quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Feroz Intolerância Católica... Esses Livros Devem Queimar.!!!





Comemorando
   um Auto de Fé...

            Reformador(FEB)  16.11.1932 (parte)

            Foi no ano de 1861, a 9 de outubro que, por ordem do Bispo de Barcelona, Dr. Palau, sobreposto a todas as autoridades civis do reino de Espanha, se consumou o ato inquisitorial, o ‘auto de fé’ a que nos referimos e em que, na Esplanada da Cidadela, fortaleza então existente na Capital da Catalunha, a feroz intolerância católica, já não podendo queimar vivos os que a igreja romana considerava hereges, reduziu a cinzas uma fogueira de 300 volumes e folhetos espíritas que, importados de Paris, haviam pago na Alfândega daquela cidade os respectivos direitos. Entre esses volumes e folhetos figuravam O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Que é o Espiritismo? de Allan Kardec, e a Revue Spirite, por ele dirigida e redigida.

            A inquisitorial cerimônia se efetuou com toda a solenidade do ritual do ‘santo ofício’. Presidiu-a um Cura, revestidos de trajes sacerdotais, tendo numa das mãos uma cruz e na outra uma tocha. Acompanhavam-no um Notário, encarregado de redigir a ata do ‘auto-de-fé’; um auxiliar de Notário; um funcionário superior da Alfândega; três empregados desta, incumbidos de atiçar o fogo; e um outro representando o proprietário das obras que o Bispo condenara ao sacrifício.

            Grande multidão, enchendo a imensa esplanada onde se erguia o catafalco, assistiu a mais essa frustrada tentativa de aniquilamento da idéia e, quando o fogo tudo consumiu e o Cura, com seus auxiliares, se ia retirando, ela, a multidão os saudou com estridentes assovios   e   estrondosas   maldições,   aos   gritos   de:  “-Abaixo a Inquisição!”

            A propósito desse ‘auto de fé’, Allan Kardec, com a gravidade, a concisão e a clareza que lhe eram peculiares, escreveu na Revue Spirite admirável artigo, terminando por estas palavras:

            “Espíritas de todos os países, jamais olvideis esta data de 9 de outubro de 1861! Assinalada fique ela nos fatos do Espiritismo e seja para nós outros uma data festiva, que não de luto, por que constitui penhor do nosso próximo triunfo!

            Da segurança da profecia assim articulada, um dos primeiros a dar expressivo testemunho foi o Espírito daquele que ordenara o estúpido e brutal ‘auto de fé’. Com efeito, nove meses, exatamente, depois da realização deste, a 9 de julho de 1862, morria o Bispo Palau e, decorridos poucos dias, seu Espírito, numa sessão da Sociedade Espírita de Paris, sob a presidência de Allan Kardec, dava inesperada e espontaneamente, a comunicação seguinte:

            “Auxiliado pelo Guia espiritual, pude vir instruir-vos com o meu exemplo e dizer-vos: -Não repilais nenhuma das idéias anunciadas, porque um dia, um dia que durará e pesará como um século, essa idéias,  amontoadas,  clamarão  como  a  voz  do  anjo: -Caim, que fizeste de teu irmão? Que fizeste do teu poder com o qual devias consolar e elevar a humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo, como outros o são de corpo, sofrerá e renascerá, para recomeçar o trabalho intelectual que a preguiça e o orgulho o fizeram esquecer. E essa voz terrível me disse: -Queimaste as idéias e as idéias te queimarão... Orai por mim, porque a oração é agradável a Deus, sobretudo quando é o perseguido que a formula, a bem do perseguidor.

            Assinou: Palau, o que foi Bispo e que agora mais não é do que um penitente.”



Auto de Fé de Barcelona  
Procurar Revue Spirite
Anos 1861 págs. 321 e 1862, pg. 232.
Em português: Editora Edicel e FEB.





Kardec e o auto-de-fé em Barcelona
         
Vianna de Carvalho
por Divaldo Franco
19-08-61, Salvador, Bahia
            Reformador (FEB), pág. 251 de Novembro 1961

            A manhã de nove de Outubro surgiu perfumada e radiosa.
            Na esplanada de Barcelona, 300 exemplares de livros e opúsculos devem morrer.
            A Idade Média ainda se demora na dourada terra de Espanha. O Santo Ofício trucida, e envenenado pela intolerância, sentindo o soçobro que se aproxima, destila o ódio e violência, tentando manter a soberania.
            A autoridade eclesiástica lê o libelo burlesco.
            Archote fumegante aparece e, em breve, ousadas línguas de fogo transformam-se em labaredas, devorando as páginas grandiosas dos livros libertadores.
            Temperamentos audazes atiram-se sobre as chamas que diminuem de intensidade, e arrancam páginas chamuscadas que se transformarão em documentos preciosos do crime. Emocionado pintor, desejando eternizar o ato de barbaria sob a inspiração do momento, registra em cores e traços vigorosos o atentado à liberdade de consciência.
            As cinzas e a tela são endereçadas ao Codificador.
            Em Paris, Kardec dobra-se sob o peso da própria dor.
            O gigante lionês tem a alma ferida. O vigoroso coração, parecido a corcel fogoso, agora exaurido, trabalha pelo gigantismo do sofrimento.
            Mentalmente, recorda a figura martirizada de João Huss, o Apóstolo queimado vivo no século XV por sentença do concílio de Constança, apesar do salvo conduto que o imperador Sigismundo lhe havia dado...
            A impiedade e o despotismo da fé em decadência queima-lo-íam agora, se o pudessem. E nessa impossibilidade tentam destruir-lhe a obra, já que nada podem contra as idéias.
            Todavia, recolhido à oração salutar, parece-lhe escutar as Vozes dos Céus - aquelas mesmas que o conduziram na compilação dos primeiros trabalhos - que lhe dirigem expressões de alento e vigor.

            “Ninguém poderá destruir o edifício da Fé imortalista - tem a impressão de ouvir na intimidade da mente. 

            “Os imortais estão de pé no campo de batalha.
            “A Doutrina Espírita é Jesus-Cristo de retorno aos corações, acolitado pelas legiões dos Espíritos Eleitos; abrindo as portas para o acesso à verdadeira vida.
            “É mister que o trabalhador experimente o suplício e tenha os braços atados à cruz dos testemunhos necessários, para que Ele triunfe.
            “Jesus não se fizera respeitar pelos contemporâneos, e através dos tempos, pelo que ensinou, mas pelo legado da renúncia e do sacrifício.
            “Assim também, a Doutrina Espírita, reivindicando as luzes da Imortalidade do Senhor e da renovação dos conceitos evangélicos na Terra, deveria experimentar o guante das mesmas dilacerações...”

            Era indispensável sofrer de pé, confiando, imperturbável...
            Allan Kardec, vitalizado pelo fluxo de misericórdia divina e encorajado pelos tônus celeste, levanta-se, outra vez, fita os cimos dourados que a vida lhe reserva, renova as disposições do espírito e, jubiloso, continua a luta.
            A Doutrina Espírita se lhe afigura, então, um anjo de luz dilatando as asas sobre a Terra inteira e vestindo-a de caridade...
                                   *
            Mestre! Cem anos depois de Barcelona, o Brasil, que te guarda a mais profunda gratidão, ergue-se em louvor, através das mil vozes dos beneficiários de teu carinho, para te agradecer os sacrifícios.
            Contempla, dos Altos Cimos, a colossal legião de servidores do Cristo, seguindo as tuas pegadas e espargindo o aroma da tua mensagem, em toda a parte.
            Barcelona vive em nossos corações reconhecidos.
            As obras incineradas se multiplicaram e levam a mensagem vibrante dos Espíritos da Luz à Humanidade toda.
            Ninguém pôde paralisar tuas mãos no sacerdócio da escrita nem força alguma silenciou os teus lábios no ministério da pregação...
            Quando o corpo se negou a prosseguir contigo, extenuado pelo trabalho infatigável, já o mundo compreendia a Mensagem de Jesus com que enriqueceste a Terra.
            E hoje, quando ameaças se levantam em toda a parte, dirigidas à paz das criaturas, em forma de intranqüilidade e pavor, a Doutrina que nos legaste, como bandeira de vida, é o penso consolador nas mãos de Jesus-Cristo, medicando as feridas de todos os corações.
            Glória a ti, desbravador do Continente da Alma!
            A Humanidade espiritista, renovada e feliz, edificada no teu trabalho eficiente, rende-te o culto da gratidão e do respeito.
            Salve, Allan Kardec, no dia Nove de Outubro, cem anos depois de Barcelona!





Os Autos-de-Fé Cotidianos

Leopoldo Cirne
por Waldo Vieira
CEC, em 1-9-1961, em Uberaba, Minas
Reformador (FEB) Novembro 1961

            Moisés foi o portador da Primeira Revelação; Jesus nos trouxe a Segunda; Allan Kardec codificou o Espiritismo - a Terceira Revelação -, que divulga os elevados propósitos dos Pioneiros da Luz, e que se impessoalizou, para ultrapassar o âmbito individual em direção à Humanidade Maior.
            Na manhã de 9 de Outubro de 1861, aqueles que crucificaram o Senhor - os fariseus de todos os tempos -, não podendo então sacrificar alguém para sufocar a nova ordem de idéias, afoitaram-se em carbonizar-lhe os repositórios em forma de livros. Assim, o Auto-de-fé em Barcelona surge às nossas considerações como sendo a primeira crucificação do Consolador, no ataque inquisitorial contra as obras dos precursores.
            Queimaram-se apenas alguns corpos da idéia para que as almas da idéia se libertassem... As chamas que consumiram os livros, avivadas pelas mãos do carrasco, na praça pública, saltaram de alma em alma, a  crepitar por centelhas de ideal renovador, ateando o fogo da verdade, de consciência a consciência. e a luz dessa fogueira replende sempre mais, vitoriosa e irradiante, atraindo e cingindo legiões de criaturas.
            Da esplanada em que se flagelavam os criminosos, os trezentos volumes incinerados, qual flamas redivivas, se multiplicaram aos milhões nos idiomas do mundo inteiro.
            A Causa Espírita é imperecível: ninguém pode abafar a fé raciocinada. O seu ensinamento instrui pelos fatos da  Vida Imortal. O Espírito sopra onde quer. Asfixiada a voz da realidade, hoje e aqui, amanhã e em toda parte alçar-se-á mais potente por milhares de outras bocas.
            Mas, em pleno Centenário do Auto-de-fé, é natural relembremos também os pequeninos autos-de-fé cotidianos que forjamos por nossa imprevidência, queimando, através de ações a desmentirem convicções, os ensinos da Doutrina Libertadora que nos fortalecem as almas.
            O Espiritismo é o fanal da Imortalidade que recebemos de nossos antecessores do Espaço ou do Plano Físico, mensagem de consolação que nos cabe levar adiante de ânimo inarrefecível, clareando o caminho. Empunhemos o facho sublime de esperança no rumo da Nova Terra - a Terra da Regeneração!
            Sigamos esses mesmos livros que foram calcinados há um século e que não raro, repontam moralmente destruídos por nossa conduta inadvertida e contrária aos ditames amorosos do Cristo.
            Recomendou o Mestre: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as boas obras e glorifiquem o Pai que está no Céu.”
            Recorda que serás sempre, onde estiveres, a lição ambulante do  Espiritismo. És a síntese viva da Codificação! Se o templo espírita consola, o teu coração testemunha! Se a tribuna espírita esclarece, a tua palavra conduz! Se o livro ilumina, o teu exemplo é a força que arrasta!
           
           
             

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