Advertência ?
Apoiar-se em algo é ter certeza de que não se tomba. Dirão alguns: “Por que haveremos nós de viver apoiados em alguma coisa ou em alguém? Por que não procurarmos viver por nós mesmos?”
Então eu lhes responderei: “quando viveis por vós mesmos, acaso não estais apoiados na fé, na confiança que tendes em vossas possibilidades de vos manterdes de pé, em qualquer situação? A fé não é por acaso algo divino, que nos serve de escora, que nos mantém de pé e nos convida a caminhar?...”
Mas nem todos possuem ainda a autoconfiança. Nesse caso, precisam apoiar-se naquilo que os mantém de pé.
A criança não pode prescindir, primeiro do colo, depois da mão que a encoraja a andar, até que possa caminhar por conta própria. Mesmo assim, não prescinde da assistência de alguém adulto que a dirija, a discipline, a ensine.
Assim caminhamos pela vida, sempre necessitando de um apoio, de uma ajuda, e só a vaidade impede certas criaturas de se convencerem dessa necessidade.
O homem que se tranca no seu mundo interno e rechaça todo e qualquer auxílio, mesmo sentindo que está arrasado, que está tombado, esse é um tolo, um presunçoso que não consegue se manter nas próprias pernas e se julga superado e já não necessitando de nada.
Vivemos em função de um Todo. O que um possui, outro tem carência. É da troca, do intercâmbio que a vida marcha.
Fugir a essa regra comum é isolar-se do todo e ficar na retaguarda. Apoiar-se na própria resistência, na própria fé, já é condição daquele que adquiriu certa evolução e pode já ser bússola na estrada.
Mas, aquele que ainda não sente em si essa força, essa segurança, o que não conseguiu ainda desvendar-se a seus próprios olhos, entender-se a si mesmo, não pode prescindir da ajuda, do estímulo, da amizade e dedicação de outros que já mais avançados na estrada lhe poderão servir de guia.
Guiar não é afastar ninguém da sua própria rota, mas ensinar como se caminha sem muitos tropeços.
Os livros ensinam, com abundância de detalhes, coisas fabulosas, mas não conseguem atravessar a barreira da incompreensão de certas almas, aferradas aos seus pontos de vista.
Um exemplo, uma palavra fraterna e despretensiosa de quem tem vivência, de quem já dominou certos instintos, vale mais que todos os livros e todos os discursos.
Abrir uma alma é como desabrochar uma flor.
A mãe natureza é sábia e trabalha em silêncio e ninguém poderia acompanhar o mistério do desabrochar de uma flor, tão lento e silencioso é esse processo.
Assim, também, só a paciência, só a tolerância e um amor desinteressado poderão ajudar uma alma a desabrochar para engalanar e perfumar a sua própria existência.
Assista a todos, irmão amigo, com amor e paciência.
Empregue a tolerância e a bondade para ajudar e nunca desista quando a luta for difícil.
Apoie-se na sua vivência de milênios e milênios e ajude a desabrochar as flores cujos botões secam e murcham sem sequer entreabrirem.
Apoie-se nessa certeza de que o Pai está sempre presente e trabalhe no jardim do paraíso, adubando, removendo pedras, regando e assistindo amorosamente o desenvolvimento das plantas, e o desabrochar das flores coroarão ainda a sua existência terrena.
Paz e Amor.
Cenyra Pinto
em “Levanta-te e Anda...” (Ed. Lachâtre)
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