terça-feira, 3 de maio de 2011

07 Trabalhos do Grupo Ismael


07 

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Aqui terminamos a parte histórica que, apesar de naturalmente inçada de faltas e omissões, é no entretanto  - afirmamo-lo sob a fé espírita – a legitima expressão da verdade.
Pela exposição que fizemos, é fácil calcular-se  a enorme soma de responsabilidades que pesam sobre os nossos ombros. Assusta-nos a lembrança de sermos amanhã chamados a prestar contas do que nos foi confiado. Se ao menos tivéssemos consciência de haver feito aumentar de um cetil o capital que nos foi entregue, não nos atemorizaria a idéia da morte. Mas lá está no Evangelho segundo Mateus. Capitulo xxv, vers. 1 a parábola dos talentos.

E’ o caso: Bezerra recebeu cinco talentos; prestou suas contas e, como servo bom e fiel teve saldo; por isso foi-lhe confiada maior riqueza. Nós, que só recebemos um talento, se o não fizermos produzir, esse mesmo nos será tirado, porque, então teremos sido servos maus, preguiçosos e inúteis  e seremos lançados nas trevas exteriores.

Ai de nós, que houvermos perdido a nossa reencarnação! De novo teremos que começar, mas sem um talento, sem um cetil sequer! Esta idéia, que a todos os instantes aterra o nosso espírito, pela meditação profunda e severa que temos feito e convidamos os nossos irmãos a fazer, dos ensinamentos hauridos nos Evangelhos de Mateus, cap. XXV, vers. 1, 13, 45, 51; de Lucas, cap. XII, vers. 3, 38, e 41, 48, de Marcos  cap. XII, vers. 39 e 49 cap. XXIV, vers. 40, 44, deveras nos compunge, sem que, entretanto, mercê de Deus; nos sintamos desanimado.

Esforcemo-nos, pois para que, a exemplo do nosso Bezerra, o talento que nos foi confiado produza juros e com ele alcançemos, no dia da tomada de contas, o resgate dos nossos crimes e a consequente salvação do nosso espírito.

Com é sabido, a propaganda da Doutrina Espírita está confiada aos espíritos e a nós os homens.

Os espíritos, não há que duvidar, tem sabido superiormente cumprir o seu dever, tal a solicitude com que correm ao encontro da nossa fragilidade, tal a dedicação ao bem estar moral e à regeneração dos seus irmãos da terra e do espaço que se debatem na dúvida e no ceticismo.

E nós, pobres calcetas que purgamos todos neste presídio os nossos crimes, outro tanto temos feito? Desgraçadamente, não! Infelizes que somos! Pela nossa tibieza, pela nossa inércia, pelo nosso inconfessável egoísmo, em suma, pelo condenável desprezo a que votamos a salvação dos nossos espíritos, só temos contribuído para seu retardamento! Pelo nosso orgulho e vaidade, estamos subdivididos e, pela falta de fé e de coragem, somos pusilânimes e inativos, pois sobre nossas cabeças pesa o artigo 157 do Código Penal, assim concebido: 

’Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios; usar de talismãs e cartomancia para despertar amor ou ódio; inculcar curas de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim fascinar e subjugar a credulidade publica; penas; prisão celular de 1 a 6 meses, multa de 100$ a 500$’’.

E nós, os espíritas, que sabemos que ser espírita é praticar a moral puríssima de N. S. Jesus Cristo, temos, com uma tolerância que toca as raias da pusilanimidade,  consentido que no Código Penal do nosso país se haja confundido, por mais de uma dezena de anos, os espíritas com os feiticeiros, que procuram provocar sentimentos condenáveis como o amor carnal, o ódio e a vingança, e que se tenham malevolamente incluído os espíritas entre os embusteiros e cartomantes, que fascinam os fracos, subjugam a credulidade publica, sem ao menos termos protestado, não por nossa causa (pois, se fizermos por merecer, teremos contra as fragilíssimas invectivas dos homens a infalível proteção de Deus), mas, por honra da própria doutrina do Divino Mestre, que devemos defender com o mesmo interesse com que zelamos a honra das nossas esposas e filhas.
Com tal procedimento teremos cumprido os nossos deveres de cidadãos e de membros da grande família espírita? Não, certamente! A consciência nos acusa de termos prevaricado, por não nos havermos constituído em coletividade e não nos havemos congregado para a necessária convergência dos esforços.
Individualmente somos fracos, por isso que somos forças diferenciais; precisamos reuni-las num só sistema e integrá-las para um fim único que é proclamar bem alto a moral cristã, para de lá, dos páramos infinitos, ela se irradiar com toda a intensidade por sobre o mundo todo dos infelizes, trazendo-lhes o conforto e a felicidade de que tanto precisam.  E tanto mais condenável se torna o nosso procedimento, quanto nos tempos hodiernos todas classes se unem, para poderem conseguir a realização da lei econômica de Aristóteles. É assim que, para vergonha nossa, vemos as diversas classes sociais congregarem–se e conseguirem o desideratum da união, donde tiram todos os proveitos que almejam.

Só os espíritas não se unem, não se congregam num todo homogêneo! Temos um exemplo bem frisante e nosso contemporâneo: a Associação dos Empregados no Comercio, que é hoje uma agremiação possante e fecunda: um colosso. Nós, os espíritas, vivemos dispersos e desunidos! Cada qual funda o seu pequenino grupo que, em geral,  tem vida efêmera, procurando não as conveniências da coletividade, mas o bem estar próprio. Cruzamos os braços e deixamos a orientação e a propaganda da doutrina entregues à morosa evolução do tempo! Enterramos o talento que nos foi dado para o nosso próprio progresso. Indolentes deixamo-nos embalar pela indiferença, no doce remanso da inércia. Somos, pois, exclusivamente os responsáveis pela situação lamentável, em que, mau grado aos esforços de um insignificante número, se encontra atualmente a doutrina de regeneração dos costumes e de salvação das almas. Tão infeliz situação, porém, não pode continuar por mais tempo, sob pena de nos tornamos réus de lesa consciência.

O Espiritismo vem emancipar as consciências, abolir os dogmas e trazer-nos a advertência de que cada um é o responsável único pelos seus próprios atos, por isso que lhe foi dado o livre arbítrio e que cada qual pensa por si mesmo; ou segundo a formula geral: “A cada um segundo suas obras ‘’, Assim, o espírita, emancipado de escolas e de sistemas deve procurar compreender a Nova Revelação no seu verdadeiro sentido, para ter direito à luz e, então, guiado pelo fanal da verdade, poder caminhar em demanda de Jesus. Se aspira a ser humilde, compreende que nada sabe e procura orientar-se, haurindo da coletividade e buscando de outros mais esclarecidos a luz de que seu espírito necessite para esclarecer-se quanto ao roteiro que o há de conduzir às plantas sacratíssimas do nosso Criador e Pai.

Era assim que procediam os apóstolos de Jesus, que todos se reuniam num só pensamento: a compreensão dos sublimes ensinamentos do Divino Mestre. Mutuamente se esclareciam, trocando idéias e confiando uns aos outros o cabedal de conhecimentos que possuíam e que bebiam na fonte da água cristalina que mata toda sede.

Apesar deste sublime ensinamento, que fazemos hoje nós outros? Tentamos propagar a doutrina por nossa própria conta e como melhor convém à nossa comodidade, fazendo cada um o que lhe apraz. Pregamos a fraternidade, afirmamos que o Espiritismo tem por fim a confraternização de todos os homens e, no entanto, vivemos separados e não raro em dissidência! Pregamos a humildade como condição primordial para a nossa salvação, reconhecemos que o orgulho é o inimigo do espírito e nos confessamos fracos, mas queremos operar sozinhos e confiados às nossas próprias forças, agindo por conta própria e ao nosso bel prazer!

Não, meus amigos; sem união não pode haver força e sem força não se opõe resistência aos ataques das inúmeras coortes inimigas, que incessantemente nos oferecem combate e que, aproveitando-se dos pontos vulneráveis dos nossos espíritos, procuram destruir o que porventura de bom tenhamos conquistado. Convidamo-vos, irmãos nossos, a meditar seriamente nestas coisas que vimos trazer à evidência, pelo amor que vos dedicamos e pelo interesse fraternal que nos desperta o bem espiritual dos nossos semelhantes. 
  

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