Imortalidade
Condicional
A Redação
Reformador
(FEB) Abril 1914
Embora as religiões o proclamem
ainda, figura, nos seus artigos de fé, como um texto morto, que tem o seu lugar
na história das aberrações humanas.
Essa crença, que tantos terrores
infundiu em espíritos atrasados de outras épocas, não penetra mais nas consciências.
Não podem os encarnados de hoje, com
algum adiantamento, aceitar a velha solução tradicional do problema escatológico.
Impossível é, entretanto, afasta-lo
das nossas cogitações porque o destino das almas a todos interessa.
Em artigo da nossa edição anterior,
demos perfunctória noticia de uma solução, já acolhida em círculos protestantes
e que se aproxima da doutrina espírita.
Vamos apresentar, agora, outra
reposta ao magno problema, também adotada por teólogos e pastores protestantes,
que a tem propagado em numerosos volumes.
Não se pode negar que, entre o
sectário do protestantismo, se ligue importância a esse movimento contrário ao
dogma tradicional das penas eternas e que, tendo precursores na filosofia,
começou, em meados do século passado, com a obra de Edward White - ‘A lmortalidade Condicional’, com as
suas prédicas e foi impulsionado por numerosos adeptos.
Para conhecer a doutrina condicionalista
lemos, entre outras, as obras notáveis de H. Drummond (‘As Leis da Natureza no Mundo Espiritual’) e E. Petavel-Ollif (‘O Problema da Imortalidade’) bem
diferentes no método e na exposição, mas chegando ao mesmo resultado.
Sustentam os condicionalistas que a
alma humana, como todo ente criado, é, em principio, mortal.
Torna-se, porém, imortal pela fé em
Cristo, libertando-se do pecado pela prática de sua doutrina. A imortalidade,
adquire-a o indivíduo pela sua fé e por seus atos.
A alma pecadora, depois de punida em
outra existência, morre de... inanição.
Drummond, em estilo atraente, aplica
ao mundo dos espíritos, por analogia, as leis da natureza, conhecidas e
interpretadas, conforme a doutrina darwínica.
Na luta pela existência sucumbem os
fracos, sobrevivem e se perpetuam os fortes, que souberam adaptar-a ao meio.
No mundo espiritual, os fracos, que
tem de desaparecer, porque não souberam Iutar, resistir, adaptar-se ao meio,
vencer, em suma, são os pecadores, os que fazem o traspasso na impenitência.
Peteval-Olliff acumula textos sobre
textos do antigo e do novo Testamento, e de escritores velhos e modernos, para
provar que a Bíblia condena, não ao fogo eterno, mas à morte, ao aniquilamento
a alma dos pecadores impenitentes.
Irreconciliáveis com o dogma das penas eternas, os condicionalistas encontraram uma solução, que poderemos chamar de política religiosa, porque ameaçam os pecadores com as penas temporárias, em que podem acreditar, e com a extinção da personalidade, o nada.
A igreja católica está petrificada
no seu dogma.
Bosquejando uma notícia sobre as modernas
ideias escatológicas da teologia protestante, considerada liberal e
progressiva, o nosso intuito é tornar patente a superioridade da solução espírita,
expressa no lema kardeciano: nascer, morrer, renascer, progredir sempre.
Estão as nossas provas:
- Na própria natureza da alma
preexistente e sobrevivente; nos fenômenos do nascimento e da morte, cujos mistérios
estão desvendados.
- Nas revelações dos espíritos;
- Nos fatos observados, estudados,
recolhidos nos nossos anais, na crônica, na tradição e na história.
A nossa documentação não pode ser apagada.
A solução espírita, que remove todas
as dificuldades - fácil seria enumera-la - opostas ao dogma e às variantes
modernas, não é fantasista, como a teológica.
Assenta em fatos positivos e
concludentes, que opulentam os nossos arquivos.
Ainda que pese ao negativismo estéril
e dissolvente, aí estão as revelações sobre o destino da alma, fora dos domínios
do sobrenatural, que a ignorância inventou.
O concilio de Trento recomendou aos
padres que, em suas prédicas, evitassem o problema escatológico. Calvino
confessava-se horrozisado com a solução da sua teologia - decretum quidem horribile falcor. (Na verdade, decisões horríveis falham)
Passou esse período sombrio.
As lições do Espiritismo sobre este
assunto, antes considerado transcendente, são positivas, claras, simples,
singelas, como as do Evangelho, e, amanhã, serão verdades incontestes e banais,
como a rotação do planeta, negada durante os séculos de dominação da igreja
romana.
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