segunda-feira, 11 de abril de 2011

A palavra de João Evangelista 05/05

O Poder e a
 Glória de Deus
 por D. José Amigó y Pellícer
            Fonte: “Roma e o Evangelho” (FEB)
Data da comunicação: Março 1874
           
            “Quem poderá contar os dias da Terra? Somente Aquele que a tirou do caos, que a separou, que a arrancou do seio da geratriz. Quem poderá, quem se atreverá a exprimir por um número determinado os dias do homem? Os dias da Terra são um; os do homem constam do ontem, hoje e amanhã.
            Antes de ser a Terra, ela o era em seus elementos, juntamente com o homem, com o espírito do homem. Quando ela deixar de ser a Terra, será ainda a Terra em seus elementos - e ficará ainda o homem, o espírito do homem.
            Antes de existir  o homem, existiam o espírito do homem e o homem - e, antes do homem e do espírito do homem, existia Deus - e em Deus, o homem e o espírito do homem. Depois do homem e do espírito do homem, vem o homem e o espírito do homem - e depois Deus - e em Deus, o homem e o espírito do homem até o seu complemento.
            O poder e a glória de Deus se patenteiam no homem e no espírito do homem - e essa glória e esse poder existiram, existem e existirão sempre. Desde o começo e antes dele, Deus já era, bem como a sua glória e o seu poder, no homem e no espírito do homem.
            A semente do homem e do espírito do homem estavam, desde o princípio, nas mãos de Deus - e o homem, desde o princípio, aos pés de Deus; e o espírito do homem estava ministrando aos olhos de Deus, como complemento do Verbo, engendrado com o pensamento em Deus. Não há rei sem vassalos, nem Deus sem glória, nem Criador sem as obras do seu poder. Deus sempre: por conseqüência, sempre o homem e o espírito do homem. O homem e o espírito do homem, desde o princípio, estavam em Deus; os homens no curso do tempo vão continuando a obra de Deus e marchando eternamente para Deus, que é o ponto de mira da criação inteira. 
            Deus é Deus desde o princípio, e com Deus existe sua lei; porque essa lei é o bem, a sabedoria, e a sabedoria é Deus. A sabedoria, em sua atividade eterna, que no princípio engendrou o homem e o espírito do homem, engendra-o hoje. A sabedoria, limitando-se a um tempo circunscrito e desligando-se do que vem do princípio, é a negação da verdadeira sabedoria e de Deus.
            Portanto, o homem e o espírito do homem existem desde o princípio; o homem e o espírito do homem emanam da atividade eterna da sabedoria.
            Desde o começo a Humanidade existiu; desde então os homens, no correr dos tempos, continuaram a obra eterna da sabedoria de Deus.
            Quem é como Deus?  Se o homem vem desde o princípio, não deixa de ter saído das mãos, da sabedoria de Deus. O princípio humano desde o começo existiu em Deus, mas os homens sucedem-se no tempo. Quem, senão Deus, poderá dizer: Eu sou desde o princípio? Os homens todos têm seu princípio na lei, na sabedoria de Deus. Desde o começo estiveram em Deus o homem, o espírito do homem e a sucessão dos homens, indo estes no correr do tempo cumprir a lei de sucessão estabelecida desde o princípio.
             Em Deus não há sucessão, mas sim em tudo o que não é Ele; a sucessão é o selo da criatura, a linha misteriosa que a separa do Altíssimo. O homem nasce com o primeiro pensamento, porque o primeiro pensamento é a primeira palavra do espírito do homem. E o primeiro pensamento, donde o homem tira o princípio, é a revelação da continuação eternamente ativa da sabedoria de Deus.
            Antes do primeiro pensamento o homem não existia; ele pensou, pela sabedoria de Deus, e foi criado, saindo do caos donde a sabedoria havia tirado desde o princípio a sucessão das criaturas. O primeiro pensamento é o homem, ao mesmo tempo que o princípio de uma sucessão, sem termo de modificações e transfigurações. Ele sai da desordem, do caos, das trevas e caminha constantemente para um foco irradiante de inextinguível luz, ao redor do qual descreve círculos cada vez  menores. As criaturas não são mais que diminutos satélites circulando ao redor do Sol da sabedoria, centro imutável do Universo infinito.
            Quem é como Deus? Deus é o centro fixo e imutável da felicidade e da luz; Dele procede a vida, e os seus raios dão o ser, e geram, desde o princípio, o movimento e a sucessão.
            O homem caminha para Deus; mas o homem é uma sucessão e jamais alcançará a imutabilidade, só própria do Ser Supremo. Jamais alcançará a imutabilidade, mas dela irá eternamente aproximando-se. A imutabilidade é a felicidade infinita que o homem possuirá. A felicidade infinita é a sabedoria infinita, porque a soma de todos os gozos só cabe ao grau supremo de todos os conhecimentos.
            Portanto, será sempre infinita a distância que separa o homem da felicidade absoluta, pois ele nunca chegará à sabedoria imutável.
            O Verbo fora de Deus é a sucessão; e o homem é, desde o princípio, o Verbo fora de Deus, a sucessão eterna, a mutabilidade sem término.
            A felicidade é um oceano de luz sem horizontes, sem margens, eterno, imenso, insondável, infinito; o homem é criado dentro dessa imensidade como um ponto sombrio, imperceptível no infinito luminoso, destinado pela sabedoria e misericórdia divinas a banhar-se eternamente no oceano de felicidade que o rodeia. Como, porém, esse ponto imperceptível poderá percorrer todo esse oceano... se ele é infinito?
            Deus, e só Deus, o abraça todo. Bendigamos, caros irmãos, a Deus com todo o nosso coração e todo o nosso entendimento; porque a sua mão nos fez e deu-nos o poder de aumentarmos cada dia a nossa perfeição e a nossa felicidade, pelos nossos merecimentos.
            Mereçamos, caros irmãos, e a nossa felicidade irá aumentando.
            Meu espírito paira na esfera de felicidade de que vos falo, e de que não podeis formar juízo sob a capa que vos envolve; mas, se elevo os meus olhos, vejo que me separa de Deus o infinito... o infinito... o infinito...
            Eu vos rendo graças, meu Deus!... pois que, achando-me mesmo a uma distância infinita de vós, encheis todo o meu ser. Graças a Deus!
            João Evangelista
                             


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