Esnobismo revesso (que não está de acordo com a verdade ou com a moral)
por M. Quintão Reformador (FEB) 16 de Maio de 1934
Foi Comte (Auguste Comte) quem disse que os vivos seriam sempre e cada vez mais governados pelos mortos.
No sentido positivo da doutrina comteana,
o apotegma
(dito
ou palavra memorável, lapidar, proferida por personagem célebre) significa que não há solução de
continuidade na evolução humana.
Em política, em sociologia, em
moral, a vida se perpetua por entrosagem (entrosamento) manifesta, de caráter subjetivo.
A hereditariedade racional é um fato tão natural, como
a hereditariedade biológica.
O Espiritismo não confirma apenas, porque amplia, o
conceito de veridicidade da lei.
Os que se passam ao plano de outra
vida não perdem, antes, presuntivamente, ampliam e aclaram os problemas desta
vida e nela prosseguem colaborando.
Não há duas humanidades estanques, não há lindes (limites) divisórias entre os que partem e os
que ficam, para só haver uma humanidade que se permeia para a realização de um
destino global, comum.
Sendo assim, porque assim é, também não há conceber o
que por aí se taxa de passadismo, à
luz da doutrina espírita.
Por que?
Porque,
neste caso, toda a doutrina teria passado com o Cristo e Kardec teria sido um
legitimo passadista
(retrógrado), valendo-se dos ensinos de Erasto, Melanchton e vultos quantos, outros,
amando-os, servindo-os, apontando-os à veneração dos pósteros.
Passadistas assim somos todos os que ainda hoje preferimos ouvir e venerar um Bezerra, um Bittencourt, a entoar o hino das Ideologias Novas, que ninguém sabe qual lhe seja a clave, porque cada qual o canta, quando não regouga, (fala em tom áspero e gutural), a seu modo, com o registro de voz que Deus lhe deu.
Se a Grande Guerra, como a Bastilha; se as Guerras Púnicas,
como a Renascença, ou a descoberta da América constituem eventos aferíveis por
marcos de referência na tela histórica da evolução planetária, também podemos e
devemos coligir
(chegar
à conclusão)
que não foram
improvisados com e para exclusão dos que os precederam, ou neles foram parte.
Destarte, vultos há cujos feitos, ideias, exemplos não
prescrevem na consciência para a veneração dos pósteros.
Não falaremos de Jesus, vigente para a eternidade dos
evos (das eternidades)...
Falamos dos que lhe viveram a
doutrina em essência, a qualquer tempo, e têm, por isso, credenciais de
atividade permanente.
Pois assim é que cultivamos, queremos e veneramos a
memória de um Bezerra ou um Bittencourt, cujas ideias, exemplos e atitudes se
impõem a todas as ideologias, novas e velhas, por isso que culminaram na única ideologia real - a do amor a Deus e ao
próximo, sem preocupações cronológicas.
Que todos os chamados à sua hora
venham colaborar oportunamente na transformação renovadora do planeta, é necessário,
é previsto e é louvável; mas, que o façam sem visos (sinais) de maior fraternidade,
para só valorizarem a própria atuação, espezinhando o passado e quantos nele
sentem um ritmo de afinidades, isso é o que não podemos compreender, para só
lamentar.
Porque, no fim de contas, a obra espiritista é
construtiva, é progressiva, é solidária e nunca revolucionária e demolidora. E
passado, presente e futuro não podem valer, para nós outros, senão como índice
de momentos na eternidade, para a eternidade.
E tudo mais que aí lampeja, em
fulgurações de fogo fátuo, vai por desafio ao clássico - sunt
verba et voces, praetereaque nihil... (são
palavras e vozes e nada mais...)
Mas, vejam lá: - no idioma de Cícero e Virgílio, em
testemunho de ranhosa (de
má qualidade) confissão
de abençoado passadismo.
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