sábado, 21 de maio de 2011

A escolha de uma cruz




A escolha de uma cruz

Reformador (FEB)  15.12.1919
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            Ao longo de um caminho pedregoso que tornava mais intenso o calor do sol, um peregrino que caminhava, levando à custo a cruz de sua vida, sentindo-se sem forças, arquejante, murmurou consigo:
            “- É bem pesada a cruz que Deus me dá... Oh! eu bem sei que todos nós precisamos de uma cruz para nos assemelharmos a Jesus Cristo; mas, a que carrego, me esmaga! Meu Deus! Meu Deus! Não me podereis aliviar o fardo?!”
            E um profundo sono apoderou-se dele, e ele  viu, então, rodeado de uma luz brilhante, Jesus Cristo que lhe sorria, dizendo-lhe com voz suave:
            “-Querias uma outra cruz que não fosse a tua?”
            “-Oh! Sim, Senhor! Sou um pobre velho e não posso mais! Vede, há 60 anos que eu caminho, carregando a cruz que Vós me destes e que, por isso, eu amo, não obstante o seu peso, mas Senhor...”
            “-Vem comigo, meu filho...”
            E, de súbito, ele achou-se diante de uma vasta gruta; e então o Senhor lhe disse:
            “-Aí se acham, reunidas, todas as cruzes que, por misericórdia do Pai, devem abrir aos homens as portas do paraíso, põe a tua cruz ao chão, entra, e escolhe aquela que mais te convier.”
            O peregrino entrou e, admirado, estacou diante duma multidão de cruzes carregadas desde o princípio do mundo e que deveriam ser levadas até o fim dos séculos.
            Durante muito tempo ele as examinou: pesava umas, experimentava outras, carregava e tornava a deixar, sem se decidir por nenhuma.
            Eram a cruz do remorso, a cruz da inveja, a cruz da ingratidão - as cruzes das famílias desunidas - da doença, da calúnia, da discórdia, da traição, etc.
            E a cada uma dessas cruzes ele dizia: “-Não, esta não; será preciso, meu Deus, que eu a escolha?!...”
            “-Sem cruz na Terra, não terás coroa no céu!” Disse-lhe Jesus.
            O peregrino voltou, examinou de novo todas as cruzes e procurou ainda uma que lhe pudesse convir; mas, desanimado, curvou a cabeça.
            “-Olha”, disse-lhe a doce voz de Jesus; e ele  distinguiu, perto da entrada da gruta, no solo, uma cruz que o atraiu; ergueu-se e um suspiro de paz se lhe escapou dos lábios.
            “-Parece que esta eu poderei carregar: ela é bem menos pesada que as outras. Poderei tomá-la, Senhor?”
            “-Tome-a”, respondeu Jesus.
            Ele estendeu os braços para erguê-la e soltou um grito; era  a sua, a cruz que Deus lhe havia dado em sua misericórdia, a cruz que ele tinha deixado como pesada demais!
            Oh! Vós a quem o sofrimento longo, penoso, humilhante, arranca uma queixa amarga, uma murmuração, talvez, ò pobre alma, sob o diáfano véu da alegria, vede Jesus, não somente indicando-vos a cruz que deveis levar, mas Ele próprio depositando-a fraternalmente sobre os vossos ombros e ajudando-vos a sustentá-la para que ela não descarregue sobre vós todo seu peso.
            Tomai, pois, a vossa cruz e não a chameis simplesmente minha cruz, mas ‘minha boa cruz’. Ela foi criada para vós, somente para vós.


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