Andrologia perigosa
Vinélius
Di Marco
(Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Fevereiro 1966
Os benefícios alcançados
espiriticamente isto é, através do trabalho espírita concomitantemente através
dos médiuns, é obra exclusiva do Alto, dos obreiros do bem, dos seareiros do
Cristo. “Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum
do termo” (1). “Devendo evitar, na sociedade, os ambientes nocivos e viciosos, podem
perfeitamente cumprir seus deveres em qualquer posição social a que forem
conduzidos, sendo uma de suas precípuas obrigações melhorar o seu meio ambiente
com o exemplo mais puro de verdadeira assimilação da doutrina de que são
pregoeiros. Não deverão encarar a doutrina como um dom ou como um privilégio,
sim como bendita possibilidade de resgatar seus erros de antanho,
submetendo-se, dessa forma, com humildade, aos alvitres e conselhos da Verdade,
cujo ensinamento está frequentemente numa Inteligência iluminada que se nos
dirige, mas que se encontra igualmente numa provação que, humilhando, esclarece
ao mesmo tempo o Espírito, enchendo-lhe o íntimo com as claridades da experiência.
(2)
Não há razão, portanto, para que os
médiuns, principalmente os que se tornaram produtivos, se envaideçam. Não há
razão para que, certos ambientes espíritas, quando recebem a visita desses
médiuns, os apresentemos como “famosos”, “ímpares”, etc., etc., porque
semelhante procedimento, contrariando a Doutrina, ferindo a humildade e a
discrição, pode prejudicar profundamente o futuro espiritual dos médiuns,
espicaçando lhes o amor-próprio, dando-lhes a impressão de que não são
simplesmente médiuns mas taumaturgos (3), e que todos os seus atos e efeitos
mediúnicos são principalmente obra sua, o que não é verdade.
Se aos leigos ou simples simpatizantes do
Espiritismo essas atitudes laudatórias são desculpáveis, o mesmo não se poderá
dizer dos que conhecem ou têm a obrigação de conhecer a Doutrina. Já vimos
médiuns recebidos com estrepitosos aplausos e adjetivos exagerados, que não sancionam
as recomendações de nobres Espíritos como Emmanuel, André Luiz e outros.
Respeitem os médiuns mas não os divinizem.
Devem ser tratados como trabalhadores dedicados mas nunca como adivinhos ou
milagreiros, seres dotados de poderes mágicos. Nada disso. Eles mesmos hão de
sentir-se, muitas vezes, constrangidos. Atentemos para estas palavras: “O
primeiro inimigo do médium reside dentro de si mesmo. Frequentemente é o personalismo,
é a ambição, é a ignorância ou a
rebeldia no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho,
fatores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem à invigilância, à
leviandade e à confusão dos campos improdutivos.” (4) Acrescentamos nós: a vaidade,
estimulada, excitada pelo procedimento de administradores sem formação
doutrinária real, constitui perigo muito sério para a estabilidade moral e
espiritual do médium. “O segundo inimigo mais poderoso do apostolado mediúnico
está no próprio seio das organizações espiritistas” (5), onde o Evangelho
esteja em lugar secundário.
Assumem enorme responsabilidade perante o
Alto, aqueles que concorrem, ainda que inconscientemente, para enfraquecer a capacidade
de resistência moral dos médiuns, adulando-os, tratando-os como semideuses, em
vez de encara-los como irmãos dignos do maior respeito e estima, mas evitando
diviniza-los, transformá-los em ídolos. Muitos médiuns tem soçobrado no campo
das tarefas mediúnicas por não saberem resistir aos abraços envolventes do
polvo da vaidade e da superestimação do próprio valor.
“Médiuns, ponderai as vossas obrigações
sagradas! Preferi viver na maior das provações a cairdes na estrada larga das
tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos pontos vulneráveis.” (6) Temei
os elogios exagerados, as louvaminhas excessivas, porque “quanto maior a
altura, maior será a queda”.
(2) Idem, idem, pág. 67
(3)
Homens
que fazem milagres.
(4)
“O
Consolador” (Emmanuel) F. C. Xavier, pág. 211
(5)
Idem,
idem, idem – pág. 211
(6)
“Emmanuel” – idem , pág. 68
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