiu um corpo perecível, onde o merecimento ao seu martírio insano? Ele mesmo responde que o martírio real é o que retalha a alma, o fel da ingratidão... E aquele que tudo suportou sem revolta, em calma, o espicaçar da cruel dilaceração é um Herói. Que as feridas íntimas esfacelam a Alma para a engrandecer. Eu, como o poeta, vejo o Cristo como essência imaculada, sobrenatural, enviado a Terra enodoada para dela expulsar os histriões do mal... Sigamos Cristãos e em Paz, irmanados e envolvidos nessa maravilhosa psicosfera que vai se formando com a aproximação do Natal.
A 'turma' daqui agradece por suas palavras. Sigamos em paz. Fraternalmente,
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