ANTOLOGIA
UBALDIANA - 05
MENSAGEM DA
RESSURREIÇÃO
Pietro
Ubaldi (Páscoa de 1932)
De além do
tempo e do espaço chega minha voz. É uma voz universal que fala ao mundo
inteiro e verdadeira permanece através dos tempos. A verdade não pode sofrer
mudanças se olhada por esta ou aquela nação, se observada por uma raça ou
outra, porque a alma humana é sempre a mesma em toda parte, se examinada em sua
profundeza.
Venho a
vós, na Páscoa, acima de tudo para iluminar e confortar, pois vos achais
imersos numa vaga de dores. Crise a denominais e a imaginais crise econômica.
Eu, porém, vos digo que se trata de uma crise universal, crise de todos os
vossos valores morais, de todas as vossas grandezas. É o desmoronar-se de todo
um mundo milenário. Digo-vos que a crise se encontra sobretudo em vossas almas:
crise de fé, de orientação, de esperanças. É o vertiginoso momento de grandes
mutações.
Trago-vos
esperança, orientação, paz. A cada um falo hoje a palavra da verdade e do amor,
palavra que não mais conheceis. Quero reconduzir-vos às origens milenárias da
fé com o intelecto novo, nascido de vossa ciência. No dia da Ressurreição,
repito-vos a palavra da ressurreição, a fim de que possais compreender a dor e
ultrapasseis as estreitas fronteiras de vossa vida. Comovido, falo a cada um no
sagrado silêncio de sua consciência.
Ó tu que
lês, afasta-te, por um momento, dos inúteis ruídos do mundo e escuta! Minha voz
não te atingirá através dos sentidos, mas, através desta leitura, senti-la-ás
aflorar dentro de ti na linguagem de tua personalidade. Minha voz não chega,
como todas as coisas, do exterior, contudo, surgirá em ti, por caminhos
desconhecidos, como coisa tua, da divina profundeza que em ti existe e na qual
também estou.
O universo
é infinito e de longe venho, atraído pela tua dor. Nada me atrai tanto como a
dor, porque somente nela o homem é grande, e se purifica e redime, dirigindo-se
para destinos mais elevados. É triste serdes assim golpeados, mas, somente
sofrendo, podeis compreender a realidade da vida. Exulta, porque este é o
esforço da tua ressurreição!
A quem
sofre eu digo: “Coragem! És um decaído que na sombra reconquista a grandeza
perdida”.
É a justa
reação da Lei que livremente transgredistes e que exige o retorno ao
equilíbrio; instrumento de ascensão, a dor vos aponta o caminho de que
fugistes; impõe-vos reabrirdes vossa alma, fechada pelas alegrias fáceis que
infelizmente vos cegam, para que alcanceis júbilos mais altos e verdadeiros. A
dor é uma força que vos constrange a refletir e a buscar em vós mesmos a
verdade esquecida. É imposição de um novo progresso.
Abraça com
alegria esse grande trabalho que te chama a realizações mais amplas. Se não
fosse a dor, quem te forçaria a evolver para formas de vida e de felicidade
mais completas?
Não te
rebeles; pelo contrário, ama a dor. Ela não é uma vingança de Deus e sim o
esforço que vos é imposto para mais uma conquista vossa.
Não a
amaldiçoes, mas apressa-te a pagar o débito contraído pelo abuso da liberdade
que Deus te deu para que fosses consciente. Abençoa essa força salutar que,
superando as barreiras humanas, sem distinção transpõe todas as portas, penetra
o que é secreto, e fere, e comanda, e dispõe, e por todos se faz compreender.
Abraça a dor, ama-a, e ela perderá sua força. Aceita a indispensável escola das
ascensões. Se te revoltares, tua força nada conseguirá contra um inimigo
invisível e a violência, em retorno, mais impetuosamente cairá sobre ti.
Coragem!
Ama, perdoa e ressuscita! Não procures nos outros a origem de tua dor, mas,
sim, em ti mesmo, e arrepende-te. Lembra-te de que a dor não é eterna, porém
uma prova que dura até que se esgote a causa que a gerou. Tua dor é avaliada e
não irá jamais além de tuas forças. O mundo foi criado para a alegria e a
alegria lhe voltará. Da outra margem da vida, outras forças velam por ti e te
estendem os braços, mais do que tu ansiosas pela tua felicidade.
Falei com o
coração ao homem de coração. Falarei agora à inteligência.
Tendes, ó
homens, a liberdade de vossas ações, nunca a de suas consequências. Sois
senhores de semear alegria ou dor em vosso caminho, e não o sois de alterar a
ordem da vida. Podeis abusar, porém, se abusardes, a dor reprimirá o abuso. De
cada um de vossos males, fostes vós mesmos que semeastes as causas.
O maior
erro de vossos tempos é a ignorância da realidade moral, íntima orientação da
personalidade, que é o fundamento da vida social.
O homem moderno
se aproxima de seu semelhante para tomar-lhe alguma coisa, nunca para
beneficiá-lo. A vossa civilização, que é econômica, está baseado no princípio
"do ut des", que é a psicologia do egoísmo. É a força econômica
sempre a reger o mundo. A psicologia coletiva não é senão a soma orgânica
dessas psicologias individuais.
A riqueza se acumula onde a força a atrai, e
não onde a necessidade ou superiores exigências a reclamam; não constitui
instrumento de uma vida de justiça e de bem, mas, sim, máquina de poder,
representando, em si mesma, um objetivo. A lei de equilíbrio é constantemente
violada e impõe reações. Não dominais a riqueza, conduzindo-a a fins mais
elevados: é a riqueza que vos domina.
Trabalhai,
mas que o escopo do vosso trabalho não se reduza apenas a proveitos isolados e
egoístas, e sim a frutificar no organismo social; somente então se formará
aquela psicologia coletiva, que é a única base estável da sociedade humana.
Fazei o
bem, todavia, lembrai-vos de que o pobre não deseja propriamente o supérfluo de
vossas riquezas, mas que desçais até ele, que partilheis de sua dor e, até, que
a tomeis para vós, em seu lugar.
Venerai o
pobre: ele será o rico de amanhã. Apiedai-vos do rico que amanhã será o pobre.
Todas as posições tendem a inverter-se a fim de que o equilíbrio permaneça
constante. A riqueza tende para a pobreza e a pobreza para a riqueza. Ai
daqueles que gozam! Bem-aventurados os que sofrem! Esta é a Lei.
Não
confieis no mundo, que rirá convosco enquanto tiverdes força e bem estar;
confiai, antes, em mim, que venho quando sofreis e vos trago auxílio e
conforto. Já vedes, hoje, que a dor realmente existe e que nem o ceticismo nem
qualquer poder humano conseguem afastá-la.
Uma radical
mudança verificar-se-á na sociedade humana, a fim de que a vida não seja um ato
de conquista, onde triunfe o mais forte ou o mais astuto, mas, sim, um ato de
bondade e de sabedoria em que seja vitorioso o mais justo. Investigando-as com
vossa ciência, achareis no íntimo das coisas essa suprema Lei de equilíbrio que
vos governa; aprendereis que a bravura da vida não está em violar essa Lei,
semeando para vós mesmos reações de dor, porém, em segui-la, semeando efeitos
de bem. Deveis também aprender que o vencedor não é o mais forte — esse é um
violador — e sim quem segue conscientemente o curso das leis e sem violência se
equilibra no seio das forças da vida. As religiões já o revelaram, entretanto,
não acreditastes; a ciência o demonstrará, todavia não desejareis ver. O
momento é decisivo. Ai de vós se, nesta vitória de civilização material em que
viveis, desejardes ainda perseverar no nível do bruto.
Está maduro
o mundo, mas, ao mesmo tempo, cansado de tentativas e experiências, do
irresolúvel emaranhado de vossos expedientes; cansado de viver no momento, em
face de um amanhã repleto de incógnitas; e quer seriamente prever e resolver os
grandes problemas da vida, quer francamente olhar o futuro, ainda que isso
reclame uma grande coragem.
O mundo tem
necessidade da palavra simples e forte da verdade e não de novas astúcias a
rolarem por velhos caminhos. O mundo espera essa palavra com ansiedade, como
também a aguarda o momento histórico.
A
psicologia coletiva tem o pressentimento, embora confuso, de uma grande mudança
de direção; sente que o pensamento humano, não mais infantil, apresta-se para
tomar as rédeas da vida planetária e que o homem vai substituir o equilíbrio
instintivo e cego das leis biológicas por outro equilíbrio, consciente e desejado.
Por isso está buscando a luz, para que seu poder não naufrague no caos.
Não está
longe de desaparecer vossa psicologia experimental, que será substituída pela
psicologia intuitiva; esta a muito longe conduzirá vossa ciência. Novos homens
divulgarão a verdade; não mais serão mártires cobertos de sangue, nem se
assemelharão aos anacoretas de outrora, porém homens de inteligência e de fé,
que difundirão seus pensamentos utilizando-se de moderníssimos recursos, homens
que servirão de exemplo no meio do turbilhão de vossa vida.
Despedaçai
a férrea jaula que o passado para vós construiu, e onde já não vos resta
espaço. Ousai abandonar os velhos caminhos mas não ouseis loucamente, onde não
há razão para ousadias; ousai na direção do alto e nunca ousareis
demasiadamente. Do grande mar de forças latentes, que não percebeis, imensa
vaga levantará o mundo.
Até lá,
guardai a fé! A vossa crise, se é profunda e dolorosa, fará, no entanto, nascer
o homem novo do terceiro milênio. Para resolvê-la, recordai que ela é mal de
substância, que não se debela corrigindo a forma, como procurais fazer. Para
solucioná-la é necessário considereis o problema em sua substância; e sua
substância é o homem, sua psicologia, sua alma, onde se encontra a motivação de
suas ações, a fonte original dos acontecimentos humanos. Eis aí a chave do
futuro.
Vosso
multimilenário ciclo de civilização está a esgotar-se; deveis retomá-lo em
nível mais elevado, vivê-lo mais profundamente, não somente crendo, mas,
também, " vendo ".
Ai de vós
se, depois de haverdes atingido o domínio do planeta, não dominardes a máquina,
a riqueza e as vossas paixões, com um espírito puro. Sois livres e podeis
também retroceder. No período que resta deste século se decidirá do
terceiro milênio. Ou vencer, ou morrer: e a morte, desta vez, é a morte pior,
porque é morte de espírito. A todos eu digo : "Ressuscitai com a
minha ressurreição".
(Pietro Ubaldi, “Grandes
Mensagens”)
ANTOLOGIA
UBALDIANA - 06
MENSAGEM
AOS HOMENS DE BOA VONTADE
Pietro
Ubaldi
(No XIX
Centenário da Morte de Cristo)
Do alto da
Cruz vos contemplo, homens de boa vontade, de todas as raças e crenças. Estas
vos dividem; a minha palavra vos unifica.
Não falo
somente aos Cristãos, porém a todos os meus filhos, que são os justos da Terra,
qualquer que seja sua raça ou fé. Falo a todos, não considerando vossas
diferenciações humanas. Minha palavra é universal como a luz do sol. A
Divindade não se pode isolar numa igreja particular. Eu vos digo o que é
verdadeiro e justo, e o que vos falo perdura a quem quer que seja dito. A mentira
que me desfigura passa: eu permaneço. Não importa que a bondade seja explorada
pelos maldosos; o Bem acaba triunfando. Eu amo a todos.
Vós,
homens, buscais bandeiras limpas para transformá-las em mantos brilhantes. E
quem pode impedir que, em vosso mundo de hipocrisias, os maus se escondam à
sombra das coisas puras e que os falsos se acobertem sob os luzentes mantos de
que se apossam? Então, as crenças e as religiões deixam de ser uma ideia, um
princípio para se tornarem um aglomerado de interesses, uma organização de
castas.
Assim,
formastes hierarquias, seitas, ordens e grandezas que não tem correspondência
no céu. Vossas classificações são absolutamente humanas, fictícias, de acordo
com as aparências da Terra e não com os valores intrínsecos do espírito. Por
isso, ficarão aí em vosso mundo e nunca se elevarão além da Terra.
Minha
discriminação é diferente. Os escolhidos são aqueles que seguem meu caminho de
dor e de renúncia, de humildade e de amor. Vinde a mim, vós que sofreis. Sois
os grandes, os eleitos do Céu. Esta é a minha diferenciação. As que são feitas
pelos homens não têm valor. Não importa o manto, mas o homem que a veste.
Somente no caminho da dor e do amor encontrareis os que são grandes no meu
Reino. Eis onde, na luta absurda entre tantas vozes e organismos contrários,
achareis o bem, a justiça e a verdade.
Em toda
parte, nos vossos agrupamentos, se encontram os bons e os maus; estes últimos,
quase sempre, preocupados em tornar objeto de discussão uma verdade que não
possuem. A verdade está no coração e nos atos e não nas formas e nas posições
humanas.
Procurai o
bem; procurai, onde quer que esteja, o homem, nunca o estandarte. Fazei questão
do homem, da nua e intrínseca realidade de seus valores íntimos, e não dos
sinais que o marquem exteriormente. Estes se podem falsificar, não o homem. A
bandeira pode reduzir-se a um índice de interesses coletivos; o homem, porém,
segue sozinho pelo caminho de seu destino.
Justos e
injustos se encontram sobre a Terra, uns ao lado dos outros, para provações
recíprocas; achá-los-ei juntos, usando todos o mesmo nome da verdade. Somente
eu, que leio nos corações, os diferencio, como também pode fazê-lo a voz da
vossa consciência, em que penetro e falo.
Os meus
filhos estão, por isso, em toda a parte, contudo, não os sabeis enxergar. Só eu
os vejo. A dor e a morte, que matam os outros, os elevam. A minha maneira de
diferenciar está acima de todas as categorias humanas
O meu Reino
não é da Terra. O seu Rei não tem corpo físico. Os seus grandes nada possuem no
mundo, mas sofrem e amam.
Minha
religião mais profunda não tem forma terrena, não possui nenhuma dessas
exterioridades, próprias da matéria e da imperfeição humana, e que sempre foram
a base de todos os abusos.
O meu altar
é a dor, a minha oração é o amor, a minha religião é a união com Deus no
pensamento e nos atos.
Acima de
todas as formas que vos dividem, ó homens da Terra, eu sou o princípio que vos
une ao meu amor.
(Pietro Ubaldi, “Grandes
Mensagens”)
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