sexta-feira, 14 de maio de 2021

O falso cristianismo

 


O falso cristianismo – parte 1

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Agosto 1919

             É uma tarefa que se impõe àqueles em cujo pensamento ainda se não extinguiu o amor santo da verdade, - amor tão imprescindível quanto necessário ao estudo consciencioso dos fatos, o que MigueI Unamuno sintetizou nesta frase singela, porém profundo, e decisiva: cumpre recristianizar a humanidade.

            Com efeito, o dogmatismo católico, enxameado de preconceitos litúrgicos e de ritos, até agora nada mais fez do que desvirtuar por completo, deturpando-os, truncando-os, invertendo-os mesmo, os sublimes ensinamentos do Evangelho.

            Basta um pequeno confronto entre a doutrina que o meigo e bondoso galileu, - raio de sol descido, entre as indecisões e as trevas macabras de uma era de dissolutismo, à miséria terrena, pregou aos homens de seu tempo e às gerações vindouras, cheio de humildade e de fé, e o rol de abstrusos (ocultos) teoremas dogmáticos com que o paganismo vem, há quase dois mil anos, burlando a ingenuidade humana, para que, de pronto, se verifique a sinceridade da nossa afirmativa.

            A infalibilidade do papa e dos concílios, acumulando erros sobre erros e, sob a capa falsa dum simbolismo puramente material, engendrando interpretações exóticas, tem sido o grande cancro que, há dezenove séculos, corrompe, destrói e putrefaz o organismo cristão.

            De origem divina considera a Igreja aquilo que, sponte sua, (espontaneamente) os seus missionários criam e invertem com uma fertilidade inegavelmente pasmosa.

            Os sacramentos, por exemplo. Já Tertuliano, célebre orador sagrado, assim definia o que ele julgava santas virtudes dessas exterioridades inúteis e meramente materiais: “O corpo é lavado para que a alma fique limpa de suas nódoas. O corpo é ungido para que a alma seja consagrada. O corpo é marcado com um sinal para que a alma adquira fortaleza. O corpo recebe a imposição das mãos para que a alma seja iluminada pelo espírito santo. O corpo alimenta-se com a carne e o sangue de Jesus Cristo para que a alma se nutra com a substância de Deus.”

             Os sacramentos: - Estudemo-los, um por um.

            O batismo, sacramentum regenerations per aqua in verbo, (o batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra) não nos traz a lembrança a fantasia, perversamente inquinada (contaminada) de verdades do pecado original, que em si não é senão um argumento a favor dos ateus, nas suas investidas iconoclásticas (destruidoras de imagens) contra a vontade divina?

            Que os padres o respondam.

 Nota do Blog:

Extraímos do site ‘Canção nova’:

“O santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito, que abre o acesso aos demais sacramentos. Por meio dele, somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: Baptismus est sacramentum regenerationis per aquam in verbo (o batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra). Quando recebemos o sacramento do batismo, transformamo-nos de criaturas para filhos amados de Deus. Muitos pensam que os sacramentos, em geral, são obras eclesiásticas, ou seja, “invenções” da Igreja. Isso não é verdade, pois os sacramentos são, sem sombra de dúvidas, criados por Jesus Cristo, o próprio Deus Encarnado.”  !!!

             Retomamos o texto original de Fernando Coelho...

             Nada mais inverossímil do que um homem, pseudo enviado de Deus sobre a Terra, com meia dúzia de palavras ditas em mal latim poder expurgar de uma culpa outro homem que, reverente, se ajoelha a seus pés. Um centigrama de cloreto de sódio é o bastante (risum teneatis (risos)) para delir (desfazer) um grande pecado!

            O homem resgatará as suas faltes, manda a Santa Igreja, ante um cubículo de madeira, batendo hipocritamente sobre o peito. Ora, ela própria ordena que os seus crentes rezem, no momento da absolvição: “eu pecador me confesso a Deus...” Mas essa confissão não é feita diretamente a Deus. E a conclusão é lógica: a vaidade de um simples e miserável mortal querendo arrogar-se a prerrogativas divinas!

            A eterna fábula do sapo e da estrela...

            Cristo perdoou os pecados a Madalena; replicarão os reverendos, esquecidos de que “a graça não estava no que a igreja humana a fez consistir. Havia remorso sincero, profundo. Devia seguir-se a reparação, não infligida e dura como para os culpados incorrigíveis, mas feita com felicidade, com alegria, com vontade de reconquistar o progresso descurado e tornar ao entrar no amor do Senhor.” (*)

                 (*) “Quatro Evangelhos” de Roustaing.  

             Mais ridículo, entretanto; é o sacramento da comunhão. Combatido tenazmente dentro da própria igreja, absurdo, imoral, de uma infantilidade a toda prova, aos nossos olhos, ele é bem uma firme característica desse dogmatismo que combatemos.

            “O corpo alimenta-se com a carne e o sangue de Cristo para que a alma se nutra com a substância de Deus” disse o teólogo. Nenhum comentário nos sugere a leitura dessa proposição extravagante e grosseira.

            O orgulho da riqueza, esse mesmo orgulho que Kardec e Roustaing tão tenaz e lucidamente combateram, apontando-o como causa de grandes males, levou-a a invadir, abruptamente, o terreno da lei civil, copiando dos códigos puramente humanos e sem outra presunção que a de contrabalançar as prerrogativas dos cidadãos, dentro da esfera do Direito, prevenir o excesso, punir os abusos, equilibrar em suma a vida social dos povos, em contrato que nada mais é o casamento.

            Essa invasão da igreja, que também em outros terrenos se há feito notar, é um dos frutos da sua egoística sede de predomínio e expansão, cujos efeitos perniciosos o mundo começa, em boa hora, a repelir.

            Pelo sacramento da ordem as três palavras - accipite spiritum sanctum (recebei o Espírito Santo), proferidas por um bispo, são suficientes para investir o aspirante ao sacerdócio de poderes extraordinários, cujo intuito, embora disfarçado, é manter a hegemonia e a influência da Casta Jesuítica, outra prova evidente do orgulho clerical...

            Com uma simples unção do óleo está o enfermo aparelhado para gozar, per omnia secula (através de todos os séculos), as delicias incomparáveis da bem aventurança eterna...

            Resumindo, o que são, pois, esses sacramentos senão um verdadeiro fetichismo religioso? Di-lo a razão. Di-lo a verdade.

 O falso cristianismo – parte 2

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Novembro 1919

             O comércio de indulgências - O aparato com que se reveste o culto destoa violentamente da humilde simplicidade com que o praticavam os cristãos da era apostólica.

            Longe já vai o tempo em que os soldados de Diocleciano, ao demolirem um templo da Bitínia, apenas encontraram no interior da igreja os fiéis discípulos do Cristo um volume da Sagrada Escritura.

            Hoje, os templos estão abarrotados de altares, imagens, esculturas bizarras, pinturas de um paganismo excessivo, em que o nu das alegorias é um contraste sarcástico à cruz tosca e modesta.

            Nas sacristias, vende-se escapulápios, terços, fitas que curam moléstias, medalhas que dão indulgências, velas e palmas que, à moda dos talismãs, endireitam a vida dos que a têm torta...

            Há, porventura, alguma diferença entre a portaria de um convento e o gabinete de consulta de uma quiromante?

            O papa manda distribuir às incautas ovelhas do seu ingênuo rebanho pequenas figuras de cera, cuja fabricação é privilégio dos monges de Citeaux.

            São os agnus dei. Acresce que esses fetiches não custam aos fiéis apenas a vontade de possui-los... E é esse comercialismo indigno e revoltante que faz com que a igreja católica pareça mais um balcão em que os favores do Céu se regateiam a todo preço, do que uma religião destinada ao culto sincero do Altíssimo.

            A infalibilidade papal - Outro erro profundo que o falso cristianismo perpetrou, para a firmeza do seu poderio, é a medida violenta que o concílio do Vaticano, realizado aos treze de julho de 1870, sancionou contra o voto de quatrocentos e cinquenta e um dos seus membros.

            Roma sentia n necessidade imprescindível dessa inovação. Tinha ainda na lembrança o grito de revolta de Lutero, Zwinglo e de Calvino.  

            Amedrontaram-na as dissenções manifestas e frequentes que abalavam o seu trono.

            “Conhece-se os frutos pela árvore”, diz o Evangelho.

            Que frutos, perguntamos, a árvore desse método falso de interpretações poderia dar?

            A discórdia com seu cortejo de dúvidas e de heresias. Para o sossego, portanto, de Roma, a infalibilidade papal era coisa de absoluta necessidade, inadiável e urgente.

            Perigava a sua doutrina enferma. O próprio clero se recusava cumprir as ukases (decretos) do Santo Padre, não reconhecendo em Sua Eminência poderes maiores que o de simples apascentador de um grande rebanho.

            Daí o pavor de Roma trazendo como funesta consequência mais esse erro inominável, com desembaraço rotulado de divino.

            Melhor do que todos os nossos argumentos diz a cifra eloquente dos cardiais que recusaram o seu apoio à exigência orgulhosa da Sé Apostólica.  

            A luz da verdade, felizmente, já começou a brilhar, pura, aos nossos olhos.

            Ai de vós, escribas e fariseus!

 O falso cristianismo – parte 3

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Dezembro  1919

             O poder temporal do Papa - Como não deve doer na consciência dos que estudam, serenamente, desapaixonadamente, como nós, o dogmatismo católico, apenas impulsionados pelo amor da verdade e guiados pela norma do bom senso, o contraste amargo e triste entre a vida humilde do Cristo e o luxo nababesco com que se rodeia, aparatosamente, aquele que se inculca o príncipe da sua igreja na Terra!

            Não se compreende, com efeito, que uma religião puramente espiritual, de origem divina, subscreva com o aplauso do silêncio criminoso dos seus crentes o que se nos afigura como à qualquer pessoa, tão deprimente quanto ilógico e injustificável: o poder temporal do Papa.

            Será que Sua Eminência Reverendíssima não possa, do alto do seu régio trono pontifício, vestido de ouro e púrpura, cercado de baionetas pagas pelos óbolos dos incautos, apostolar as sublimes práticas de Jesus, senão com a sólida garantia de um governo e a consequente renda fabulosa do tesouro de um Estado?

            O Vaticano é um monumento que a soberba e o orgulho católicos ergueram, num delírio megalomaníaco de grandeza, a pomposa exterioridade material dos seus ritos.

            A perniciosa influência desse poder temporal, através das idades, é fato que os historiadores registram e os sociólogos documentam.

             A intervenção direta do papa em todas as questões meramente políticas que têm convulsionado o mundo, maximé na era negra dos tempos medievais, bem demonstra que Sua Eminência mais se preocupa com as pendengas das chancelarias do que com a salvação das almas do seu descuidado aprisco.

            As lutas entre Roma e os Imperadores da Alemanha, o modo porque o papa se imiscuía nas sucessões de tronos e negócios outros dos Estados europeus, a maneira porque fazia valer o seu prestígio na escolha dos governantes e na decisão dos intrincados casos da incipiente diplomacia de outrora, tudo isso vem provar que aos falsos apóstolos do Cristo mais convém os enredos dos gabinetes e dos paços reais que o exercício, modesto embora, porém mais glorioso e digno, missão que se lhe impunha o dever.

            Jesus pregou a bondade, a tolerância, o ensino pela palavra convincente e sincera. Mas no arquivo da histeria católica apenas datas rubras sobressaem.

            Contemplemos o passado.

            Na França, a matança de S. Bartolomeu, a perseguição bárbara e impiedosa àqueles que não rezavam pela cartilha de Roma, a luta contra os huguenotes, o sangue, a opressão, a tirania.

            Na Suiça, João Huss queimado vivo, sob o apupo da turba, que o apedrejava, e a inconsciência das multidões desvairadas.

            Na Itália, os Gibelinos perseguidos, acossados, expatriados.

            Dante, vítima das suas convicções políticas, sofrendo as agruras e o infortúnio de um exílio forçado.

            Na Áustria e na Alemanha, o mesmo horror.

            Na Espanha, a atmosfera é mais sombria, o quadro mais rígido, a impressão maia dolorosa e lancinante.

            É a Inquisição com seu cortejo de crimes abomináveis. Vítimas inocentes, mulheres e crianças indefesas morrendo entre suplícios que a imaginação infernal dos improvisados juízes de batina porfiava em tornar cada vez mais terríveis, num furor bestial de carnificina e de sangue.

            O luto nos lares, o pranto, a orfandade, a viuvez, a tristeza.

            Em Portugal, homens ilustres, sucumbindo, à sanha feroz dos inquisidores.

            Por toda a parte, enfim, um rastro vermelho de opressão e barbaria.  

            O quadro, porém, não está completo.

            Há alguma cousa ainda, a observar e a descrever.

            Olhemo-lo um minuto a mais.

            Aqui, Galileu obrigado a retratar-se, sob o peso da intolerância estúpida e da ignorância ameaçadora dos frades.

            Ali, Bartolomeu de Gusmão, jazendo numa masmorra de Toledo.

            Acolá, as obras de Kardec queimadas publicamente em Barcelona.

            A ciência premida.

            Os sábios injuriados, chacoteados, vilipendiados.

            Roma não quer a inteligência.

            Despreza-a, persegue-a, oprime-a.

            Nela vê uma arma terrível contra sua mentira.

            Daí, pois, o seu ódio sem limites.

            À voz de Pedro, o Eremita, e à palavra austera e grave de Urbano VI, toda a cristandade se levanta e se precipita, como uma avalanche feroz e brutal, contra o Oriente Muçulmano.

 O falso cristianismo – parte 4

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Dezembro 1919

             Vem a noite negra das cruzadas.  

            A fina flor da nobreza morre e fenece, longe das pátrias, nos campos inóspitos das terras maometanas.

            Burguesia e plebe pagam também ao Deus Moloch da intolerância papal o tributo de sua vida e do seu sangue. E, até agora, tantos séculos decorridos, nenhum sociólogo católico houve que demonstrasse as vantagens de ordem social e até mesmo comercial que essa tremenda campanha produziu.

            Conhecimentos dos costumes, hábitos e modos dos países do outro lado do Mediterrâneo, que tanto alegam os historiadores de sotaina?

            Nada valeu no progresso da época, pois a sua influência, se não foi nula, pelo menos foi pelo menos insignificante e banalíssima.  

            O papel da igreja, portanto, tem se limitado a propagar entre os homens o gérmen das dissenções, da discórdia, da intolerância, tão em desacordo com a fraternidade pregada pela doutrina do Cristo.  

            É o sistema do “crê ou morre”.

            Perniciosa, ao nosso ver, é a influência do papismo na marcha evolutiva da humanidade.

            Cumpre lembrar que Roma foi o baluarte mais poderoso do absolutismo e o esteio mais forte da prepotência tirânica das monarquias da Europa.

            As ideias libertárias, os sãos princípios democráticos tudo enfim que é hoje a base  

da organização civil e política dos povos cultos encontrou sempre pontífices romanos a  barreira mais difícil de transpor.

            Tão antipática era a atitude que a Santa Sé mantinha em face das justas reclamações dos povos, ansiosos de liberdade, que a revanche contra os padres atingiu ao auge da violência, como na Revolução Francesa e, ainda há pouco, na Revolução Portuguesa, excessos aliás condenáveis.  

            A arte moderna, a literatura profana, os grandes mestres, o teatro, as próprias invenções do engenho humano, as próprias leis, como as do matrimônio civil e da administração dos bens da igreja pelo Estado, tem contra si o ódio de Roma e os ataques furibundos dos oradores clericais. Mas a verdade é una e indivisível.  

            Apontamos fatos, e, estudando-os serenamente, sem paixão, despidos ou qualquer interesse baixo ou intuito inconfessável, tiramos conclusões que nos ditaram o raciocínio e a lógica.

            Mostramos o que é o papismo em si, com seus absurdos.

            Provamos a má influência da igreja sobre o movimento social do mundo em dezenove séculos.

            Dissemos, apoiados em fatos e documentos incontestes, quo tudo que há produzido a humanidade de benéfico e de útil encontrou sempre na igreja o seu mais feroz antagonista.  

            A época mais sombria e atrasada da história, a idade média, foi exatamente aquela em que mais poderosa se fez sentir a ação de Roma e dos papas.

            A humanidade como que parou, ou melhor, retrocedeu.

            E somente depois que se iniciou, nos gabinetes dos filósofos e nas velhas salas das universidades, a reação contra o clericalismo, foi que um impulso de progresso e de adiantamento observou-se no mundo.

 O falso cristianismo – parte 5

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Janeiro 1920

             O dogmatismo católico conduziu ao materialismo. A árvore maléfica de Roma não podia dar outro fruto que não o materialismo, desolador e triste. Verdade inconteste é essa que vimos de afirmar. Foi do conflito entre a ciência dos enciclopedistas, fátua e pedante, e o dogmatismo incoerente dos papas, orgulhoso e arrogante, que nasceram, com os primeiros sintomas da dúvida, o negativismo e a descrença. Roma levou a humanidade ao desconforto de um ceticismo funesto, como levou os sábios ao materialismo.

            A letra mata, o espírito vivifica”, exclamou Paulo na sua segunda epístola aos coríntios.  

            Foi dessa luta entre a razão ainda vacilante e a intolerância clerical que surgiram as hipóteses, às vezes infantis, as vezes ridículas, da ciência materialista.

            Roma coibindo os seus fiéis da leitura e discussão do texto das escrituras sagradas e, sobretudo das suas leis e bulas, exacerbou os homens.

            E como já tinha, séculos antes, produzido a Reforma, a dissenção no seio do seu próprio apostolado, não era de admirar que também produzisse o mais puro e desbragado materialismo.

            O homem deve raciocinar, estudar, fazer ideia de todas as coisas”, disse Lucas.            

            A Santa Sé, entretanto, não o entende assim. Prefere a letra ao espírito.

            Razão de sobra, pois, tinha Savage, na sua “Religião estudada à luz da doutrina darwinista, quando discorria: “se uma das acusações da igreja à ciência, é a que esta é materialista, ouso notar que a concepção eclesiástica da vida futura foi sempre e é ainda  materialismo puro.

            O corpo material deve ressuscitar e habitar um céu material.”

            A culpa, a grande culpa dessa dolorosa enfermidade, que é falta de Fé, cabe, pois

inteira a Roma.

            Mas a verdade começa de brilhar.

            A nova era se inicia radiante de consolação e de promessas.

            Cristo ressurge. O espiritismo é um fato que os sábios já atestam e confirmam.

            Seu ideal é nobre: a perfeição humana, por meio do amor, do estudo e da caridade.

 O falso cristianismo – parte 6

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Fevereiro 1920

             “O espiritismo é uma verdade” atestam milhares de sábios. Como toda a verdade, - luz cujo brilho imaculado os subterfúgios da treva em vão tentam obscurecer e empanar. - O espiritismo foi, é será por muito tempo – porfiosa (teimosa) e tenazmente combatido.

            Aos seus crentes, porém, pouco importa a zombaria dos céticos.

            Obra luminosa, é daquelas que, muito longe de envergonharem, enobrecem e estimulam.

            A verdade, objetivo dos que sinceramente analisam e estudam a Natureza, não é privilégio de nenhuma seita.

            Está franqueado a todos o seu caminho. Que os cientistas, pois, observem-na, examinem-na, escalpelem-na cuidadosamente, sem precipitação, e terão realizado, para benefício e consolo da humanidade, a mais nobre e útil das tarefas.

            Mas, zombar, sem provas nem documentos de valia, daquilo que se não conhece, pelo simples gozo de épater (chocar), é coisa intolerável.

            O espiritismo é uma verdade, dissemos. Surgiu no triste momento em que a ciência e religião, materialismo negativista e desolador e dogmatismo esdrúxulo e apavorante, se digladiavam a mão armada, no campo estreito de um duelo improdutivo.

            Na hora em que Schiller, desesperado, exclamava:

             “La guerre soit entre vous. L'union viendra trop tôt encore! C'est á la seule condition que vous restiez désunis dans la recherche, que la vérite se fera connaître!”

             A guerra esteja entre vós. A união virá muito cedo ainda. É a única condição de que permaneçais desunidos na pesquisa que a verdade se torne conhecida!”  (aceitamos sugestões para revisar esta tradução!).

             Na noite sem luar da descrença projetou, desde logo, um raio vívido de fulgor, iluminando as consciências e esclarecendo as almas. Pregando a humildade, a fraternidade, a caridade, levou aos lares pobres o alívio, a esperança, e o conforto.

            Aboliu o fanatismo, induzindo os homens à análise meticulosa dos fatos.

            Cortou pela raiz à árvore daninha da superstição, desfazendo a velha blague (pilhéria) do milagre, com a prova insofismável de que tudo que à imaginação se afigura estranho, obedece tão simplesmente a leis naturais, até há pouco apenas desconhecidas.

            Religião e ciência, da igualdade, do amor e do perdão, o espiritismo veio reformar o homem, rasgando lhe novos horizontes, abrindo-lhe os olhos à Verdade.

            O tempo dos dogmas passou. Passou a época pessimista das hipóteses A era que surge é a da realidade.  

            Não basta crer. É preciso estudar, inquerir, perscrutar os íntimos segredos do mundo visível e invisível que nos rodeia, para que a alma não resvale para o falso terreno da fantasia e da quimera. Aos sábios oferecemos o exemplo sadio, confortante, pleno de sinceridade, de Crookes, Lombroso, Richet, Wallace e tantos outros, que, para firmarem a respeito dos fenômenos espíritas uma opinião abalizada e segura, conscienciosamente os estudaram, tirando conclusões, anotando factos, guiados sempre pelo raciocínio e pelo critério o mais escrupuloso.

            Que melhores documentos para o espiritismo do que essas opiniões?


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