domingo, 17 de abril de 2011

'Libertação'


‘Libertação’
                                                                                                 
por  Alberto Nogueira da Gama
(Passos Lirio)
Reformador (FEB) Setembro 1970

           O gesto de Bartimeu, o cego mendigo de Jericó, ‘ lançando de si a sua capa’, ao ir ter com Jesus, nos sugere a idéia de ação premeditada para desembaraçar-se de algo que lhe atrapalharia a liberdade de movimento.

            Pra o filho de Timeu, o uso daquela peça teria grande serventia. Provavelmente, seria com ela que se protegeria das intempéries do tempo. Nem por isso, ao atender ao chamado do Mestre, pensou em levá-la consigo. Atirou-a para um lado, lépido e resoluto.

            Capa arremessada, por importuna e supérflua, é o que nos cabe considerar.

            Quem de nós não terá alguma coisa de que desvencilhar-se para sair ao encontro de Jesus?

            Conhecer nossas inibições, para atirá-las bem longe de nós – tal o indeclinável desiderato que nos compete concretizar em benefício próprio.

            Realizar esta ingente tarefa, é solucionar gloriosamente o nosso problema de liberação espiritual.


            Bartimeu, depois de arremessar fora a capa, levanta-se, segue em direção ao Excelso Benfeitor, dele obtém, a dádiva da recuperação da vista e permanece em Sua companhia. Deixa um acessório, até então utilizado, por um bem genuíno, essencial, que seria a razão de ser de sua felicidade.

            Quantas vezes, pela nossa posição espiritual, fazemos lembrar o cego mendigo de Jericó, também, como ele, carregando alguma carga incomodativa e inconveniente!
            E como é penoso este nosso fardo e esmagador o seu peso!

            Quase sempre o que nos dificulta a marcha ascencional e gloriosa, para o Calvário de nossa redenção, está representado em pequenas coisas que se nos afiguram de somenos importância e, por assim entender, aparentemente insignificantes.

            O empecilho aparece quando queremos que ele desapareça. Muita vez, vamos surpreendê-lo, incrustado em nossos hábitos, como ostras grudadas à pedra, em situações de que mal suspeitamos.

            Em trivialidades domésticas, a que nos entregamos desapercebidamente.

            Numa pronunciada tendência à desconfiança de tudo e de todos.

            Num pendor à crítica demolidora;

            Numa inclinação à malquerença, congelando amizades por insignificâncias que vimos e ouvimos, exagerando-lhes a importância.

            Na adesão a atitudes íntimas, veladas a olhos alheios, mas patentes à nossa consciência, de cujas algemas nos fazemos prisioneiros voluntários.

            Ao nos levantarmos em busca do Celeste Enviado, sejam quais forem as nossas cargas sobressalentes, arremessamo-las fora; deixemo-las, depois de arrebanhados para o Redil do Senhor, como trastes desprezados e desprezíveis. Serão no caso:

            - a obcecação pela posse inescrupulosa das posições sociais de evidências e dos bens materiais;

            - a obsessão pelos prazeres malsãos do mundo;

            - o atrativo pelos assuntos, falados ou escritos, de essência venenosa.

            - o fascínio por situações escabrosas, ainda que habilmente aparentados com as melhores intenções;

            - a subjugação à intemperança mental e verbal;

            - a escravidão aos desequilíbrios emotivos e sentimentais.

            Seja neutralizando a resistência daqueles que se nos opõem à caminhada para Deus, seja superando impedimentos próprios, seja vencendo relutâncias íntimas ou circunstanciais, seja transpondo obstáculos buscados por nós ou atirados à nossa frente por outrem, seja à força de suores e lágrimas, necessariamente teremos que consumar o nosso trabalho liberativo.

            E não há tempo a perder; é hoje ainda; é agora mesmo.

            Desvencilhemo-nos do desperdício do tempo e da saúde, do abuso do poder e da autoridade, da aplicação desajustada do talento e da cultura, da ação imposicionista dos nossos dons físicos e espirituais, de nossa desalmada exploração do próximo, que tudo isto são capas tremendas que poderão asfixiar-nos sob o seu peso.

            Amigos, desembaracemo-nos das inibições, para não virmos a terminar a existência amortalhados por elas.      


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