quarta-feira, 16 de março de 2011

04/50 'Crônicas Espiritas'



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Meu caro padre Dubois:
Obrigado pelos votos de boa viagem que, 
devido talvez aos seus bons desejos foi ótima.
E já que V. Revma. nesse artigo procurou de alguma forma, 
amenizar o efeito produzido pela nossa polêmica peço licença 
para responder aos pontos que carecem de esclarecimento.
Não procurei justificar as curas mediúnicas com as curas produzidas
 por N. S. Jesus Cristo, e sim com o Evangelho, 
no qual Jesus confere o poder de curar a todos aqueles que nele cressem,
e isto V. Revma. não destrói com sofismas.
V. Revma. conhece muitos casos de curas pelos médiuns, 
e, se quer conhecer mais um, procure lá mesmo com o 
Sr. Secretário da “Folha do Norte”.
E supõe V. Revma. que a mediunidade exista
 contra a vontade de deus? 
E, se Deus a concede à criatura não será com o fim de
 torná-la útil à Humanidade? Medite sobre isto, pois já não é sem tempo.
Meu caro padre Dubois, Jesus continua com a mesma orientação de outrora, 
não busca os discípulos entre os escribas e fariseus e, sim,
 entre a plebe, por meio da qual confunde os pretensos doutores da lei. 
E é isto que dói a V. Revma.
V. Revma. disse: “A missa não vale dez nem cem mil réis, com efeito.
 O que se paga é uma esmola.
..” Mas quem aceita uma esmola não impõe a quantia e V. Revma. 
sabe que os preços dos diversos altares estão marcados nas tabelas. 
Logo... de resto, que é que se obtém de graça na sua Igreja?
Se V. Revma ensina gratuitamente o catecismo n
ão será com o fim de preparar carneiros para a tosquia? 
E “a confissão que V. Revma. diz acudir gratuitamente”, que valor tem isso?
 Alguma alma já veio contar o valor que ela
 – confissão -  representa na sua passagem para o outro mundo?
E, se V. Revma disse, “as horas que o padre passa 
no confessionário são de martírio” por que não as aproveita 
como o fazia Paulo, o grande apóstolo, 
trabalhando para ganhar o pão de cada dia?
V. Revma. quis justificar o comércio dos sacramentos 
com as palavras de Paulo: “Quem serve o altar vive do altar”, 
mas se esqueceu propositadamente de dizer 
que, a seguir, após essa frase,
 Paulo diz:Porém eu de nada disso tenho usado
“Nem tão-pouco tenho escrito isto,
 para que se faça assim comigo; porque tenho por melhor morrer
, antes que alguém me faça perder esta glória.” (I Cor., 9:15).

E nos “Atos dos Apóstolos”, cap. 20 v. 33 e 34, Paulo 
também frisa bem isso, dizendo: “Não cobicei prata nem ouro,
 nem vestuário, como vós mesmo sabeis.
 Porque estas mãos me serviram para ganhar 
o que me era necessário e aos que comigo estavam”.



 Já vê que Paulo não justifica as negociações dos sacramentos 
de que os da sua Igreja vivem.


E o “exercício das penosas cerimônias da liturgia” 
de que V. Revma. também se queixou, a quem aproveita esta farsa,
 trazida à Igreja pelo paganismo? 
Não é somente o padre quem tira benefício dela?
Quanto a ser, como V. Revma. disse a “Crônica Espírita” do 
“Correio da Manhã” o canto da borra anticlerical,
 molambos jacobinos e outras coisas feias, acho, 
com a devida licença, que não é a V. Revma. que compete julgá-la,
 por ser padre e, por isso mesmo, 
o seu juízo se tornar suspeito.
Neste momento, V. Revma. é réu perante o tribunal 
da opinião pública e não se pode, portanto, arvorar em juiz. 
Quando forem distribuídos os livros prometidos a V. Revma., 
então o público terá ocasião de julgar-nos.
Não tenho a pretensão de ser bondoso e caridoso; 
não possuo essas virtudes. Respondi, defendendo
 aquilo que V. Revma. pretende magoar-me com as verdades 
evangélicas por mim citadas. Imagine quanto não doeram as
 injúrias e as calúnias que V. Revma. com todo sangue-frio 
assacou contra os médiuns, 
só porque a luz que eles trazem ao mundo ofusca a sua Igreja!!
O que observei, nos seus artigos, é que V. Revma. se julga a si mesmo, 
cantando vitória, quando, de fato, é o vencido. V. Revma.
 imita o avestruz, que, perseguido, esconde a cabeça na areia,
 julgando não ser visto.
 Está, porém, enganado. V. Revma. não é o juiz. 
O público é que o julga e a mim também.
Porém, o maior engano de V. Revma
. foi quando me tomou por negociante. 
Nunca fui bom negociante, mas sempre tive muita sorte.
 De vocação, entretanto, sou pescador, e sendo-o, 
verifiquei que com paciência e boa isca se pega bom peixe.
Descobri em V. Revma. uma boa isca; 
V. Revma é prosador e gosta de passar por sabichão. 
E foi aí que o peguei.
Não escrevo para V. Revma. e sim para 
chamar a atenção do grande público para as verdades 
espíritas e os erros da Igreja Católica. 
Esse grande público é o peixe que eu quero pescar e entregar a Jesus,
 mais bem preparado para a grande viagem do Além
mesmo que seja com prejuízo de algumas missas de V. Revma.


Creia-me, a despeito de tudo, seu amigo.

Nota do blogueiro: O grifo na última frase é do blogueiro. 
É que gostei muito do fecho desta crônica. 
O que vai em negrito está desta forma no original. 
Posted by Picasa

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