Sobre a
graça e a predestinação
A Redação Reformador (FEB) 16 de Janeiro de 1917
As igrejas impõem, como dogmas, o
pecado original, que maculou a humanidade, proveniente da suposta falta do
casal edênico, ocasionada pela intervenção do diabo, sob a forma de réptil, e o
resgate dessa falta, após alguns milênios, pela imolação, na Judeia, do próprio
Deus Onipotente, sob a forma humana, como vítima propiciatória.
Para a educação das almas exigem a
observação de certos ritos e cerimônias.
Não bastam.
Torna-se ainda necessário a graça,
que é um dom gratuito e sobrenatural, com diferentes classificações.
A graça e a predestinação foram
objeto de numerosas e renhidas discussões entre teólogos católico-romanos e
protestantes, entre ortodoxos e heterodoxos.
Roma entendeu, em oposição a certo
fanatismo tacanho, que N. S. Jesus Cristo prometeu a salvação a todos os homens,
sem exceção; mas decidiu, contra o pelagianismo (Da Wikipedia: doutrina de convicção
dos pelagianos, segundo a qual o homem era totalmente responsável por sua
própria salvação e que minimizava o papel da graça divina. De Pelágio da
Bretanha.) antigo e moderno
e de acordo com a sua política, que a graça é necessária para a salvação,
considerando herética a proposição contrária.
Está claro que os infiéis não podem
obtê-la, senão pela conversão à igreja.
Embora a graça, manancial fecundo no
céu e na terra, seja um dom gratuito, dependente da vontade divina, dispões o
Vaticano de expedientes vários, e que considera eficazes, para alcança-la e
distribui-la, em doses convenientes e para diversos efeitos.
Conforme doutrinam os teólogos, a
graça se divide em habitual, que é permanente e santificante, e em atual, que é
interior e exterior, suficiente e eficaz.
Pode dirigir-se ao entendimento e à
vontade; servir de preservativo, acompanhar o ato ou segui-lo, sendo, portanto,
preventiva, concomitante ou subsequente...
Não é nesse sentido que a
predestinação figura neste artigo, ao lado da graça, e faz objeto das aludidas
questões teológicas.
Ensinam as igrejas que Deus
predestina certo número de almas para a bem-aventurança eterna, cumulando-as de
graças especiais. Formam esses mortais o grupo dos escolhidos do Senhor, por
ato de sua vontade soberana, destinados, infalivelmente, ao céu, à felicidade
eterna.
A predestinação para as penas
eternas teve também apologistas e sectários.
Se o decreto de predestinação é
absoluto e anterior à própria criação das almas, ou se é condicional e posterior
a previsão dos méritos é grave questão, que não foi decidida pela igreja
romana, continuando aberta entre os
teólogos.
Os reformadores religiosos do século
XVI, que adotaram muitos dogmas da igreja papista, ligaram máxima importância
aos do pecado original, da graça e da predestinação.
Pelos Comentários sobre os Gálatas, de Lutero, e pelos Institutos de Calvino, podemos fazer
ideia do sistema teológico dos reformadores.
O homem é depravado e corrupto por
natureza. Por si, por seu esforço, não pode salvar-se. Só o consegue pela graça
que Deus concede aos eleitos, aos predestinados ao céu.
Calvino levava as últimas
consequências a sentença horrível que pesa sobre a humanidade, merecedora de
condenação eterna.
Podemos falar em predestinação e
graça, sem dar-lhes a significação e sentido teológicos, sem a intervenção do
sobrenaturalismo, que o sacerdócio costuma invocar, porque, arvorando-se em
medianeiro, entre o céu e a terra, convém lhe figurar a Divindade como um poder
arbitrário...
Os espíritos progridem através de
vidas sucessivas.
No espaço, recebem instruções de
seus guias, firmam resoluções, assumem compromissos, que tem de desempenhar
durante a reencarnação. Estão predeterminados os sofrimentos e as provações,
como os encargos e as missões.
Eis aí a predeterminação.
Podem os encarnados satisfazer os
compromissos, como podem falir.
Cumprindo-os, sabendo suportar as
provações, executando a tarefa prometida ou a missão de que se encarregou, o
encarnado atrairá influências benéficas, terá o amparo de seus guias
espirituais, dos mensageiros divinos.
Eis a graça.
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