Grupo Ismael
A
Redação / Bittencourt
Sampaio
Reformador
(FEB) 16 Setembro 1918
Grupo Ismael
Os prismas da ideia apresentam cambiantes
novas e mal entrevistas do mundo, na apreciação de problemas e personagens, que
a superstição e o fanatismo de vinte séculos adulteraram de muito, senão inteiramente.
Apreciando a missão dos dois vultos
mais eminentes do Apostolado Cristão, no dia em que a humanidade os comemora
com pompas e galas terrenas, retumbante mas inexpressivamente, o companheiro de
lides espirituais, pensador e poeta evangélico por excelência aproveitou o ensejo
para dar às letras espíritas uma página de alto relevo filosófico-religioso na
qual, estamos certos, e vão desalterar muitos corações e muitas inteligências, ávidas
de consolações e verdades. Cedendo, a nossa primeira página a tão emérito hóspede,
resta-nos a convicção de que melhor não poderíamos corresponder ao nosso
tradicional programa.
Eis a comunicação, ou antes o ensinamento
que epigrafamos:
Pedro e Paulo
Bendito seja o meu Senhor!
Meus caros amigos:
Ainda é bem possível que séculos se
passem até que eles possam ser melhor comemorados, porque, espíritos cuja envergadura
mal o homem compreende, não podem de modo algum ser apreciados como deveriam
ser. De fato, onde estão os seus imitadores?
E, no entanto, são decorridos dois mil anos, quase, que eles deram os exemplos
mais eloquentes de fé viva, ardente, quo
os conduziu ao sacrifício do martírio! Ninguém, nenhum mortal surpreendeu, por
um instante sequer, de um daqueles lábios uma palavra de desalento, um instante
de desfalecimento! A impulsioná-los sempre para a frente estava a fé, a fé que
se patenteava na certeza de que seus espíritos a possuíam e quaisquer que
fossem os obstáculos que tivessem de vencer, a figura do seu amado e divino Mestre
jamais se deliria nas suas consciências!
As velhas religiões assumiram grande
responsabilidade na direção da humanidade; sobre elas pesam grandes culpas por
não falarem a verdade ao mundo; e o mundo sempre ignorante dessas coisas, sempre
propenso a desfrutar todos os proventos materiais, pouco se incomodou com as coisas
espirituais.
De degradação
em degradação, de decadência em decadência, de erro em erro, de princípio em
princípio chegou no abismo insondável da descrença.
Mas, esse estado não pode, não deve
continuar a prevalecer.
Deus, ouvindo não os clamores do
mundo, mas as vozes dos seus mensageiros celestes, ouvindo as súplicas desses espíritos
diletos, cuja intervenção na nossa vida é tão grande, tão extraordinária mas
que mal percebeis, Deus faz baixar sobre esse mesmo mundo a sua misericórdia e
o eu valor, envia o Consolador prometido, e ei-lo a trabalhar, a agir de feição
a reunir os homens de boa vontade, a convida-los a vir trabalhar na seara que há
de conduzir não só eles, mas todos, à felicidade eterna. Aproxima-se hora das lutas,
os espíritos não cessam de lançar a cada canto o seu grito de alarma. Homens
adormecidos engolfados nas suas cogitações materiais; uns acumulando o que têm,
outro desfrutando os prazeres mundanos na orgia sempre acidentada, a humanidade
caminha em erro e os grandes vultos são lembrados na terra uma vez cada ano e
isso mesmo ainda como leve passatempo! Oh! Singular maneira de comemorar os
grandes benfeitores da humanidade!!
Repito, esse estado de coisas não pode
continuar: surge a necessidade palpitante da reforma individual e, por consequência,
social.
O mundo está completamente revolucionado,
todas as ideias que nele germinam permanecem em conflito latente. As velhas
religiões do passado ainda se mantêm de pé a custa de um equilíbrio extraordinário,
conseguido unicamente pelos ouropéis (aparência enganosa de luxo), pela astucia, pela habilidade política
posta em jogo pelos seus mais eminentes representantes. Essas instituições
seculares, que benefício algum têm trazido à humanidade, pois que a ela só lhe
tem trazido dores, desvarios, decepções, lutas as mais encarniçadas e tremendas:
essas religiões, todas elas rolarão por terra, para dar lugar ao ressurgimento
de uma época nova na qual o amor, a caridade, a fraternidade, começam conjugadas
a sua grande obra de confraternização universal, a união de todos os povos,
tendo apenas uma só religião e um só entendimento.
Esse efeito não será para a vossa
vida terrena, mas que importa isso se haveis de vir em novas etapas para concluir
a tarefa da reforma planetária? Porque, sabeis, cada um tem seu papel definido neste
grande empreendimento; de sorte que haveis de vir novamente tomar lugar designado
nessa grande transformação.
E para que a tarefa seja bem desempenhada
e o tarefeiro tenha certeza do papel que está representando, é necessário, é
imprescindível que ele desde já se reforme, batalhe consigo mesmo, lute e faça com
que o homem velho sucumba para dar lugar ao homem novo; que surja cheio de
vigor, cheio de esperança, cheio de fé. E onde deveis buscar esse elemento de força)
de vitalidade para, empreender esta campanha extraordinária, a mais
extraordinária talvez de que os vossos espíritos tenham tido consciência?
No Evangelho, nesse Evangelho que fez a grandeza dos
vultos a que os vossos corações vêm aqui reunidos trazer um preito de estima e admiração.
E eu, peregrino, embora libertado da carne, tendo a visão mais nítida e
perfeita das coisas de Deus, julgo-me sem merecimento algum sequer para
pronunciar os nomes de Pedro e Paulo! Que poderei dizer das suas individualidades?
O que vos posso dizer é que um
representa tanto amor, tanta caridade e o outro tanta fé que é cedo, muito cedo
para poderdes compreender a extensão de tais predicados neles. Só no dia que a humanidade
acordar deste sono em sono em que está mergulhada, no dia que ela despertar para
a realidade das coisas, então, compreendera a grande obra de Pedro e Paulo .Sem
medo, sem receio direi: eram precisos esses dois vultos para que o Evangelho de
Jesus fosse propagado na Terra; eram precisos esses dois corações aliados,
esses dois cérebros extraordinários, para que o homem tivesse certeza de que
Jesus viera ao mundo e legara à humanidade
o seu código de amor, de verdade e, sobretudo, de caridade.
Novos Paulos, outros tantos Pedros deverão
surgir, não que se precise converter gentios, não que se precise de nova pedra
angular para a Igreja de Jesus, mas porque se precisa de novos Paulos e novos Pedros
da fé, pelo sentimento e pela razão.
E no dia que assim suceder, e no dia
que esses novos arautos surgirem, pode-se perfeitamente dizer que nesse dia começou
a felicidade do mundo.
É preciso que se fale com franqueza:
espíritas, é preciso que se pregue com amor, sim, mas com energia também; já é tempo
de se cuidar melhor das coisas de Deus. Sabeis que muito se pedirá a quem muito
se houver dado ... E quem mais tem recebido do que os representantes da Boa
Nova?
É preciso agir, é preciso trabalhar.
Que temos feito?
Eu vos respondo, muito; mas tendes
necessidade de fazer mais, muito mais. Fazer com o vosso vizinho, com o vosso
próximo em geral? Sim, mas antes fazer convosco mesmos.
Sabeis
que a misericórdia de Deus sempre está em contato com as vossas consciências: e
no entanto, às vezes, com tristeza vemos os vossos desfalecimentos.
Pergunto: os estudantes do Evangelho
devem ou não devem ter fé? Sabem ou não sabem que jamais serão desamparados por
seu Mestre?
O divino Mestre tem os olhos
voltados para a humanidade inteira e se a humanidade sofre, geme e chora, é porque
lhe tem voltado completamente as costas.
Vós outros, porém, desde que abrais vossos
corações, desde que a vossa penitência seja verdadeira, eu vos garanto categoricamente
a sua misericórdia para que sintais o alívio, o bálsamo consolador que cura
todas as feridas, todas as lepras inclusive a lepra da consciência culpada.
Perdoai-me esse arrebatamento, eu
falo assim convosco e não poderia ter a mesma linguagem que os demais, porque m’s
permitis e sobretudo porque me amais.
Unido a vós por um passado tão
longo, porque deixaria de falar desta maneira quando se comemora o espírito dos
representantes máximos da fé, dessa fé que representa a franqueza, a lealdade?
Aceitai, meus companheiros, o que
vos digo neste momento, como penhor máximo da minha estima.
Dia virá no qual todos unidos, cá em
cima, continuaremos a trabalhar, preparando a nossa volta e esse mundo que hoje
habitais.
Vamos pedir a Deus, vamos rogar a
Jesus e sobretudo ao Anjo Tutelar da humanidade, que é Maria, para que, quando
tivermos de voltar novamente, as condições dos nossos espíritos sejam outras;
para que possamos sem desfalecimento, sem tibieza, sem fraqueza, sem esmorecimento
de qualquer espécie, apresentarmo-nos de viseira erguida a luta e dizer:
Senhor, cumpra-se em todos nós a tua santa vontade!
Ainda duas palavras:
Os olhos do mundo estão voltados
para a doutrina de Jesus e vós, como seus representantes na Terra deveis vos
conduzir com o máximo critério em todos os atos da vossa vida, para que ninguém
lance sobre a doutrina de Jesus, em virtude dos vossos desatinos e acertos, o ridículo.
Tende cautela, as perseguições continuam
incessantes, todos os meios são lícitos para os nossos inimigos e eles só contam
com um único elemento de triunfo: a vossa fraqueza.
Sede firmes, sede fortes, examinai
bem as vossas consciências, e por esta forma não deixeis aberta a porta, para
que o lobo traiçoeiro não entre no redil.
Sede estudiosos, sede amorosos, notai
bem: praticai a caridade da alma, o amor sincero e eu vos garanto mais uma vez
que a assistência dos vossos amigos e protetores será um fato.
Nas horas das vossas dores implorai
a esse espírito amoroso a sua proteção e eu vos asseguro, meus amigos, ele virá
em vosso socorro. Refiro-me a Maria.
Que a misericórdia de Deus baixe sobre
vossos espíritos e vos faça compreender que ama-lo é vosso primordial dever.
Bittencourt Sampaio
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