'Evangelho - remédio do mundo'
por Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Dezembro 1962
Enquanto a Humanidade não se debruçar sinceramente sobre os princípios que estão sintetizados sobre os princípios que estão sintetizados em todas as grandes e pequenas religiões, assim como no Evangelho do Cristo, não se libertará das tremendas provações por que passa, pois que, mesmo aquelas religiões que preferirem enfraquecer-se espiritualmente para se fortalecerem politicamente, contém em sua doutrina alguns conceitos essenciais à felicidade humana, desde que sejam obedecidos racionalmente .
Quando se fala em religião, a ideia que mais depressa aflora ao pensamento do homem é a da ascendência do clero. Assim, todo entusiasmo fenece de início, porque o mundo também está cansado da influência opressiva dos vários cleros, porque eles se prendem mais a interesses políticos do que a interesses espirituais, preferência que leva ao coração do povo um ceticismo tenaz, que acaba por lhe destruir a crença na religião, porque a confunde com aqueles indigitados representantes de Deus na Terra.
Uma religião sem clero, sem liturgia, sem aparato de nenhuma ordem, mas apenas com as tarefas de trabalho moral e espiritual, essa, sim, pode reconstruir a fé no coração dos descrentes, restituindo ao homem a confiança nos postulados evangélicos e a certeza de que a Humanidade conhecerá dias mais felizes quando se banhar numa religião sem dogmas.
A teologia católica, com as suas absurdidades e suas atitudes de intolerância, apressou a deturpação do Evangelho e, conseguintemente, o advento da irreligiosidade. "As castas, as seitas, as classes religiosas, a intolerância do clericalismo constituíram enormes barreiras a abafarem a voz das realidades cristãs. A moral católica falhou aos seus deveres e às suas finalidades." (Emmanuel - "Emmanuel").
O Espiritismo vem realizando com humildade, mas eficiência, a reeducação evangélica do mundo, procurando, assim, substituir os erros religiosos do passado pelas verdades espíritas, que se assentam na palavra de Jesus, que é, a bem dizer, o Evangelho dos Evangelhos. A função espírita, consoante a Doutrina codificada por Allan Kardec, é fundamentalmente pedagógica. É imprescindível, porém, que os pais se apercebam da gigantesca responsabilidade do seu papel no mundo, ligado à educação dos filhos.
"Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da auto-educação. Evangelizando o indivíduo, evangeliza-se a família; regenerada esta, a sociedade estará a caminho da purificação, reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo." (Obra cit.) Tudo ocorrerá como uma engrenagem, em que cada dente exerce importante papel de ligação, de coordenação, de cooperação, de trabalho, de ação recíproca.
Entretanto, a parte principal dessa tarefa terá de começar no lar, com a educação da criança, em bases evangélicas, mas não sectárias, não intolerantes nem discriminatórias. A boa educação dos pais, o seu comportamento dentro e fora do lar, suas palavras, seus pensamentos, suas atitudes, enfim, refletem, direta e indiretamente, sobre os filhos. Hoje, tudo é mais difícil, porque a criança tem a seu alcance o rádio e a televisão, nem sempre muito favoráveis a um esforço edificante, porque não há a indispensável seleção de programas, nem o comedimento de linguagem e de gestos, necessários dentro do lar.
Há pais que entendem, numa conceituação estranha de liberdade, que os filhos devem fazer tudo quanto entendam, para não os coagir, não formar em sua mente os chamados "complexos", as ditas "frustrações" etc., criados por psicólogos que desconhecem a evolução multiforme do Espírito através dos milênios. Até os filmes atuais têm combatido e ridicularizado esse processo "moderno" de educar os filhos, pois que com ele se criam apenas "pequenos homens" cheios de gênio, malcriados, impertinentes, ególatras, em suma, mal-educados.
As crianças devem ter ambiente moralmente sadio, brinquedos que os induzam à fraternidade, em vez de imitações de revólveres, espingardas, canhões, tanques, aviões de guerra, submarinos, etc. Entretanto, o que se vê nas lojas,com maior facilidade e enorme abundância, é o brinquedo inconveniente , inadequado, porque leva a criança a habituar-se, desde cedo, à ideia de ofender, ferir e matar seu semelhante. Os filmes e os programas de televisão, destinados a crianças, são de guerra, de bandidos, de conflitos sangrentos. O "bang-bang" se transporta para dentro de casae as crianças levam o dia inteiro a brincar de bandidos e polícias... É fácil compreender a sedimentação dessas ideias na alma da criança. Mais tarde, ninguém poderá surpreender-se com o desvio na diretriz de jovens que tiveram uma infância mal orientada, por culpa dos pais, pela indiferença de mães mais preocupadas com frivolidades sociais do que com a preparação espiritual dos filhos.
Queremos concluir com mais algumas sábias palavras de Emmanuel, que foi sacerdote católico na sua última encarnação, e Públio Lêntulus ao tempo de Jesus Cristo:
"Urge reformar, reconstruir, aproveitar o material ainda firme, para destruir os elementos apodrecidos na reorganização do edifício social. E é por isso que a nossa palavra bate insistentemente nas antigas teclas do Evangelho cristão, porquanto não existe outra fórmula que possa dirimir o conflito da vida atormentada dos homens. A atualidade requer a difusão dos seus divinos ensinamentos. urge, sobretudo, a criação dos núcleos verdadeiramente evangélicos, de onde possa nascer a orientação cristã a ser mantida no lar, pela dedicação dos seus chefes. As escolas do lar são mais que precisas, em vossos tempos, para a formação do espírito que atravessará a noite de lutas que a vossa Terra está vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir."
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