terça-feira, 21 de setembro de 2021

Andrologia perigosa

 

Andrologia perigosa

Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fevereiro 1966

             Não obstante a advertência contida em numerosas obras espíritas, há incoercível tendência da criatura humana para “divinizar” os médiuns, o que constitui um perigo para eles e um desserviço para o Espiritismo.

            Os benefícios alcançados espiriticamente isto é, através do trabalho espírita concomitantemente através dos médiuns, é obra exclusiva do Alto, dos obreiros do bem, dos seareiros do Cristo. “Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo” (1). “Devendo evitar, na sociedade, os ambientes nocivos e viciosos, podem perfeitamente cumprir seus deveres em qualquer posição social a que forem conduzidos, sendo uma de suas precípuas obrigações melhorar o seu meio ambiente com o exemplo mais puro de verdadeira assimilação da doutrina de que são pregoeiros. Não deverão encarar a doutrina como um dom ou como um privilégio, sim como bendita possibilidade de resgatar seus erros de antanho, submetendo-se, dessa forma, com humildade, aos alvitres e conselhos da Verdade, cujo ensinamento está frequentemente numa Inteligência iluminada que se nos dirige, mas que se encontra igualmente numa provação que, humilhando, esclarece ao mesmo tempo o Espírito, enchendo-lhe o íntimo com as claridades da experiência. (2)

            Não há razão, portanto, para que os médiuns, principalmente os que se tornaram produtivos, se envaideçam. Não há razão para que, certos ambientes espíritas, quando recebem a visita desses médiuns, os apresentemos como “famosos”, “ímpares”, etc., etc., porque semelhante procedimento, contrariando a Doutrina, ferindo a humildade e a discrição, pode prejudicar profundamente o futuro espiritual dos médiuns, espicaçando lhes o amor-próprio, dando-lhes a impressão de que não são simplesmente médiuns mas taumaturgos (3), e que todos os seus atos e efeitos mediúnicos são principalmente obra sua, o que não é verdade.

Se aos leigos ou simples simpatizantes do Espiritismo essas atitudes laudatórias são desculpáveis, o mesmo não se poderá dizer dos que conhecem ou têm a obrigação de conhecer a Doutrina. Já vimos médiuns recebidos com estrepitosos aplausos e adjetivos exagerados, que não sancionam as recomendações de nobres Espíritos como Emmanuel, André Luiz e outros.

Respeitem os médiuns mas não os divinizem. Devem ser tratados como trabalhadores dedicados mas nunca como adivinhos ou milagreiros, seres dotados de poderes mágicos. Nada disso. Eles mesmos hão de sentir-se, muitas vezes, constrangidos. Atentemos para estas palavras: “O primeiro inimigo do médium reside dentro de si mesmo. Frequentemente é o personalismo, é a ambição, é a ignorância  ou a rebeldia no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho, fatores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem à invigilância, à leviandade e à confusão dos campos improdutivos.” (4) Acrescentamos nós: a vaidade, estimulada, excitada pelo procedimento de administradores sem formação doutrinária real, constitui perigo muito sério para a estabilidade moral e espiritual do médium. “O segundo inimigo mais poderoso do apostolado mediúnico está no próprio seio das organizações espiritistas” (5), onde o Evangelho esteja em lugar secundário.

Assumem enorme responsabilidade perante o Alto, aqueles que concorrem, ainda que inconscientemente, para enfraquecer a capacidade de resistência moral dos médiuns, adulando-os, tratando-os como semideuses, em vez de encara-los como irmãos dignos do maior respeito e estima, mas evitando diviniza-los, transformá-los em ídolos. Muitos médiuns tem soçobrado no campo das tarefas mediúnicas por não saberem resistir aos abraços envolventes do polvo da vaidade e da superestimação do próprio valor.

“Médiuns, ponderai as vossas obrigações sagradas! Preferi viver na maior das provações a cairdes na estrada larga das tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos pontos vulneráveis.” (6) Temei os elogios exagerados, as louvaminhas excessivas, porque “quanto maior a altura, maior será a queda”.

 (1)    “Emmanuel” – F. C. Xavier, pág. 65

(2)    Idem, idem, pág. 67

(3)    Homens que fazem milagres.

(4)    “O Consolador” (Emmanuel) F. C. Xavier, pág. 211

(5)    Idem, idem, idem  – pág. 211

(6)     “Emmanuel” – idem , pág.  68


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