terça-feira, 18 de maio de 2021

Victrix causa

 

Victrix causa (tradução: a causa vitoriosa)

A Redação         Reformador (FEB) 16 de Maio de 1916


             Os tempos são chegados.

            A frase posta em circulação e vulgarizada por ALLAN KARDEC, repetida à saciedade, tornou-se banal.

            Ela exprime, elipticamente, uma grande verdade – a execução atual do plano da Providência, revelado pelo Espiritismo, contra o qual será inútil o esforço humano, quando não for contraproducente.

            É um símbolo bem significativo o auto de fé de Barcelona, em 1861, (1) e onde se reuniram os espíritas, em Congresso internacional, no ano de 1888 (2).

             (1) “Aos 9 de Outubro de 1861, às 10 horas da manhã, sobre a colina da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os condenados à pena última, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: “O Livro dos Espíritos”, por Allan Kardec, etc.”

                Extrato do auto, publicado nas “Obras Póstumas”, de ALLAN KARDEC, trad. de MAX.

                Vede Revue Spirite de 1861, pág. 321 e de 1862, pág. 232.

             (2) No congresso de Barcelona estiveram representados 74 grupos espíritas nacionais, mais de 60 estrangeiros e 27 jornais. Vide o Resumo dos trabalhos, publicado sob a direção do presidente da Comissão permanente, edição francesa (Librarie des Sciences Psychologiques – Paris, 1889)

             Quem tiver acompanhado o movimento intelectual dos últimos tempos, verificará que a doutrina espírita invadiu os meios ou os centros que lhe eram refratários, convencendo e impondo-se.

            Há alguns anos, um nosso adversário, demonista brasileiro, assim se exprimia:

           “Coisa admirável!

            Ao encontro da negação categórica do sobrenatural por parte do racionalismo vem o Espiritismo opondo-lhe o mais enérgico e solene protesto e afirmando de modo claro a existência deste mesmo sobrenatural, e, o que é mais, envolvendo nesta afirmação a capitulação dos mais orgulhosos e contumazes corifeus (pessoa de maior destaque ou influência em um grupo (esp. em movimentos políticos, religiosos etc.), da incredulidade e do materialismo, que publicamente se tem confessado vencidos e convencidos por uma evidência que eles dizem irrecusável.” (1) 

                 (1) Monsenhor VICENTE LUSTOSA – ‘O Espiritismo em julgamento’, pág. 8.

                 Exige retificação o trecho transcrito, na parte em que o ilustre demonólogo alude ao sobrenatural. Todos os fenômenos espíritas são naturais e regidos por leis da natureza. Patenteando-os, provando que eles se tornam até visíveis e palpáveis, podendo ser verificados por instrumentos e aparelhos, como em experiências de química e de física, o Espiritismo levou à convicção dos sectários da incredibilidade e da escola materialista, não a existência do sobre naturalismo, que negamos, mas a existência do plano espiritual, do mundo dos espíritos que, antes da nova era, só lhes tinham sido apresentados através de dogmas, ritos e superstições inadmissíveis.

            Capitularam.

            Não obstante, a igreja persiste em afirmar que a vitória não foi de verdade, que os espíritos revelam, mas de Satã, cuja existência suposta está ligada ao predomínio e aos interesses mundanos do alto e baixo clero.

            Fazendo a mesma retificação concernente ao sobre naturalismo, que invocam os defensores de dogmas moribundos ou mortos, podemos reproduzir ainda, com vênia do leitor, algumas palavras de outro demonologista:

            “Santo Agostinho escreveu algures esta frase simples e profunda; - Secretum Dei intentos debet facere, non adversos. O segredo divino deve despertar-nos a atenção e não a desconfiança.

            “Até aos últimos tempos, os nossos intelectuais tinham grande prevenção contra tudo que apresentasse um caráter sobrenatural, ou o repeliam em absoluto. Excluíam a priori o exame de qualquer fato que não entrasse nos quadros da ciência oficial. Esta, graças a Deus, vai, atualmente, abandonando a rotina...

            “Em presença de fenômenos estranhos, devidamente verificados, todo homem de boa-fé; a despeito dos preconceitos, será levado a refletir sobre a potência misteriosa que neles se revela, e que lhe fará entrever, como se fosse através de uma sombra o segredo divino – secretum Dei. (1)

                 (1) R. P. Lescoeur, de l’Oratoire – ‘La Science et les faits surnaturels contemporains’. Avant-propos, pag. IX, X.

             Não dispomos de espaço para outras transcrições do notável oratoriano. (oratoriano: clérigo da Congregação do Oratório, instituição católica fundada, em 1564, por são Filipe Néri 1515-1595).

             Foram os espíritas, ridicularizados, perseguidos, excomungados, foram os espíritos reveladores que obrigaram a ciência, em face dos fenômenos, a dar para a frente o passo decisivo, a que se refere o autor.

            Foram eles que, incorrendo embora nos anátemas da igreja, conquistaram prosélitos para a verdade e rasgaram novos horizontes luminosos para tantas almas transviadas. Qui facit veritatem venit ad lucem. (aquele que pratica a verdade vem para a luz.)

 *

            Segundo S. João (XVIII, 22 e 23) Jesus, ao receber a bofetada de um quadrilheiro, disse: “Se eu falei mal, dá tu testemunho do mal; mas se falei bem, porque me feres? Quid me coedis? (Por que me feres?)

            Poderia também o Espiritismo, encarando os perseguidores, repetir e generalizar a pergunta do Senhor: Porque me feris?

            Dá o Espiritismo testemunho da verdade. Leva a convicção à céticos e incrédulos, a materialistas e ateus, que se penitenciam e podem exclamar, como um dos mais eminentes representantes da ciência moderna: Domine, peccavi! (Senhor, eu pequei!)

                Remova os estudos de psicologia, dando ao grande problema da alma humana solução que a antiga escola espiritualista e as religiões não haviam encontrado.

            Quem não conhece o conflito, que já tem os seus historiadores, entre o dogma e a razão, entre a fé e a ciência, entre esta e a teologia?

            Não há antagonismo entre a ciência e o Espiritismo, como não há entre este e a religião, porque a nossa doutrina é científica e religiosa.

            Resolvendo o problema do destino humano, dando a verdadeira interpretação da vida e explicando a nossa posição no planeta, o Espiritismo é a doutrina moralizadora por excelência, do indivíduo, da família e da sociedade.

            São indestrutíveis os fundamentos de sua moral.

            Encontramos, entretanto, a cada passo, quadrilheiros, vindos de várias procedências, que procuram ferir-nos.

            As perseguições contra espíritas, ao contrário do que supõem os promotores – infelizes, dignos de piedade – são como o óleo, que aviva a chama.

            Vitoriosa é a nossa causa.

            A verdade, que o Espiritismo proclama, há de seguir a marcha triunfal.

            A seara está madura. É chegado o momento da colheita.

 


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