Na lei, por
lei
por M. Quintão
Reformador
(FEB) Abril 1941
O fanatismo, em religião como em ciência, é tão prejudicial à verdade, quanto o ceticismo.
Nada julgar a priori e nada afirmar
sem provas é o que nos parece de melhor conselho a quem deseje caminhar com
segurança.
Há crentes de boa fé, principalmente
neófitos, que tudo atribuem à influência dos Espíritos desencarnados.
Se os negócios lhes correm mal; se
uma enfermidade lhes demora rebelde e importuna, prestes se julgam vítima de
perseguições e vinditas de imaginários inimigos do plano espiritual.
E, porque seja sempre mais fácil
conjecturar simplesmente, que discernir com esforço, ei-los a correrem para os
médiuns e para os Centros, no louvável empenho de se descarregarem de penas e
cuidados.
E muitos, e quantos supõem que, em
tal grau de apelação, basta faze-lo para que tudo se transforme e desvaneça,
como nas mágicas teatrais, por mirífico encantamento e ao sabor de seus desejos
e fantasias.
Nada, entretanto, menos justificável e mais ilusório,
em face da teoria e da prática espiritistas.
A verdade iniludível é que, sendo a influência dos desencarnados um fato constante e geral - como afirmou Augusto Comte, se bem que noutro sentido, quando disse que os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos - essa influência não se exerce à revelia da lei de causa e efeito, nem cega, nem arbitrariamente, de modo a eximir-nos de qualquer esforço, ainda porque essa lei providencial e benéfica, em sentido profundo, é corretiva, antes que punitiva.
Há, sem dúvida, injunção de estágios
terrenos anteriores, ajustes de contas transmissíveis de umas a outras encarnações.
Estes casos, porém, são mais raros do que ordinariamente se supõe.
A maioria radica-se (fixa-se) imediata, não remotamente, à nossa
incúria, leviandade e inópia (imperfeição), nesta e desta mesma encarnação. De
qualquer forma entretanto, o que se impõe irrefragável é o estudo de nós
mesmos, é a reforma do caráter, é a transformação dos nossos pendores que o
Cristo de Deus tão bem prefiniu no homem novo. Desprezada essa
objetiva, toda faina, toda aspiração resulta inane (sem conteúdo), verdadeira pedra de Sísifo. (da Mitologia grega –
Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o
cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o
topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio
de uma força irresistível e Sísifo tinha que reiniciar seu esforço montanha
acima.)
Já por arguciosos adversários se glosou o estafado mote
de que a crença na intervenção dos Espíritos conduz à passividade, à inércia
mental, infirma o estímulo da iniciativa própria, enerva a inteligência.
Argumento sutil e verdadeiro, até certo ponto - conquanto
extensivo e quiçá mais ajustável a confissões de caráter dogmático, que a
doutrina espírita não comporta exige se lhe contraponha desde logo os
imperativos legítimos de esforço e trabalho consciencioso, trabalho de natureza
mental e burilamento moral, sem o qual não pode haver progresso para a criatura,
quer na Terra, quer no espaço.
O auxílio do mundo espiritual pode e deve ser invocado,
não, certo, qual o invocam irmãos de outros credos, em caráter de benefício
divino, arbitrário e milagreiro, mas sim e só no sentido de alcançar luzes e
forças para sofrer e vencer com proveito os lances difíceis da existência.
De resto, racional e doutrinalmente
considerado, é esse o único auxílio eficaz, e plausível, visto que, sendo as
provas indefectíveis e por nós mesmos arbitradas no plano espiritual, nenhum
Espírito teria a virtude de as anular.
De tais artificiosas promessas e embelecos (imposturas) servir-se-ão, possivelmente,
Espíritos levianos, mistificadores, ignorantes, para embair (induzir em erro) os incautos de boa fé; mas, os
Espíritos do Senhor, que são os sábios da Sabedoria divina, eterna e inconfundível,
estes não dispensam na lei e sim por lei.
E a lei, dizem-no eles e aprendemos,
e verificamos nós, é de sofrimento, trabalho e esforço próprios, para que
sejamos auxiliados e providos sempre e só naquele nível que soubermos
conquistar.
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