quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Antologia Ubaldiana - 11

 

ANTOLOGIA UBALDIANA - 11

 A GRANDE SÍNTESE

 CAPÍTULO 31 . SIGNIFICADO TELEOLÓGICO DO TRATADO

 PESQUISA POR INTUIÇÃO

             Sob minha direção, recomeçai comigo vossa viagem, mais que dantesca, através do universo. A estrada é longa, o panorama é amplo e vosso pensamento corre o risco de perder-se.

             Desejáveis provas e demonstrações; aqui as tendes em profusão.

             Segui-me e minha argumentação cerrada, maravilhosa correspondência de toda a fenomenologia existente com o Princípio Único que vos expus, levar-vos-ão até o fim — logo que  tivermos atingido as conclusões de ordem moral e social — a enfrentar este dilema: ou admitir todo o sistema, ou nada. Se o sistema corresponde à verdade em tantos fenômenos conhecidos, deve também corresponder aos fenômenos que não conheceis nem podeis controlar; admitir e seguir os princípios de u’a moral superior — parte integrante do sistema — não será mais questão de fé, mas de inteligência.

             Depois disto, todo homem dotado de inteligência terá o dever de honestidade e justiça. Diante da demonstração evidente que coloca a questão moral na base do dilema: compreender ou não compreender, não é mais lícito duvidar e fugir. O malvado só poderá ser inconsciente ou de má-fé. Não se poderá mais discutir uma ciência da vida, que está baseada numa concepção teleológica que corresponde aos fatos e que está em relação harmônica com o desenvolvimento de todos os fenômenos; não mais construções do todo, isolado do resto do mundo fenomênico, indemonstráveis, frequentemente uma nota dissonante no grande concerto do universo; não mais — como em tantas filosofias — uma idéia particular, elevada a sistema. Como um verdadeiro edifício erguido sobre fundamentos vastos como o infinito, o homem é considerado em relação às leis da vida, estas em relação à lei do todo. Uma vez completado o tratado, não será mais lícito, racionalmente, ao homem, isolar-se em seu egoísmo, indiferente ou agressivo, pois tudo é organismo, também a coletividade, esta não pode ser senão um organismo. Até mesmo em sua forma, esta teleologia que estou desenvolvendo corresponde ao princípio orgânico e monístico do universo.

             Observai como é pouco o que estou demolindo e como, ao invés, cada palavra tem sua função construtiva; observai como é pouco o que nego, diante de tudo o que afirmo. Evito agressões e destruições; fujo de vossas inúteis divisões, como materialismo e espiritualismo, positivismo e idealismo, ciência e fé. Divergências transitórias vos atormentaram nos últimos decênios, mas eram necessárias para preparar-vos a maturação de hoje, que é o momento da fusão e da compreensão, entre uma ciência que se tornou menos dogmática e soberba, mais sábia em sua atenuada pressa de conclusões e deduções, e uma fé mais iluminada e consciente. Eu sou tanto uma quanto a outra. Meu olhar é bastante amplo para compreender, ao mesmo tempo, os dois extremos: o princípio da matéria e o princípio do espírito. Esta minha apologética da obra divina é novo benefício que vos chega do Alto. É uma demonstração que presume que sois conscientes, adultos e maduros. Vossa responsabilidade moral crescerá como nunca, se ainda quiserdes insistir nas velhas sendas da ignorância ou da ferocidade. Eu sei! O misoneísmo atávico de vossa orientação psicológica é imensa barreira, massa negativa e passiva, que me resiste com sua inércia. Qualquer mente humana se despedaçaria, sem movê-la, contra essa muralha gigantesca. Mas meu pensamento é um fulgor que abalará as mentes. Se possuís toda a resistência da matéria inerte, eu possuo todo o poder do pensamento dinâmico que desce relampejando do Alto. Vossa psicologia é um fenômeno com sua própria velocidade e massa, lançado ao longo de uma trajetória que resiste a todo desvio. Mas eu represento um princípio superior a esse fenômeno e intervenho no momento em que, por sua maturação, a lei impõe uma mudança de rota. Chegou o momento, e vós subireis. Cada vez percebeis melhor o centro deste pensamento que se vai desenvolvendo, não é, nem pode ser, de vosso mundo; é uma síntese tão ampla, poderosa e exaustiva, que jamais foi proferida na Terra. Toda essa massa conceptual, que tendes sob os olhos, move-se do infinito — seu ponto de partida — e daí desce até o vosso concebível. Para quem a procura, esta é a prova íntima, presente em cada página, da origem transcendente da obra, prova real, inerente ao Tratado que o acompanha; prova mais sólida que todas as exteriores que procurais nas qualidades do instrumento e nas modalidades de transmissão e recepção. O ângulo visual e a amplidão de perspectiva desta síntese estão, absolutamente, acima de todas as sínteses humanas ao vosso alcance. No entanto, esforço-me num contínuo trabalho de adaptação, a fim de reduzir à vossa capacidade estes conceitos, próprios de planos mais altos. Sem este trabalho, o Tratado teria de desenvolver-se, em grande parte, fora de vosso concebível, por considerar realidades superiores, inimagináveis para vós.

             Este Tratado satisfaz plenamente à necessidade de vossa ciência atual: reduzir a imensa variedade de fenômenos a um princípio único. Vedes todas as minhas argumentações convergirem para esse monismo sintético: a busca e a necessidade de vosso intelecto. Minha afirmação diz: unidade de princípio em todo o universo; unidade na complexidade orgânica, unidade no transformismo evolutivo. Em sua grandiosa simplicidade, esta idéia é a mais poderosa afirmação de vosso século. Esta idéia, tremendamente dinâmica e fecunda, é suficiente para criar uma nova civilização. O conceito de lei, que cada palavra minha reafirma, é ordem, equilíbrio, afirmação; põe em fuga todos os niilismos, pessimismos e ateísmos, a idéia da cegueira do acaso, da atrocidade do sofrimento, da desordem e da injustiça na criação; ela vos torna melhores e vos eleva a cidadãos de um mundo maior, conscientes das leis que o dirigem.

             Mas, uma tal síntese não podia ser alcançada por mentes imersas, no relativo, mas apenas de um ponto de vista que, estando fora da humanidade, pudesse, numa visão de conjunto, contemplá-la toda; ou seja, não podia chegar a vós, senão provindo de um plano mental superior. As páginas que se seguem justificarão estas afirmações, dando-vos novas aproximações do superconcebível que vos ultrapassa.

           Colocasteis vossos pontos fixos na Terra, quando, ao invés, eles estão no céu. Os fatos donde moveis, o método da observação e o instrumento da razão, fecham-vos num círculo, sem possibilidade de saída. Jamais discutisteis vós mesmos e nem pensasteis que se devesse superar vosso instrumento — esta é a primeira coisa a fazer. Eu quebro os grilhões e escapo do círculo em que vos haviam trancado vossa ciência e vossa filosofia. Era preciso quebrar de uma vez por todas esse anel: análise e síntese, síntese e análise, e encontrar um ponto de partida fora de vosso relativo. Um sistema filosófico ou científico pode ser uma concatenação e uma construção perfeitas, do ponto de vista lógico e matemático. Mas o ponto fixo, a base de onde partis, está sempre lá, no relativo; por isso, vossas construções são em tão grande número e tão diferentes, todas prontas a ruir, logo que sejam deslocadas desse ponto. Muitas vezes vos isolais numa unilateralidade de concepção, elevando-vos, vós mesmos, a sistema.

             Muitas vezes sabeis, pelo poder da mente, mas depois vosso coração não segue junto. De que serve saber, se não sabeis amar? Separais pesquisa e paixão, mas o homem é síntese feita de luz e calor. Além disso, como pudesteis crer possível chegar sozinhos — por força de análises e hipóteses, esflorando os fenômenos com vossos sentidos limitados — a alguma coisa que ultrapassasse uma síntese parcial, isto é, a síntese máxima? O que tendes sob os olhos? Como pode caber em vosso pequeno mundo terreno, todo o mundo fenomênico? Entretanto, eu resolvo, mas mudando de sistema; arraso o método indutivo, para substituí-lo pelo método intuitivo. Mas nem por isso deixo de dirigir-me e de ficar aderente à realidade, verdadeira base de qualquer filosofia. Eu vos digo: as realidades mais poderosas estão dentro de vós. Olhai o mundo, não com os olhos do corpo, mas com os olhos da alma. Os métodos dos quais tanto se ocupam certas filosofias, os métodos clássicos de pesquisa que vos parecem inabaláveis, já deram até agora todo o seu rendimento; são meios superados, que não vos farão mais progredir um passo sequer.


Um comentário:

  1. "Olhai o mundo não com os olhos do corpo mas com os olhos da alma."

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