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Barnabé, homem bom, cheio do espírito santo e da fé... As complexidades teológicas que se enovelaram em torno dos ensinamentos primitivos haveriam de desvirtuar mais tarde o verdadeiro sentido da expressão espírito santo. Naquele tempo o homem cheio do espírito santo era o que mantinha contato com o mundo espiritual através da faculdade a que Allan Kardec chamaria no século XIX de mediunidade.
Barnabé não via, pois, nada que desaprovar nas práticas da Igreja de Antioquia. Ao contrário, tão interessado ficou nelas que foi a Tarso buscar a colaboração de um amigo: Saulo. As práticas mediúnicas se consolidaram. Essa comunidade, no dizer de Emmanuel, ‘foi dos raros centros apostólicos onde semelhantes manifestações (vozes diretas) chegaram a atingir culminância indefinível’.
‘A Igreja – prossegue Emmanuel, adiante – tornou-se venerável por suas obras de caridade e pelos fenômenos de que se constituíra organismo central,’ A narrativa dos Atos é toda ela muito fiel e precisa, pois Lucas escreve claro e com a segurança do seu testemunho pessoal. Seu conhecimento da Igreja de Antioquia é de primeira mão, porque foi ali que começou sua gloriosa carreira de trabalhador do Evangelho. É um tributo à sua modéstia o fato de que sua figura humana se tenha apagado na renúncia humilde para que brilhassem os ensinamentos do Cristo e a história daquelas lutas homéricas, mais do que a história dos homens que a realizaram. Se não fosse Emmanuel, não ficaríamos nem sabendo que foi Lucas quem propôs o nome de cristãos aos seguidores do Mestre. Os Atos (11:26) dizem apenas isso:
- Em Antioquia foi onde, pela primeira vez, os discípulos receberam o nome de ‘cristãos’.
Podemos, pois, ter confiança naquilo que escreveu o querido evangelista, quando afirma o conteúdo mediúnico da comunidade de Antioquia.
Os termos são inequívocos em Atos 13:1-4:
- Havia na Igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Niger, Lúcio, o cirineu, Manahem, irmão de leite do tetrarca Herodes, e Saulo. Enquanto estavam celebrando o culto do Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: ‘Separem-me Barnabé e Saulo para a obra para a qual foram chamados,’ Então, depois de haverem jejuado e orado, lhes impuseram as mãos e os enviaram. Eles, pois, enviados pelo Espírito Santo, baixaram a Seleucia e dali navegaram para Chipre.
Se Lucas tivesse hoje de escrever essa notícia, no contexto da Doutrina Espírita, diria mais ou menos o seguinte:
- A igreja de Antioquia era uma comunidade espírita cristã, onde atuavam alguns médiuns e doutrinadores: Barnabé, Simeão, Lúcio, Manahem e Saulo. Certa vez, quando realizavam o culto do Evangelho, manifestou-se um Espírito que lhes recomendou que Barnabé e Saulo partissem a divulgar a mensagem do Cristo, pois para isso haviam sido escolhidos. Em seguida, depois de um período de recolhimento, durante o qual todos oraram e jejuaram, os médiuns deram passes nos dois amigos por meio da imposição das mãos e eles partiram, tal como o Espírito havia recomendado, rumo a Chipre.
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