domingo, 31 de julho de 2011

Livro Espírita - Apoio e Benção



Livro Espírita

- Apoio e Bênção –

Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará. – Jesus  em João – 8:32

Lido – é luz que acende;
Comentado – é sugestão luminosa à renovação;
Entendido – é abertura à vivência das lições que transmite;
Guardado – é tesouro escondido sem serventia;
Desprezado – é lâmpada desligada, favorecendo as trevas;
Abandonado – é caminho reto largado ao sabor das ervas que o ocultamos que se sentem perdidos, sem direção.
Na Terra em convulsão, o Livro Espírita se ergue como bandeira de paz, convocando as almas à serenidade em meio às lutas que se agravam a cada dia.
Diante do sofrimento, será a luz da consolação, renovando esperanças. Ante os que se atritam, será sempre a mensagem de reflexão concitando à reavaliação e ao perdão.
O Livro Espírita é apoio ao Bem, onde o Bem possa surgir e será sempre bênção de paz, renovando possibilidades de crescimento para Deus.
Agradecidos ao Pai, pelo Farol Divino, que permitiu a Kardec ascender para guiar-nos os passos. Valorizemos a dádiva recebida e não nos esqueçamos de que o Livro Espírita é o único caminho que nos levará ao conhecimento da Verdade.
E segundo Jesus, se conhecermos a Verdade, ela – tão somente ela – nos fará livres!

      Aurélio

        18 de abril de 1994 – Dia do Livro Espírita
        in ‘Evangelho e Vida’ 1ª Ed. ‘Lar de Tereza’ 2004

Jean-Baptiste Roustaing - O Missionário da Fé.



Jean-Baptiste ROUSTAING
- O Missionário da Fé -

por Luciano dos Anjos
1ª Ed. 2002 AEEV – Volta Redonda RJ

Duas Palavras
(como diria Guillon Ribeiro)

     De maneira doce e nostálgica o amigo e confrade Luciano dos Anjos procura nos relembrar aqui neste livro os principais fatos da vida de Jean-Baptiste Roustaing, esse verdadeiro espírita-cristão sempre praticando o bem e a caridade (inclusive ao desencarnar, conforme seu testamento no-lo atesta) e que seguiu rigorosamente a condição de discípulo de Jesus, quando este afirmou que aqueles seriam reconhecidos por muito se amarem.
     Escassas são as obras da arqueologia espírita em que podemos deparar com documentações e depoimentos autênticos. Por isso mesmo não é raro vermos pseudo-historiadores caminhando trôpegos em fio de aço teso, untado de ilações, suposições e, em alguns casos, até deturpações conscientes.
     Luciano dos Anjos vem trabalhando em prol da doutrina espírita há quase meio século. Singrando, no movimento espírita, mares que, por muito que se queira, jamais deverão ser de calmaria, é sabidamente conhecida a sua obstinação com a verdade, sendo verdadeiro nas suas ações e discursos que não compactuam com acomodações levianas e transigências destrutivas do cristianismo redivivo. Demonstra isso de maneira diamantina no livro de sua autoria O Atalho.
     Jean-Baptiste Roustaing – O Missionário da Fé, que ora apresentamos, é um impresso inédito de revelações e preciosidades históricas. Trabalho árduo e elaborado ao longo de muitos anos, foi agora pinçado da grande e notável obra A Posição Zero, do mesmo autor. Esta, sim, é obra ainda mais extraordinária, cuja publicação já havia sido prevista nos idos do século XIX. Essa previsão foi-nos mostrada desde a década de 70 pelo nosso inesquecível amigo Newton Boechat, depois que tomou conhecimento dos originais de A Posição Zero. Como todo fruto nobre, A Posição Zero vem  aguardando o momento mais propício para a sua completa divulgação.  (Alguns capítulos têm sido antecipados na imprensa ou em separata, caso mesmo deste pequeno livro).
     Mais uma vez Luciano dos Anjos opta por ser repudiado a deixar o tempo passar sem compartilhar com seus leitores as verdades libertadoras contidas nas obras da doutrina espírita. Uma vertente singular dessa opção é o livro que agora vem a público, capaz de comprovar, dentre outras verdades, o apreço de Roustaing por Kardec. Em duas palavras, verdade seja dita: contra fatos não há argumentos.
     Ao analisarmos as revelações trazidas pelo Alto, bem como o modo como as criaturas lidam com elas, encontraremos o fato de que a Verdade, para se estabelecer, enfrentará sempre dois perigosos inimigos engendrados pelas trevas, os quais de modo geral atuam em eito.
     O primeiro é o combate agressivo e irracional que procura atingir a própria integridade física de seus propagadores (caso, por exemplo, da perseguição aos cristãos primitivos e da prisão de espíritas no Brasil, no começo do séc. XX), ou a própria idéia em si. (Auto-de-fé de Barcelona e a pecha de loucura que procuraram lançar aos espíritas). Historicamente, esse tem sido um modo ineficaz de se desviar os movimentos religiosos de seus caminhos corretos, com raríssimas exceções (caso por exemplo da heresia cátara que foi destroçada pelo catolicismo).
     O segundo é a forma muito sutil como, em nome de uma falsa fraternidade e de uma falsa união, a Verdade é deixada de lado a fim de que não haja discórdia e polêmica entre os “fiéis”. Foi assim que a igreja católica conseguiu encobrir com véus grandes constatações como a existência da reencarnação e a mediunidade, contrariando o próprio Mestre Jesus. Tudo em nome do “amor”...
     Portanto, essas mesmas tentativas seriam (e vêm sendo) tentadas contra o espiritismo e os seus missionários, encarnados e desencarnados. A lógica e a História nos afirmam isso.
     É o caso, por exemplo, do missionário Jean-Baptiste Roustaing, que no dizer de Humberto de Campos-espírito, na obra Brasil,, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, foi o responsável pelo desenvolvimento do aspecto da fé da doutrina espírita, explicando de maneira coerente todos os fatos contidos no Evangelho de Jesus.
     Não bastou o total apoio ao advogado de Bordeaux (no passado e na atualidade) dado por espíritos e espíritas, como Bezerra de Menezes, Antonio Luiz Sayão, Bittencourt Sampaio, Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne A. Pereira, Leopoldo Machado, Zilda Gama, Aura Celeste, Vinícius, Emmanuel e muitos, muitos outros. Quanta perseguição à magistral obra Os Quatro Evangelhos! Quantas mentiras e tentativas de deturpações na interpretação de seu conteúdo cristalino!!! Mas, como Kardec disse na Revue Spirite que “proibir um livro é provar que o tememos”, essa perseguição irracional em nada impediu que chegassem até aos presentes dias os conceitos iluminados da obra recebida por Mme. Collignon, como a natureza extra-humana de Jesus ou o porquê da primeira encarnação humana. (Será que Deus enviaria seres desprovidos de carma para que iniciassem suas vidas materiais em meio a cataclismos físicos e a doenças? Como nós, os espíritas, iremos aceitar isso, quando sabemos que se não se encontra no presente há de existir no passado uma causa para todos os resgates dolorosos?)
     Contudo, lembremo-nos do segundo meio sutil dos inimigos da Verdade: “Para que estudar e divulgar reencarnação, já que isso poderia dividir o movimento cristão?, indagaram os católicos; “Meu Deus, não será melhor, em nome do amor, deixarmos a mediunidade de lado?”, inquiriam durante a Idade Média os homens ditos cristãos...
     Não será exatamente isso que vivenciamos, na atualidade do movimento espírita, com relação à obra Os Quatro Evangelhos? É bom parar para pensar, pois um “povo que esquece a sua história está sujeito a repeti-la”...

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2001

Pelo Grupo dos Oito

Alexandre da Silva Costa
Jorge Pereira Braga
Leda Pereira Rocha
Luciano dos Anjos Filho
Pedro Miguel Calicchio



Explicação
    
         Você vai conhecer a mais atualizada biografia de Jean-Baptiste Roustaing, o maior missionário da terceira revelação, depois de Allan Kardec. Os dados até hoje conhecidos se acham na Introdução de Os Quatro Evangelhos, redigida por ele mesmo. Na década de 70, ampliei esses dados, encetando meticuloso levantamento de tudo quanto Allan Kardec publicou na Revue Spirit a respeito de Roustaing, Emilie Collignon e do grupo de Bordeaux a que pertenciam. Além disso, mantive diversos e proveitosos contatos epistolares e telefônicos com autoridades daquela cidade e de Paris. Antecipei esse trabalho na imprensa, em opúsculos e até mesmo numa separata, retirado tudo do meu livro A posição Zero – Introdução Histórica e Dialética a Roustaing, ainda inédito. Posteriormente, nos anos 80/90, com o advento da Internet, minhas pesquisas alcançaram novos e mais amplos resultados. E prossigo até hoje nas buscas, mas estou desde logo repassando aos espíritas, através deste outro livro-separata, o que já consegui reunir, tanto quanto o farei na home-page do Grupo dos Oito, a ser brevemente inaugurada.
     A rigor, esta biografia atualizada de Jean-Baptiste Roustaing é o capítulo I do livro A Posição Zero, qual já fiz também a antecipação integral do capítulo IV na forma de separata [Os Adeptos de Roustaing, edição da Associação Espírita Estudantes da Verdade, Volta Redonda, tel. (024)  3342-4294].
     Aí está, pois, a vida, a luta, a glória do grande missionário Jean-Baptiste Roustaing, com dados, informações e documentos absolutamente inéditos, inclusive uma detalhada árvore genealógica que eu mesmo montei e que surpreendeu instituições de Bordeaux, de Paris, e até descendentes do coordenador de Os Quatro Evangelhos.
     Apenas não me foi possível ainda localizar alguma foto de Roustaing. Existe, no entanto, uma espécie de baú que foi repassado com um imóvel e outros pertences quando alguns familiares precisaram quitar determinada dívida. Esse baú continha objetos pessoais, nele podendo ser encontrada, talvez, a tão desejada foto. Estou nessa pista com a ajuda de um dos remanescentes da família, residindo hoje fora de Bordeaux. É muito possível, assim, que de repente eu venha a apresentar aos espíritas do Brasil e do mundo algum retrato, ou desenho, ou gravura de Jean-Baptiste Roustaing.
     Por ora, fiquem com essa biografia que orgulhosamente lhes apresento, num preito de gratidão ao nosso missionário da fé.
                      Rio de Janeiro, 07 de março de 2001.
                                                                    Luciano dos Anjos



31 de Julho



31 Julho

Examine a consciência,
Não lamente a ingratidão
Cada qual leva do mundo
O que trás no coração.


 Casimiro Cunha
por Gilberto Campista Guarino
in ‘Centelhas de Sabedoria’  (1ª Ed. FEB 1976)

Irmãos de Jesus


‘Irmãos de Jesus’
por  Kruger Mattos
(FEB 3ª edição - 1989)

À Guisa De Prefácio
      Rio, 5 de agosto de 1943.
                Meu caro Kruger
               
      Saúde e paz em Jesus Cristo.
     Acusando o Sr. Manoel Quintão, sem nenhum favor um dos maiores doutrinadores da filosofia espírita no Brasil, o recebimento de uma carta acompanhada do presente trabalho, em forma de conferência, que lhe fora enviada pelo seu autor, solicitando-lhe algumas palavras de apresentação, escreveu:
....................................................................................

     “A carta, achei-a um tanto pragmática, e a conferência me agradou muito, muitíssimo mesmo.
     Você lavrou um belo tento e, sem lisonja, que me não praz cultivar, em obediência à boa ética doutrinária, confesso que é, no gênero, o melhor trabalho de meu conhecimento.
     Suculento, erudito e de boa roupagem literária. Aceite meus parabéns, portanto, sem restrições.”

.....................................................................................

    Fazendo, em seguida, o autor da carta, festejado publicista espírita, referência a prefácios que lhe são solicitados para apresentação de publicações, classifica de “prebenda” o sacrifício de os dar, e acrescenta:
     “E digo prebenda porque nem sempre, antes raramente, se nos oferecem obras prefaciáveis, como esta sua.
     De sorte que, a situação, ou melhor, o dilema é este: ou dizer bem do que não presta e incidir no ridículo e na censura dos competentes, ou criar desafetos, quando tantos já nos sobejam.
     Sem embargo, se você, meu caro Kruger, quiser um conselho, aqui lho dou com fidelidade de coração: dispense o prefácio. Seu trabalho não precisa de anteparos, vale pela só estrutura e o seu nome não requer credenciais.”

.....................................................................................
                                                                                                             
                                              Irmão e servo em Cristo
                                       (as). Manoel  Quintão.”     
        

P r o ê m i o
    
 No desempenho da honrosa quão espinhosa missão de comentar os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo, semanalmente, na sede da sociedade, fundada em Carangola, neste Estado de Minas Gerais, com a denominação de “Cenáculo de Estudos Evangélicos e Núcleo Esperantista Ismael Gomes Braga”, na qualidade de seu orador sucessivamente reeleito, ao procedermos os estudos públicos dos versículos 46 a 50 do capítulo 12 do Evangelho atribuído a Mateus, fomos obrigado a ampliar as considerações relativas ao referido ponto ou tema, a convite dos nossos companheiros daquele Tabernáculo do Senhor, de vez que enxameavam nas rodas em parlengas as insinuações e argumentos capciosos dos adversários em crença, contrários à interpretação exegética que nos apresenta o Espiritismo.
     E, já que motivos de força maior a isso nos obrigavam, para que tais estudos, feitos nuncupativamente, como têm sido, não servissem apenas no elucidar o assunto aos que ali estudam e compõem aquele humilde colégio neo-apostólico de apreciação aos estudos das Boas-Novas do Mestre, resolvemos firmá-los, estereotipando-os com o só intuito de que pudessem servir de alvo às meditações dos dedicados e pèrquiridores estudantes das verdades bíblico-evangélicas, que por motivos vários não fazem parte da nossa despretensiosa academia teológica – a qual não se dedica apenas aos estudos dos Evangelhos de Jesus Cristo, senão também ao ensino gratuito da língua universal, o Esperanto, pela qual tais Evangelhos serão conhecidos internacionalmente por todos os povos da Terra.
     Tendo sido, porém, agraciado com a honra, que nos prodigalizam os nossos irmãos espíritas do  “Centro União, Humilde e Caridade”, da culta cidade de juiz de Fora, de um convite para realizarmos uma série de conferências evangélicas, na sua sede social, bem como na de vários outros Centros Espíritas daquela cidade, tivemos o prazer de proferir, entre os demais, este pequeno estudo na sede da “União” acima referida, o qual é mais que um “Centro Grande”, porque é um Grande Centro, perante uma culta e delicada assistência de mais de mil pessoas.
     Nestas conjunturas, animamo-nos a dar publicidade ao presente exercício evangélico-espírita, entregando-o à análise das inteligências cultas dos neo-espiritualistas, estudantes do Cristianismo do Cristo, na frase do Padre Alta, para ele solicitando as bênçãos dos nossos Maiores do plano subjetivo, os Bons Espíritos, abnegados Prepostos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Carangola, 13 de maio de 1943.
                                                                                              Kruger Mattos.
               



As tentações no deserto



As Tentações no Deserto 
-A palavra de João Evangelista-

4,1 Em seguida, Jesus foi conduzido pelo espírito ao deserto para ser tentado.4,2 Jejuou durante 40 dias e 40 noites, depois teve fome. 4,3 O tentador aproximou-se dele e lhe disse: - Se és filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães. 4,4 Jesus respondeu: “-Está escrito:“ -Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.“ (Deut. 8,3) 4,5 O tentador transportou-o à cidade santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: 4,6 -Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: “Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito, proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé nalguma pedra.”  (Salmo 90,112s)  4,7 Disse-lhe Jesus :“ -Não tentarás o Senhor teu Deus!” (Deut. 6,16) 4,8 O tentador transportou-o, uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou os reinos dos mundos e a sua Glória, e disse-lhe: 4,9 -Dar-te-ei tudo isso, se, prostrando-se diante de mim, me adorares. 4,10 Respondeu-lhe Jesus: “ -Para trás, Satanás, pois está escrito: “ -Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás! ” (Deut. 6,13) ” 4,11 Em seguida, o tentador o deixou, e os anjos aproximaram-se Dele para servi-lo.  

Para Mt (4,1-11) A Palavra de João Evangelista,  leimos  Kardec, em “A Gênese”, Cap. XV, reproduzindo mensagem recebida de João Evangelista, em Bordéus, no ano de 1862.

“ Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a humanidade se acha sujeita a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Como pretenderíeis que o Messias, O Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, embora muito curto que fosse este, às sugestões do demônio e que, como diz o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que daria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade? Não; compreendei melhor os ensinos que vos foram dados. O Espírito do mal nada poderia  sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do templo. Certamente, tal fato teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material ou físico. Quanto ao ato moral, admitiríeis que o Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e o seu poder:
          “Adora-me, que te darei todos os reinos da Terra?” Desconheceria então o demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos ? Não é provável. Ora, se o conhecia, suas propostas eram uma insensatez, pois ele não ignorava que seria repelido por aquele que viera destruir-lhe o império sobre os homens.
“Compreendei, portanto, o sentido dessa parábola, que outra coisa aí não tendes, do mesmo modo que nos casos do Filho Pródigo e do Bom Samaritano. Aquela mostra os perigos que correm os homens, se não resistirem à voz íntima que lhes clama sem cessar: “Podes ser mais do que és; podes possuir mais do que possuis; podes engrandecer-te, adquirir muito; cede à voz da ambição e todos os teus desejos serão satisfeitos”. Ela vos mostra o perigo e o meio de o evitardes, dizendo às más inspirações: Retira-te, Satanás ou por outras palavras: Vai-te, tentação!
As duas outras parábolas que lembrei mostram o que ainda pode esperar aquele que, por muito fraco para expulsar o demônio, lhe sucumbiu às tentações. Mostram a misericórdia do pai de família, pousando a mão sobre a fronte do filho arrependido e concedendo-lhe, com amor, o perdão implorado. Mostram o culpado, o cismático, o homem repelido por seus irmãos, valendo mais aos olhos do Juiz Supremo, do que os que o desprezam por praticar ele as virtudes que a lei de amor ensina.
Pesai bem os ensinamentos que os Evangelhos contém; sabei distinguir o que ali está em sentido próprio ou em sentido figurado, e os erros que vos hão cegado durante tanto tempo se apagarão pouco a pouco, cedendo lugar à brilhante luz da Verdade.”

Para  Mt  (4,4) - Nem só de pão vive o homem...,  trazemos à reflexão texto de “Fonte Viva” de Emmanuel por Chico Xavier:

“Não somente agasalho que proteja o corpo, mas também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma. Não somente a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente a formosura e nobreza dos sentimentos. Não apenas a eugenia que aprimora os músculos, mas também a educação que aprimora as maneiras. Não somente a cirurgia que extirpa o defeito orgânico, mas igualmente o esforço próprio que anula o defeito nocivo. Não só o domicílio confortável para a vida física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o espírito se faça útil, estimado e respeitável. Não apenas os títulos honrosos que ilustram a personalidade transitória, mas igualmente as virtudes comprovadas, na luta objetiva, que enriqueçam a consciência eterna. Não somente claridade para os olhos mortais, mas também luz divina para o entendimento imperecível. Não só aspecto agradável, mas igualmente utilidade viva. Não apenas flores, mas também frutos. Não somente ensino continuado, mas igualmente demonstração ativa. Não só teoria excelente, mas também prática santificante. Não apenas nós, mas igualmente os outros.
Disse o Mestre: - “Nem só de pão vive o homem”.
Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo do mundo.
Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos dirigimos para a Eternidade.”
   
   


sábado, 30 de julho de 2011

30 de Julho




Paramentos, rituais,
Resquícios e velharias...
No céu que Deus nos promete
Não entram quinquilharias.


 Belmiro Braga
por Gilberto Campista Guarino
in ‘Centelhas de Sabedoria’  (1ª Ed. FEB 1976)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

29 de Julho



29 Julho

Muito fácil de apontar
A miséria que há na vida,
Quando se tem sobre a mesa
Sobremesa preferida.


 Cornélio Pires
por Gilberto Campista Guarino
in ‘Centelhas de Sabedoria’  (1ª Ed. FEB 1976)

Gabriel Dellane escreve sobre Allan Kardec


‘À Memória de Allan Kardec’

Por  Gabriel Delanne
Reformador (FEB) Agosto 1977

(Este artigo, traduzido de “Revue Spirite”, de 1º de Janeiro de 1907, pp. 50/58, com o qual a mais antiga revista espírita do mundo – lançada, em Paris, pelo Codificador – iniciava o 50º ano de fundação, foi escrito a pedido da redação, então sob a responsabilidade de Léopold Dauvil, Redator Chefe. Paul Leymarie (filho do casal Marina e Pierre-Gaetan) era o Diretor Gerente.)




                        Aceito, meu caro amigo, e com bastante prazer, a incumbência de homenagear o grande pensador que fundou a “Revue Spirite”, e cujos livros, escritos com método e clareza, levaram ao Espiritismo milhões de adeptos do mundo inteiro. Jamais seremos suficientemente reconhecidos ao valoroso espírito cujos trabalhos têm esclarecido, consolado e fortificado tantos corações amargurados pelas provações da vida.

            Constituirá, para ele, motivo de alegria ver a sua obra prosperar e aumentar em proporções tão vastas. Existia na Europa, em 1858, apenas duas revistas espíritas. Contam-se em nossos dias mais de cinquenta revistas que levam ao longe a boa nova da imortalidade, e sentimo-nos orgulhosos porque fomos os iniciadores do estudo dos fatos espíritas neste mundo cético, que tão desdenhosamente se mostrou para com a jovem ciência, desde o seu aparecimento.

            Foi-se o tempo em que a Ciência era apanágio de alguns privilegiados, democratizou-se ela, de maneira que cada um pode fazer hoje obra de sábio, empregando judiciosamente os seus métodos. Multiplicaram-se as pesquisas acerca do Espiritismo, a tal ponto que é preciso ser profundamente indiferente para não conhecê-las ; e não se diga sejam, somente individualidades isoladas que se ocupam desse assunto, mas igualmente numerosos agrupamentos, sendo que alguns deles se constituíram em verdadeiras academias criadas à revelia dos círculos oficiais.

            A fundação, na Inglaterra, da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, e a do Instituto Geral de Psicologia, na França, são provas evidentes de nossa ação sobre as inteligências que meditam, pois quem sistematicamente não fecha os olhos diante da evidência entrevê logo a enorme importância das pesquisas que abrem, à Ciência e às aspirações da Humanidade, horizontes cujas profundezas mal podemos divisar.

            Substituir a fé cega em uma vida futura, pela certeza inabalável, resultante de verificações científicas, eis o inestimável serviço prestado por Allan Kardec à Humanidade. Introduzir a luz da observação e mesmo da experimentação, em domínio até então reservado às obscuras e intermináveis discussões literárias, era fazer obra de mestre, era quebrar as velhas molas do pensamento, injetar sangue novo no antigo espiritualismo, renovar a psicologia, indicando-lhe outro caminho mais fecundo, e preparar a mais rica colheita de novos conhecimentos de que se tem notícia nesses dois mil anos.

            Semelhante revolução intelectual provoca sempre tempestades. O Espiritismo foi combatido por numerosos adversários, por estar em oposição a quase todas as opiniões reinantes, pois que suas experiências demonstram a falsidade das teorias materialistas, a insuficiência dos sistemas espiritualistas, que desconhecem a verdadeira natureza da alma, e os erros dos ensinos religiosos relativos à origem e ao destino do princípio pensante. prodigalizam-se também insultos, zombarias, anátemas. Mas, levado pela irresistível força oriunda da observação científica, o Espiritismo despreza os ultrajes e, respondendo com fatos aos sofismas de seus contraditores, lança por terra os obstáculos acumulados em sua trajetória, e dia a dia conquista novos adeptos nas próprias fileiras de seus adversários. Quando inteligências como as de Crookes, Wallace, Varley, Lodge, Zöllner, Lombroso, Myers, Hodgson se veem obrigadas a reconhecer a incontestável realidade das relações entre os vivos e os pretensos mortos, a gente se sente em boa companhia e, assim, nem as calunias, nem os clamores rancorosos dos detratores da nova verdade serão capazes de impedir-lhe o triunfo definitivo.

            Comunicamo-nos com o Além, de maneira ininterrupta, através dos fenômenos da mesa, da escrita, da incorporação, das aparições. O túmulo deixou de causar-nos horror, porque ele, agora, é a porta que se abre para um mundo novo onde a vida é mais suave do que a daqui. A alma humana, em resposta aos negadores da sobrevivência, se revela após a morte com a mesma atividade que tivera na Terra, mostrando-se, até na chapa fotográfica, a esses doutores que jamais conseguiram encontrá-la sob seus escalpelos. Extraordinário prodígio o reconstruir ela, temporariamente, um corpo físico semelhante ao que possuía na vida terrena, e esta ressureição momentânea é o mais peremptório argumento suscetível de destruir os erros grosseiros do materialismo.

            A comunhão constante com a Humanidade desencarnada confirma a nossa imortalidade pessoal e permite-nos, outrossim, conhecer, sem vacilação, a verdadeira natureza da alma, levantando-se uma ponta do véu que ocultava sua origem e seus destinos.

            Que liberdade e que reconforto para o pensamento humano ao não se sentir mais descoroçoado pelos dogmas tão terrificantes como os do pecado original e das penas eternas! Que alívio concebermos o Ser Supremo sem aquelas feições de justiceiro implacável, a condenar ao suplício sem fim as miseráveis e fracas criaturas que somos nós! Felizmente, a realidade é mais nobre e grandiosa que essas  sombrias invenções da Teologia. A sorte de nossa eternidade futura não se decide nos curtos instantes de uma vida terrestre, ‘ondulação mal perceptível no imenso oceano das ideias’!

            A lei da evolução do princípio espiritual, cuja execução se processa por vidas sucessivas, permite-nos compreender o motivo das desigualdades morais e intelectuais que separam os filhos de um mesmo pai, a razão da existência, no mesmo globo, de selvagens e povos civilizados, de idiotas ao lado de gênios que são a glória de nossa raça. É pelos incontáveis e concordantes testemunhos dos que vivem no Espaço que sabemos não existir nem inferno nem paraíso e que somos os únicos artífices de nossos destinos futuros. É, lentamente, através de esforço ininterrupto, que desenvolvemos nosso ser espiritual, que ampliamos nossa inteligência, que penetram em nós os sentimentos do justo, do belo, do bem, e desaparecem os obscuros instintos do egoísmo, das baixas paixões e dos vícios, para darem lugar ao sentimento de fraternidade que nos aproxima desta Causa Primária que é todo amor.

            Allan Kardec, através de suas conversas com os Espíritos, não só deduziu toda essa nobre doutrina filosófica, senão que sua atenção foi ainda atraída para as manifestações extracorpóreas da alma encarnada.

            O mestre conheceu todos os fenômenos psíquicos, batizados hoje com novos nomes, e, classificando-os, determinou-lhes as causas. A transmissão de pensamento que, com o nome de telepatia, obteve grande repercussão em nossos dias, foi estudada em “O Livro dos Espíritos” e em “A Gênese”. A possibilidade de desdobramento do ser humano está indicada em “O Livro dos Médiuns”, com provas suficientes, e os casos muito interessantes de clarividência que se verificaram no passado, no presente e que se apreciarão no futuro, foram longamente descritos. na “Revue Spirite”. a Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas confirmou, através de investigações, a existência real desses fenômenos; os magníficos trabalhos de F.W. H. Myers nada mais são do que o sábio desenvolvimento das teorias que se encontram em gérmen nas obras de nosso mestre. E, entretanto, a obra do ilustre psicólogo inglês ainda está incompleta.

            Como simples hipótese verbal, a consciência subliminal não deve ter substrato material; parece-nos, pois, necessário ver no períspirito o órgão que serve a essas manifestações transcendentais.

           É ainda a Allan Kardec que devemos as primeiras e precisas noções a respeito do períspirito, corpo inseparável da alma. Inumeráveis observações, feitas sobre aparições de vivos e de mortos, afirmam de maneira categórica a sua existência.  

            O conhecimento desse organismo supra fisiológico faz do Espiritismo uma doutrina original, distinguindo-o nitidamente do espiritualismo religioso ou filosófico. O princípio inteligente não é mais uma abstração ideal, vaga entidade incorpórea; é um ser concreto, possuidor de sentidos especiais apropriados ao meio em que é chamado a viver após sua partida da Terra, isto é, no Espaço. Certas faculdades superiores da alma, tais como a telepatia e a clarividência, tem evidentemente a sua sede fora do cérebro, de vez que este é estranho às suas manifestações. Provavelmente, é no períspirito que vamos encontrar suas condições de existência, pois que se faz preciso a emancipação da alma para que elas se exerçam.

            Quanto mais estudarmos esse organismo superior, melhor lhe compreenderemos a importância para explicar certo número de problemas biológicos. A experimentação espírita tem uma utilidade de primeira ordem nesse particular, porquanto se torna indispensável submeter a exame cientifico a natureza e as propriedades deste corpo fluídico, para melhor lhe precisarmos a ação durante a vida e após a morte.

            As materializações dos Espíritos são fenômenos que põem em evidência esse mecanismo perispiritual, que dá à alma o poder de se apresentar diante de nós com os atributos anatômicos e fisiológicos da criatura terrestre. Se um ser do espaço é capaz de reconstituir momentaneamente a forma típica que tivera aqui embaixo – recebendo do médium parte de sua substância -,não será descabido supormos que a alma opera de maneira idêntica no nascimento, porém lentamente, segundo as leis da gestação, para que sua união com o corpo material seja durável. O ensino dos Espíritos, nesse ponto, está em concordância com a opinião de Claude Bernard, que claramente viu que a construção, manutenção e a reparação de um organismo vivo não revelam leis físico-químicas.

            ‘Vemos, diz ele, aparecer na evolução do embrião um simples esboço do ser antes de qualquer organização. Os contornos do corpo e os órgãos do ser permanecem detidos a princípio, iniciando-se as bases orgânicas provisórias que servirão de aparelhos funcionais temporários do feto.

            “Ainda não se distingue nenhum tecido. Toda a massa se constitui apenas de células plasmáticas e embrionárias. Mas neste bosquejo vital está traçado o desenho ideal de um organismo ainda invisível para nós, que assinala a cada parte e a cada elemento o seu lugar, sua estrutura e suas propriedades.”

            E, mais adiante, o eminente fisiologista precisa ainda mais seu pensamentos nestes termos:
“O que é essencialmente do domínio da vida e que não pertence nem à Física, nem à Química, nem a coisa alguma, é a ideia diretriz desta ação vital. Em todo gérmen vivo há uma ideia diretriz que se desenvolve e se manifesta pela organização. Durante toda a sua duração, o ser fica sob a influência dessa mesma força vital criadora, e a morte chega quando ela não se pode realizar... é sempre a mesma ideia que conserva o ser, reconstituindo as partes vivas, desorganizadas pelo exercício ou destruídas por acidentes ou enfermidades”.

            Nós que sabemos por experiência que a alma sobrevive à morte, que a vemos reedificar temporariamente o corpo, anatomicamente semelhante àquele que possuía na Terra estamos logicamente autorizados a supor que o períspirito contém a ideia diretriz que preside a edificação do corpo físico, de vez que o períspirito possui ainda esse poder de reconstrução após a morte.

            Não é tudo. Se a alma é o arquiteto de seu envoltório terrestre, possível será tirar-se desse fato uma confirmação da lei da reencarnação.

            Se é exato que o feto resume, nas primeiras semanas de vida intrauterina, todas as etapas percorridas pelos seres vivos depois da célula inicial; se, além disso, temos ainda em nós órgãos atrofiados, vestígios dos que foram úteis aos nossos ancestrais, deve-se concluir que o períspirito, que responde por essas formas desaparecidas e que afeiçoa e modela a matéria, passou outrora pelas organizações inferiores onde elas existiram; pois que, sem isso, ele, o períspirito, não poderia engendrá-los. Penso que seguindo essa direção os espíritas poderão encontrar, no estudo do ser humano, novas provas desta grande e magnífica verdade das vidas sucessivas, que já possui em seu ativo toda uma coleção e fatos relativos às recordações de existências anteriores, ou à predição de reencarnações que mais tarde se verificaram, tais como foram anunciadas.

            Os fatos espíritas receberam a consagração do tempo, resistiram a todos os métodos críticos a que foram submetidos, e, em nossos dias, com a evolução operada nas teorias científicas, vemo-las convergirem para as que Allan Kardec e os Espíritos sempre ensinaram. É com profunda alegria que verificamos o quanto as descobertas das ciências físicas  aproximaram estas desse mundo invisível com o qual começam assim a entrar em contato.

            As mais estranhas manifestações obtidas nas sessões espíritas não constituem atualmente fatos isolados. Os eflúvios que saem do corpo do médium, que atravessam obstáculos materiais, que impressionam chapas fotográficas, apresentam uma analogia evidente com os produtos da desmaterialização da matéria, gerados, por exemplo, pelos corpos radioativos. O corpo humano é um laboratório onde continuamente se realizam reações químicas muito intensas, as quais dão nascimento a produtos variados: emanações, raios catódicos, raios X, elétrons, poeiras de átomos em diferentes estados de desagregação. Estes resíduos estão eletrizados e constituem precisamente uma das formas mais grosseiras da substância fluídica, sob certos aspectos ainda material, mas, sob outros, imponderável. É muito provavelmente uma forma semelhante de desagregação carnal que serve, nas sessões de materialização, para produzir aparições temporárias de objetos (roupas, joias, etc.) que desaparecem, com a rapidez do relâmpago, tão logo deixe de agir a força que as originou.

            As experiências feitas com os eflúvios das substâncias radioativas dão força nova ao ensino de Allan Kardec sobre as criações fluídicas do pensamento. Com efeito, sabemos que o pensamento se traduz sempre por uma imagem; que a criação mental pode exteriorizar-se sob a forma de desenhos suscetíveis de adquirir a propriedade de se imprimirem sobre os corpos, produzindo modificações fisiológicas (sugestão de vesicatórios, de sinapismos, de queimaduras, etc.), desenhos esses que podem mesmo impressionar a chapa fotográfica (experiência do Comandante Darget). Sempre sustentei que só seria possível obter tal fenômeno se a sua imagem fosse uma realidade objetiva, isto é, fosse materializada. E interessante assinalar que o Sr. Le Bom pode reproduzir materializações temporárias com eflúvios de matéria dissociada. Eis o que ele diz sobre o assunto[1] :

            “Se desejamos estudar os equilíbrios de que são suscetíveis os elementos da matérias dissociada, substituamos um corpo radioativo por um ponta eletrizada  em conexão com um dos polos de uma máquina elétrica.

            “ Estas partículas estão submetidas às leis das atrações e repulsões que regem todos os fenômenos elétricos. Utilizando estas leis, conseguiremos obter, à vontade, os mais variados equilíbrios. Tais equilíbrios só por um instante podem ser mantidos. Se nos fosse possível fixa-los para sempre isto é, de maneira que eles pudessem sobreviver á causa geradora, criaríamos  com as partículas imateriais alguma coisa que se assemelharia à da matéria.

            “Mas se não podemos com coisas imateriais realizar equilíbrios capazes de sobreviverem à causa que os fez nascer[2], podemos, pelo menos, mantê-los o tempo suficiente para fotografá-los e criar assim uma espécie de materialização momentânea.

            “Utilizando unicamente as leis de que falamos mais acima, tivemos a sorte de agrupar as partículas de matéria dissociada, de modo a dar ao seu agrupamento todas as formas possíveis: linhas retas ou curvas, prismas, células, etc., que fixamos em seguida pela fotografia...

            “As formas poligonais, apresentam em algumas de nossas fotografias, não são, bem entendido, a reprodução de imagens planas, mas sim de formas com três dimensões, de que a fotografia pode dar a projeção. São, pois, figuras no espaço que obtivemos mantendo, momentaneamente, no equilíbrio que lhes impusemos, partículas de matéria dissociada.”

            No dia em que os sábios se resolveram a estudar cientificamente os fenômenos psíquicos, prometo-lhe estão algumas surpresas, mostrando que suas futuras descobertas já haviam sido previstas pelos Espíritos de quem eles ignoram tão profundamente as doutrinas.

            Um simples exemplo será suficiente para fazer ver que o Sr. Gustavo Le Bom – que justamente se orgulha pelo fato de haver demonstrado que a matéria retorna ao éter – não o primeiro a proclamar esta teoria, visto que ela se encontra nitidamente formulada por Allan Kardec em “A Gênese”, e isto em época em que essa hipótese era tida como monstruosa heresia cientifica.

            Eis o que foi escrito pelo mestre[3]:

            “Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria tangível? Ela talvez somente seja compacta em relação aos nossos sentidos; prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam os fluidos espirituais e os Espíritos, aos quais não oferece maior obstáculo do que os corpos transparentes oferecem à luz.
            “Tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo. à matéria tangível há de ser possível, desagregando-se[4], voltar ao estado de eterização, do mesmo modo que o diamante, o mais duro dos corpos, pode volatilizar-se em gás impalpável. Na realidade, a solidificação da matéria não é mais do que um estado transitório do fluido universal, que pode volver ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as condições de coesão”.   

            A própria radioatividade foi pressentida nestes termos:

            “Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria não é suscetível de adquirir uma espécie de eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos, que parecem autênticos, tenderiam a fazer supô-lo. Ainda  não conhecemos senão a fronteira do mundo invisível; o porvir, sem dúvida, nos reserva o conhecimento de novas leis, que nos permitirão compreender o que nos conserva em mistério.”

            Sir Oliver Lodge, sobre o mesmo assunto, exprime-se assim perante a Sociedade de Física de Londres:

            “Não mais vamos admitir que o átomo seja permanente e eterno. A matéria provavelmente pode nascer e perecer. A história de um átomo apresenta analogias com a  de um sistema solar. Segundo a teoria elétrica da matéria, a combinação dos elétrons  pode produzir o agregado elétrico chamado átomo, cuja dissociação é acompanhada de um fenômeno de radioatividade.”

            W. Crookes, enfim, por sua vez, chega a uma análoga conclusão:

            “Essa fatal dissociação dos átomos, diz ele, parece universal. Ela se manifesta quando friccionamos um bastão de vidro, quando brilha o Sol, quando o corpo queima, quando a chuva cai, quando as vagas do oceano se quebram. E embora não seja possível calcular a data do desaparecimento do Universo, devemos constatar que o mundo inteiro retorna lentamente ao nevoeiro do caos primitivo. Nesse dia, o relógio da eternidade terminará seu ciclo.

            O acordo tardio que observamos entre as mais recentes afirmações da Ciência e as considerações proféticas de Allan Kardec sobre a constituição da matéria, assegura-nos que razão nos assiste em crer que os Espíritos que produzem fenômenos tão estranhos quanto a materialização e os transportes, estão mais adiantados do que nós no conhecimento das leis da Natureza. Aguardamos, confiantes, novas descobertas, pois certos estamos de que elas confirmarão cada vez mais as instruções de nossos guias espirituais. E nem poderia ser de outro modo, porque, sendo os fatos espíritas de incontestável realidade, a Ciência, mais hoje, mais amanhã, modificará suas conclusões teóricas, ampliando-as ou alterando-as, a fim de aí incluírem essas manifestações da atividade anímica, que havia ignorado.  

            O Espiritismo cumpre o seu objetivo, que é a demonstração da imortalidade, e isto o faz sem bravata nem fraqueza; tanto pior para as opiniões que ele contraria de passagem, hipóteses antigas que devem desaparecer ante os fatos novos.

            Trabalhemos, pois, com infatigável ardor no sentido de expandir esta nobre doutrina cuja ação salutar e fecunda é tão necessária em nossos dias. Proclamemos, por toda parte, não ser o túmulo o aniquilador do pensamento, abismo no qual nossa personalidade soçobraria, eclipsando-se para sempre. Demonstremos não ser verdade sejamos simples joguetes de leis inexoráveis e fatais, que pesariam sobre nós com a esmagadora impassibilidade desses ídolos antigos que, sob as rodas de seus carros, trituravam as carnes palpitantes de seus sectários. Afirmemos, alto e bom som, que a Natureza não seria tão irônica e cruel fazendo despertar nossa consciência para que melhor medíssemos o horror de nossa queda em o Nada. Estamos experimentalmente seguros de que a vida humana não é um relâmpago  entre duas noites profundas, mas simples etapa de ascensão eterna para a luz e para o amor.

            Temos a certeza de que as mais elevadas e santas aspirações de nossos corações não sofrerão os impactos da desilusão. Amanhã, iremos reencontrar os que, com sua partida, cavaram sulco cruel em nossas almas. Desta vez, a grande tradição espiritualista, tão velha como o pensamento humano, apoia-se inquebrantavelmente na Ciência, coisa alguma conseguirá entravar-lhe o voo, e a sua difusão no mundo será o marco de uma evolução moral, científica e social como jamais a Humanidade conheceu, desde a sua origem.     


[1]  Dr. Le Bom – “L’Evolution de la Matiére”, páginas 151 e seguintes.
[2] Os Espíritos chegaram a este resultado, W. Crookes conservou cabelos do Espírito materializado de Katie King.
[3] Allan Kardec – “A Gênese”, cap. XIV.
[4] Grifos do próprio Kardec.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

'Posse' Espírita



Posse Espírita

O espírita é o companheiro da Humanidade que possui:

tanta compreensão que ainda mesmo nas situações difíceis,
contra si próprio, jamais descamba na suscetibilidade ou na queixa;

tanta energia de ideal que nunca se dobra às sugestões do desânimo, 
por piores sejam as crises que atravesse;

tanto otimismo que, mesmo nas mais escabrosas provações,
sabe sempre sorrir e encorajar os seus irmãos;

tanto espírito de serviço que não se cansa,
em tempo algum, de repetir a doação 
do auxílio que possa fazer, 
em benefício dos semelhantes;

tanta fé na Providência Divina que
jamais se permite mergulhar no desespero ou na aflição;

tanto anseio de luz que não cessa de estudar, 
sejam quais sejam as circunstâncias;

tanto entendimento que nunca se deixa enredar
por intriga ou maledicência, 
encontrando sempre algum meio de amparar 
as vítimas das trevas, no caminho da reabilitação;

tanto devotamento à fraternidade que 
nada sabe acerca de revide ou desforra, 
por viver constantemente 
no clima da caridade ou do perdão;

tanta dedicação ao trabalho que 
não se compraz na ociosidade,
ainda quando disponha de 
avançados recursos materiais;

tanta vontade de seguir os exemplos 
do Cristo de Deus que não encontra 
qualquer prazer em comentar o mal, 
em vista de trazer o coração
incessantemente voltado 
para o exercício do bem.

Em suma, o espírita é proprietário
de valores e bênçãos no reino da alma, 
capaz de ser feliz na abastança ou na carência, 
na elevação social ou no lugar 
mais singelo do mundo, 
de vez que carrega em si e por si 
os tesouros da vida eterna.

                 Albino Teixeira
        ‘Paz e Renovação’ (3ª Ed, 1972) / por Chico Xavier