“Santo Agostinho e a Cremação”
por Osório Borba Reformador (FEB) Setembro 1952
O motivo da oposição provém - dizem
- do Evangelho de São Mateus, onde se descreve minuciosamente a ressurreição
dos corpos no vale de Josafá, por ocasião do Juízo Final. Mas, a ser verdadeiro
e sincero esse motivo, somente põe a descoberto o ceticismo dos próprios católicos
quanto a esse dogma de sua religião.
E, de fato, se a onipotência divina
é capaz de fazer com que sejam reincorporadas as partículas cadavéricas
devoradas pelos vermes, peixes e animais ferozes, como não há de poder recompô-las
das cinzas resultantes da cremação? E, qual será, então, a situação daqueles
que involuntariamente, em consequência de incêndios e acidentes, forem
carbonizados? Ou daqueles sepultados em terrenos que dissolvem até os ossos? Ou
ainda, daqueles que a própria Igreja queimou nas fogueiras da Inquisição, como,
entre outros, Joana D'Arc?
Refutando, na Cidade
de Deus, os pagãos de seu tempo, trata Santo Agostinho longamente da matéria
e ventila semelhantes hipóteses. Se, Da, nas Sagrada Escrituras, o Eterno
afirma que todos os nossos cabelos são contados e que nem um só desaparecerá – Capilli capitis vestri numerati sunt ommes;
Capillus capitis vestri non peribit, como admitir que a dissolução dos
cadáveres, qualquer que seja o seu processo, possa impedir à onipotência divina
recompô-los em sua inteireza primitiva, ela que tudo tirou do nada?
Os católicos de hoje devem ler,
urgentemente, para rebustecerem a sua fé, o livro vinte e dois da “Cidade de Deus” e também o capítulo das “Confissões” de Santo Agostinho, onde
este narra a morte de Santa Mônica. A princípio desejava ela ser sepultada na África
ao lado de Patrício, seu esposo. Mas, ao falecer em Ostia, na Itália, de tal
modo se aperfeiçoara na fé que nenhuma importância deu mais ao seu cadáver,
porquanto - dizia. - qualquer que fosse o seu destino, o Eterno o ressuscitaria
no Dia do Juízo.
Sirva a lição aos nossos católicos
de hoje e não procurem oprimir as convicções alheias manifestando a pouca
solidez das suas próprias.” – lvan Lins
(Ext.
do “Diário de Notícias” 31-07-1952)
Do Blog: Hoje, mais
do que outras correntes religiosas, são os católicos que mais buscam a cremação
de seus mortos. Nada como o tempo para observarmos as mudanças de opinião...
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