por Valdo de Abreu Reformador (FEB) Janeiro 1934
Estribados nessa inverosimilhança e
tendo em mira que um corpo de princípios, para construir uma “ciência”
perfeita, deve satisfazer aos quesitos de “sucessão” e “relação”, concluem que
o Espiritismo não pode ser encarado senão como uma hipótese admissível.
Para documentar a sua luminosa “descoberta”,
lançam J. B. Roustaing contra Allan Kardec,
tentando provar que os dois notáveis corifeus (pessoa de maior destaque ou influência em
um grupo especialmente em movimentos políticos, religiosos etc.), do Espiritismo se contradizem em
toda a extensão de suas obras e que, entre eles, não há homogeneidade de
vistas, não obstante cuidarem do mesmo assunto.
Daí, indubitavelmente - juram eles
por todos os santos - o valor nulo da Doutrina Espírita, como filosofia e, mais
ainda, como religião ou ciência.
Lastimável é esse estado de miopia
mental em que se encontram alguns homens, nesta época de heresia científica e
pusilanimidade religiosa, dentro da qual se faz questão de permanecer no erro e
de olhos vendados para a luz.
Mais, ainda não é tudo, porque esses
homens, esgrimindo em liça puramente teórica, nunca se disseram prosélitos da
Escola Espírita, nem jamais se deram ao trabalho de, ao menos assistir a uma
sessão doutrinária ou experimental, que os convencesse, aposterioristicamente,
da realidade dos fenômenos.
Que nos guerreiem com artigos, discursos e livros,
conferências e apodos
(comparação
ultrajante),
exegeses de fogo-fátuo (comentários sem
brilho),
que - energúmenos -
sobre nós atirem chalaças
(pilhéria
grosseira)
e lancem todas as
cobras e lagartos de que dispõem - entende-se perfeitamente pois, são uns
vaidosos que, de eras pristinas, julgam saber de facto e por completo toda a filosofia
da natureza.
No seio, porém, do Espiritismo,
nesse manancial divino da verdade, onde a concepção de Deus transparece - qual fênix
celestial - liberta das cinzas ainda não extintas das religiões do passado,
haver pessoas que sofram sede espiritual e naufraguem em utopias - é o que
nunca pudemos compreender.
Mas, a culpa não é da Doutrina, ou de falta de precisão
nas obras dos Mestres. Longe disso. Os culpados, os responsáveis exclusivos são
os próprios espíritas, que não tratam de estudá-las e que, por serem médiuns,
ou por que alguém lhes fomentou o orgulho, desandam a fundar centros e a
promover sessões estapafúrdias, a receitar panaceias, contanto que no fim da
semana o mealheiro
(pequeno
cofre)
não esteja vazio.
Esse o maior obstáculo com que os
grandes idealistas e os homens dignos da nova Revelação hão topado em toda
parte. Eis aí a ganga do erro, como já dissemos algures, a circundar o diamante
puríssimo da Verdade Espírita.
Pois é essa a gente que, enfunada (envaidecido) de soberba estrábica, num exclusivismo caótico e injustificável, anda por aqui e por ali, deste Centro para aquele, cobrindo de louros o nome de Kardec em detrimento de Roustaing e vice-versa! Irmãos que, sem maiores escrúpulos e tomados de uma paixão doentia, inexorável, nascida do individualismo exaltado de uns tantos insufladores de rebeldias, não trepidam em renegar o qualificativo de espírita, para tomar, grave e altivamente, os de kardecista ou roustainistas.
O que não pode o amor-próprio!
Entretanto, como já foi sobejamente
demonstrado, não há motivos para dissídios: as duas obras completam-se uma à
outra e o que, a princípio, pareceu incoerente, resolveu-se na mais bela das
conformidades.
Com efeito, Roustaing disse o que Allan Kardec - homem não quis admitir, mas, que era consequência natural dos ensinos do mesmo Kardec - Espirito rutilante, “eterno enamorado da vida”, na frase de Khrishnamurti, jovem profeta indu.
De modo que, para terminarmos, o
argumento tido como um dos seus cavalos de batalha pelos nossos ilustres impugnadores
cai pela base. Não existe nem Kardecismo, nem Roustainismo; mas, apenas isto: O
Espiritismo que, à guisa de sol apoteótico, arrasta as suas “sombras” no
esplendor de sua luz!
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