sábado, 26 de março de 2011

Ecumenismo (II)





Ecumenismo



Reformador (FEB) Fevereiro 1972

            A História está referta de ensinamentos. Perpassá-la é aprender a errar menos. Esse mal digerido movimento ecumenista, que a tantos tem empolgado, está a exigir pelo menos duas atitudes firmes e categóricas do espírita; mais decisão para acertar, e menos ingenuidade para não se equivocar. Sabe-se que foi na Gália, entre os druidas, que viveu Kardec. É ele próprio, pois, quem nos reporta à figura genial de Caio Júlio César, conquistador dos gauleses ao tempo em que o futuro Codificador ali viveu. Estadista predestinado, a princípio dividiu o poder com Pompeu, até que, num gesto de inaudita coragem e coesão indizível, ultrapassou o Rubicão, limite nevrálgico da província que lhe cabia, colocando em fuga os que o adversavam. Fez-se cônsul, ditador por 1 ano, por 10 anos e, afinal, ditador vitalício! A travessia do Rubicão foi a decisão que o fez atravessar a porta da História.
            Mas César e suas reformas nem sempre foram compreendidos. Granjeou inimigos indiscretos como Marco Antônio. Numa conspiração, seu sobrinho Brutus apunhalou-o pelas costas, nas escadarias do Senado. Ingenuamente, os conjurados acreditaram numa coalizão política e que Roma aclamaria a ‘liberdade’. Enganaram-se. O povo amava a César e se rebelou. Marco Antônio foi o primeiro a deixar o Capitólio, esconderijo dos senadores amedrontados. Discursou na praça, endeusando César. O povo ovacionou-o e ele se julgou todo-poderoso. Outro incogitado engano. Otávio, filho adotivo de César, rivalizou-lhe o poder, pondo-o em fuga na direção da Gália (de novo a Gália...), e marchou sobre Roma. A tola ingenuidade dos conjurados e de Marco Antônio, levada além dos portais da sensatez, fe-los transpor o portal da História...
            Em termos de Ecumenismo, a Federação Espírita Brasileira procurou sempre, pela forma mais sincera, confiar em que a extemporânea idéia se esvaziasse com o tempo, caindo em si, afinal, os que, não raro de boa fé, confundem ecumenismo com fraternidade. Parece, entretanto, não ter sido compreendido. Vê-se, assim, a Casa-Máter, diante dos limites do Rubicão, em que não tem por que tergiversar, embora a imagem histórica valha tão só para configurar seu espírito de decisões claras e tempestivas, jamais qualquer tipo de conquista, senão, como convém, as do campo das virtudes morais. Certo é que à FEB impõe-se mais uma vez a histórica opção de parar, deixando-se envolver nos baraços de movimentos ardilosamente concebidos pelos que a temem desde a fundação ou, ao contrário, seguir, ainda que sozinha, sem condescender com coalizões doutrinárias que o Cristo não exemplificou ante o farisaísmo. Optando pela segunda razão, é dever da Casa-Máter do Espiritismo expor peremptoriamente o seu ponto de vista no sentido de que não adere, de forma alguma, a qualquer movimento de natureza ecumenista. Faça ecumenismo, tal o propôs, a Igreja Católica ou quem mais o queira; jamais com o Beneplácito da FEB, que continuará, como sempre a fazer apenas Espiritismo.
            Há muito, nos tempos religiosos hodiernos, da ingenuidade dos que supunham que o assassínio de César pacificaria os espíritos e ‘‘libertaria’ o regime; e também da ingenuidade que fez Marco Antonio ser mordido pela ‘mosca azul’. É possível, porém, que ela desvaneça, agora que a alta hierarquia clerical veio a público para dizer que o ecumenismo está mal entendido pelos que vêem nele uma conciliação de princípios inconciliáveis. E é até possível, também, que o contumaz radicalismo dos ingênuos de todos os tempos venha a simbolizar nova arma mortífera em mãos de novo Brutus. Nada obstante, este é o pensamento da FEB. Com uma diferença: César, embora missionário, era passível de morte corpórea, porque no fundo tinha suas ambições pessoais... 

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