sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Cristo Agênere



O Cristo agênere

por Newton Boechat
em Reformador (FEB) Agosto 1960

            Desde adolescente, sumamente inclinado aos assuntos espirituais, sempre que me era dado ler ou ouvir algo referente ao Cristo, muito antes de encontrar em minha trajetória excelente expositor espírita evangélico[1], em memorável noitada de elucidação, deslumbrava-me aquele vulto maravilhoso que soubera espalhar a mansuetude, a harmonia e a paz, em sua romagem pela Terra.

Jesus – nosso Amoroso Mestre – não podia, pensava eu, ser constituído da mesma estrutura que nos limita, não devia sofrer as injunções do passado-negativo que nos fustiga no presente, não devia estar obumbrado por fatores inúmeros.

Já nos albores da juventude, fiquei, então, sabendo da existência de excelente obra[2] de procedência mediúnica, que me elucidou sobejamente no campo da investigação a que me entregava.

Tão impressionado fiquei com a sua leitura que, incontinente, tornei a mergulhar a mente no mar profundo de suas páginas, sem saber por que motivo os assuntos lá encontrados se casavam, harmoniosamente, ao meu modo de sentir.

Li atentamente os livros da codificação. Saboreei Allan Kardec, o sábio que enfrentou o preconceito da Capital do mundo científico do século XIX; admirei seu estilo, sua clareza, pois, inegavelmente, foi ele o Grande Missionário encarregado pelo Mundo Invisível de concretizar no ambiente terrestre aquela radiosa promessa registrada no Evangelho segundo João, nos capítulos 14, 15 e 16.

Verifiquei que o “Evangelho segundo o Espiritismo” era um repositório de estudos acerca das máximas morais do Messias: todavia, não constituía compêndio detalhado, elucidando os fatos e dizeres do Cristo, que prometera a vinda do Consolador, na época, a fim de esclarecer suas palavras, por não ter dito tudo.

“Os Quatro Evangelhos”, recebidos pela médium Emília Collignon, completavam perfeitamente a Codificação, expondo fatos regidos por leis, concordes com a ciência do magnetismo e com a parte experimental do Espiritismo, conforme criteriosas investigações de sábios de escol, como Crookes, Geley, Richet, Aksakof, Bozzano, etc.

O Evangelho não é somente um repositório de preleções morais. Sua narrações estão saturadas de descrições fenomênicas de caráter científico e de consequências filosóficas.

Nos quatro evangelistas, nos Atos e nas Epístolas, encontramos, exuberantemente, a descrição de fatos que nos levam a admitir a personalidade transcendental do Mestre Nazareno, não subordinada ao vaso físico em que nos locomovemos neste mundo.

Através de médiuns de elevada idoneidade, também fjui a veracidade de nossas assertivas; todavia, não precisaríamos fazer uma viagem de cem quilômetros, quando podemos percorrer alguns centímetros na averiguação do que aqui expomos.

Várias entidades que se comunicam pelo nosso queridíssimo Chico Xavier, ao tratarem do assunto, nos tem legado páginas substanciosas.

No livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” capítulo 22, Irmão X informa:

“Segundo os planos de trabalho do Mundo Invisível, o grande missionário (Kardec) no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, nas individualidades de João Batista Roustaing, que organizaria o trabalho da fé...”

No prefácio da aludida obra, Emmanuel, que nos tem trazido tantas pérolas de luz em livros magníficos, comenta:

“Os dados que ele (Irmão X) fornece nessas páginas foram colhidos nas tradições do mundo espiritual, onde falanges desveladas e amigas...”

O mesmo Autor, Irmão X, no livro “Lázaro Redivivo”, capítulo 28, página 126, descrevendo as tricas da Sinagoga, retrata um judeu malicioso que procurava lançar dúvida na ressureição, nos termos seguintes: 

“Estamos seguramente informados de que o caso do carpinteiro nazareno não passa de um embuste de mau gosto; soldados e populares viram os pescadores galileus subtraindo o corpo do túmulo, depois da meia-noite. Em seguida, como é de presumir-se, mandaram uma certa mulher sem classificação começar a farsa no jardim...”

No capítulo 12 do mesmo livro, lemos:

 “Pedro e João acorrem, pressurosos, e ainda veem a pedra removida, o sepulcro vazio e apalpam os lençois abandonados.”

Também no livro “Boa Nova”, ainda do Irmão X, capítulo 30, sob a título “Maria”:

“Maria deixava-se ir na corrente infinda das lembranças. Eram as circunstâncias maravilhosas em que o nascimento de Jesus lhe fora anunciado, a amizade de Isabel, as profecias do velho Simeão...”

Que circunstâncias maravilhosas eram essas?

Acontece, também, que a narrativa evangélica não nos diz que José e Maria foram os pais carnais de Jesus...

Ela merece crédito porque o próprio Kardec se servia amiudadas vezes da Bíblia, do Velho e do Novo Testamentos. Escreveu ele em “Obras Póstumas”, página 133, que não se pode negar valor aos testemunhos escriturísticos, aos profetas, inspirados por Deus, anunciando a vinda do Messias...

Ora, pelo relato das Escrituras, se José pretendia abandonar a donzela de Nazaré, é porque tinha a certeza de não ser o genitor da criança. Se ele não o foi, ela coabitou com outro (a que absurdo se chegaria, partindo daí). Automaticamente, estaria a Virgem incursa, irremediavelmente, na lei do apedrejamento, porque o Deuteronômio, quinto livro atribuído a Moisés, no capítulo 22, versículos 23 e 24, estabelecia aquela punição.

Gabriel  fez que José não se ausentasse, porque a vida de Maria corria sério perigo. Ele foi dócil, ouvindo o anjo. Nada compreendia do que se passava, mas aceitava que tudo só poderia estra seguindo, como seguiu, o caminho certo.

De Néio Lucius, no livro “Alvorada Cristã”, capítulo 1:

“Como acontece a Maomet, a Carlos V e a Napoleão, os maiores heróis do mundo dão lembrados em monumentos que lhes guardam os despojos.

Com Jesus, porém, é diferente.

No túmulo de Nosso Senhor, não há sinal de cinzas humanas.

Nem pedrarias, nem mármore de preço, nem frases que indiquem, ali, a presença de carne e de sangue. Quando os apóstolos visitaram o sepulcro, na gloriosa manhã da Ressureição, não havia ai nem luto nem tristeza.

Lá encontraram um mensageiro do reino espiritual que lhes afirmou: “não está aqui.”

E o túmulo está aberto e vazio, há quase dois mil anos.”

Em seu prefácio ao livro “Vida de Jesus”, de Antônio Lima, diz Emmanuel: “Os homens devem saber que o Missionário Divino não viveu a mesma lama de suas existências de inquietações e de amarguras...”

A corporeidade de natureza fluídica do Senhor Jesus não cancela a sua tangibilidade ou hipersensibilidade. Estamos cientificados, através dos relatos mediúnicos sérios, do sacrifício a que se expõem os Espíritos Sublimados, envoltos em ectoplasma ou adensados por meio de elementos hauridos na atmosfera psicofísica do Planeta, por terem de sorver a vibração fétida, impregnada de miasmas deletérios, da maioria de seus habitantes. 

A sede da sensação, a consciência do fenômeno, não se restringe ao cérebro material, que será levado ao túmulo; antes, se prende à mente, que se manifesta através dele, acompanhante e elaboradora do corpo etéreo, que com o corpo etéreo se afasta, quando do fenômeno desencarnatório.[3].

Eis, portanto, alguns apontamentos obtidos nessa substanciosa literatura de além-túmulo, que entidades generosas transmitiram ao médium Francisco Cândido Xavier e que se encaixam ao rendilhado de verdades remetidas do Plano Invisível, que tem por meta a restauração dos fatos como se deram, sem que seja preciso lançar mão do miraculoso ou da negação cientificista, para realçar no cenário da vida a figura inigualável de Nosso Senhor Jesus Cristo.


[1] Prof. Cícero Pereira, evangelizador espírita mineiro, já desencarnado.
[2] Os Quatro Evangelhos, coordenados pelo erudito advogado bordalês, J. B. Roustaing.
[3]  “Evolução em dois Mundos”, 1ª Edição, cap.4, página 40, “Gênese dos Órgãos Psicossomáticos”.


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