3
Meu caríssimo padre Dubois:
Não é com anedotas, pilhérias e insultos que se destroem as asserções formuladas nos meus artigos dirigidos a V. Revma., nem fui eu, como V. Revma. assevera n’ “A Palavra”, quem o provocou à discussão, visto como apenas respondi à crítica de V. Revma. a um artigo meu.
Não podendo V. Revma. justificar-se perante a opinião pública, por não encontrar no Evangelho justificação para a sua Igreja, vem V. Rvma. dizendo que a faculdade de curar foi outorgada por Jesus só aos apóstolos e a alguns santos milagreiros. Isto, porém, não é verdade, pois os textos em todos os quatro Evangelhos são muito claros e aí Jesus dá a faculdade de curar a todos que nele cressem. E tanto assim é que, além dos apóstolos, Jesus mandou os 72 discípulos fazerem o mesmo. (Lucas, 10, v. 1) E quando os apóstolos se queixaram a Jesus, dizendo: “Mestre, vimos um que lançava fora demônios em teu nome, que não nos segue, e lho proibimos, Jesus respondeu: Não lho proibais; porque não há nenhum que faça milagres em meu nome, e que possa dizer mal de mim.” (Lucas, 9 v. 49 e 50).
Não é, portanto, só aos santos milagreiros da sua Igreja, a qual no tempo de Jesus não existia, que Jesus se refere. Não podendo o clero de sua Igreja obrar de acordo com as promessas do Cristo, revolta-se contra aqueles que já possuem uma parcela de fé e fazer aquilo que nem os papas podem fazer. Mas isto tudo é natural, é humano; não lhe queremos mal por isso.
Estou aqui, mas não com o fim de vender gramofones, como maliciosamente diz V. Revma. n’“A Palavra” última, e sim para que a minha esposa pudesse apreciar os fenômenos por V. Revma. chamados milagres da Sra. Prado(1).
E não perdi o meu tempo, como, aliás, não o perdi como V. Revma. Vimos os milagres! O Sr. e a Sra. Prado desceram, por amor à causa, de Parintins, deixando lá os seus filhos, veja quanta esmola meu Revmo. amigo, e tivemos a ventura, a graça, a misericórdia não só de ver muitos Espíritos materializados, mas a grande esmola, que só do Céu pode baixar, de ver a nossa filha, Raquel, que há treze meses desencarnou. Vê-la palpitando, ouvi-la, senti-la, pedindo à mãe, beijando-lhe a mão, que não mais se vestisse de roupa preta por sua causa e que se sentia feliz.
Sinto-me incapaz de descrever a sensação que isto produziu em todos nós.
Mas voltando ao reclame que V. Revma. quis-me fazer: vender gramofones é dar ao freguês o justo valor pelo que ele paga. Estará V. Revma. certo de que recebendo determinada quantia para, por exemplo, dizer uma missa, que o freguês recebe também alguma coisa palpável, ou alguma coisa que V. Revma., em consciência, possa garantir tenha um valor intrínseco? Já algum dia foi provado o valor real da missa? Há no Evangelho alguma referência a ela? V. Revma. sabe que não. Não faço estas perguntas para que V. Revma. responda a elas. Perdoo-lhe esta maçada.
Não é, porém, aos vendedores de gramofones que se refere o versículo 14 do cap. 23 de S. Mateus, que dia: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; porque devorais as casas das viúvas, fazendo longas orações; por isso sereis julgados com maior rigor.”
Ser redator da coluna espírita do “Correio da manhã”, também não é desonra e oxalá que todo espírita pudesse romper com os preconceitos e vir publicamente declarar a sua crença. V. Revma. ficaria apavorado. Eles já são multidão.
V. Revma. diz não gostar do tom esponjoso e das frases mucilaginosas do Fígner. Mas quem dá o que tem não fica a mais obrigado. Eu, porém, gosto de V. Revma.; e dizendo a V. Revma. algumas verdades evangélicas, é com o fito fraternal de prestar um serviço ao irmão, esperando ter o prazer de receber de V. Revma. um amplexo fraternal, antes de minha partida, como os recebo de muitos colegas de V. Revma. no Rio. As nossas crenças não nos devem separar.
Não aceito o insulto de charlatão com que V. Revma. me mimoseia n’ “A Palavra”, pois vim aqui sem outro interesse do que vermos, eu e família, nossa Raquel, como acima refiro. Gastei na viagem o dinheiro que honestamente ganhei até hoje; não prometi a ninguém que, com tantas missas, tiraria alguma alma do purgatório. Sempre entreguei lebre por lebre.
O desejo de V. Revma. de ver pelas costas o Sr. Fígner em breve será satisfeito, sem, porém, poder acender ao outro pedido de V. Revma., de ficar calado. Isto não! Pois faltaria ao preceito de Jesus, que manda proclamar a verdade do alto dos telhados.
E para demonstrar os sentimentos fraternais que nutro por V. Revma., publicarei sob o título “Resposta ao Padre Dubois”, em livro, uns 40 artigos que publiquei no “Correio da Manhã”, respondendo a um padre que, sob o pseudônimo de J.P., me escrevia com o fim de me converter ao Catolicismo, e dele enviarei a V. Revma. um exemplar com a minha dedicatória.
E em homenagem ainda a V. Revma., mandarei distribuir dois mil exemplares aqui em Belém, e os restantes três mil, no resto do Brasil. E adeus.
(1) Nota do blogueiro - Vale a pena ler 'O livro do João' (Ed FEB) que relata as materializações da menina Rachel, filha de Fígner, em Belém, com o auxílio da médium Sra Ana Prado.
PS A curiosa foto que vai acima do texto foi obtida no Rio de Janeiro, à porta da Igreja NS da Paz, em Ipanema!
Nenhum comentário:
Postar um comentário